terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dia 1 - Aceitando.

Não tenho o que falar. Nem sei porque estou aqui, na verdade. Meu tempo esgotou, mas isso não me importa muito. Tenho alguns dias de cabeça vazia e só.

Eu tinha uma teoria muito boa sobre quando deveria sentar a bunda numa cadeira e colocar umas palavras para fora de mim. Era algo sobre escrever quando não estou bem e não escrever quando estou bem. A felicidade é tão colorida que dispensa qualquer descrição. Já a palidez dos dias tristes... sempre trazem bons conteúdos. Melancólicos, tortos, exagerados. Ando num estado de inércia tão claro que não vejo cor ou palidez. Ultimamente não vejo nada.

Hoje, nada como de costume. Comprei uma passagem para minha cidade natal. Uma para ir. A de volta quase não comprei. Talvez devesse ter feito a compra pela metade para que eu estivesse completa. Talvez não devesse ter vindo para início de conversa. De um lado ou de outro, estarei sempre pela metade. De um lado pago o preço com frustrações. De outro, com solidão. Hoje não sei o que conseguiria aguentar. Talvez se não tivesse comprado a passagem de volta, estaria frustrada e sozinha. A questão não é nem estar sozinha, ah, se fosse.

Eu nunca achei que seguraria tanta lágrima na vida. Nunca achei que fosse capaz de caminhar durante meses sem esquecer um só dia. Nunca achei que o que está em mim agora viveria tanto tempo. Nunca achei que seria assim. Nunca achei que perderia de forma tão devastadora como perco a todo minuto. Perco de mim, dos outros, dos amados. E só perco, sem ganhar um dia só.

Eu costumava dizer que estava aos cacos, mas agora nem a eles consigo enxergar. Se não consigo ver, fica impossível juntar. Perdi tantas vezes o caminho de casa que me acostumei a não chegar a ela. Vou pingando pela cidade que me engole cada dia mais, sem objetivos ou vontades verdadeiras. Pingando, acho que é isso. Apareço de repente, deixo uma marca diminuta e logo desapareço com o vento que me carrega sem esforço.

Viver de imaginação não chega a ser vida, eu acho. Me disseram que temos que viver um dia de cada vez ou, pelo menos, sobrevive-los. Acho que o que eu faço é sobrevoar... nem viver, nem sobreviver. Sobrevoar. Sobrevoo os dias, com a graça de um ornitorrinco hibernando. Ao menos ainda faço graça, mesmo sem graça assim. De outra forma, acho que nem estaria aqui.

Se pudesse dormiria as tardes e noites em razão de chegar logo o dia em que tudo isso passaria. Não tenho muito mais o que sonhar agora. Só sei perder. Tive minhas chances de ganhar, mas perdi também. Ganhei muito, muitas lutas, muitas batalhas... mas a guerra, quando acabou, tão para sempre como o infinito, teve a minha alma como derrotada. E em estado de derrota, completa ou pela metade, isso não importa, ela se encontra há tanto tempo que eu talvez não saiba mais ver o lado bom que tudo oferece. Ainda sei, fato, mas não para mim.

Há tempos fico quieta, talvez esteja pagando pelos meus tantos erros, feios. Mas fico quieta por um motivo tão especial quanto morrer. A felicidade, a minha, não é mais o que me importa. Se o preço que pago hoje é para que os que amo sejam felizes, que assim seja.

O amor é a felicidade e o tormento dos tolos. E eu só sei ser assim.

Um comentário:

Claudia Bittencourt disse...

Também tinha essa teoria sobre não escrever na felicidade. Tinha esquecido disso... Tenho sentido vontade de escrever, talvez isso não seja bom.

Gosto de pensar numa frase daquelas que a gente escrevia pras amiguinhas na sétima série. "No fim, tudo dá certo. Se ainda não deu, é porque não chegou ao fim".

Torço para que não se perca pelos prédios altos da cidade, nem se intoxique pelo ar cinza... Só respire e saiba que, quando quiser, há um lar te esperando com festa.

Calma e força, meu amor. :*