sexta-feira, 13 de abril de 2012

O moreno de calça jeans.

Um clichê, um desencontro encontrado, um ingresso errado e logo o mar de grama verde se abriu para mim numa estrada de chão com cascalho (palavra perdida achada por uma pausa textual) cheia de vacas, vários tipos de vacas, alguns bois, muitos bois, mas mais vacas que bois e um suspiro choroso de chegar ao paraíso. Novamente, o paraíso que foi meu um dia e que será meu um dia.

Sempre começa com um clichê, amor de elevador, amor de carona, amor de ódio, amor do campo, o meu foi desses, que começou doce como um quer namorar comigo sem antes pegar nas mãos. Amor, não sei, amor? As borboletas são reais, como o meu suco gástrico, romanticamente falando, só que não. As borboletas existem, mais de mil milhões, e batem frenéticas suas asas leves dentro de mim, um estômago malcuidado, sofredor, lutador, enjoado. E batem, sem parar, sob minha pele, tecido adiposo, suor. Batem sob meu trabalho e batem durante todo o dia, enquanto canto, enquanto ando, enquanto tomo.

Tomei uma banda da vida há pouco e ela logo me recompensou com mil milhões, mais de mil milhões borboletas. Coloridas, elas são lindas. Esvoaçantes, meio perdidas. Ficam loucas quando veem a pele morena, sem camiseta de calça jeans, o sorriso aberto, o cabelo para cima, as mãos grandes. Amor, não sei, amor? Coisa boa, coisa que nunca mais achei que sentiria, tantas, tantas, borboletas durante tantos, tantos dias. E o telefonema, e o DDD de outro estado, o sotaque engraçado, lindo, a voz macia, o carinho estampado no tchau simples, difícil de desligar, desconectar, sair, parar de pensar.

Me enrolei no cobertor e coloquei meu banco ao lado da cadeira dele.
O abraço durou a noite inteira, um abraço e só.

Marcou o início, outro início, mais um.
Sempre um abraço iluminado pela noite clara, uma outra inesquecível noite clara.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Avisa.

Falho sempre nas minhas missões de escrever todos os dias. Às vezes marco os domingos, às vezes as quartas e os assuntos são sempre os mesmos. O assunto é sempre o mesmo. Quero sempre falar de mim, do que tem aqui dentro.

Sei que segui em frente quando passo quatro dias inteiros aproveitando cada momento presente, ali, sem pensar no longe, sem olhar pra outro mundo além daquele. O peixe com sabor de caranguejo, a companhia de amigos de infância, o carro passando rápido pela poeira avermelhada, com sabor de calor e terra amada, a cerveja gelada da quinta-feira e do domingo e nada mais além daquilo ali, comigo.

Sei que segui em frente quando o coração começa a bater mais forte por outros motivos. Bate mais forte pela corrida a cavalo de short molhado, ou por um moreno de calça jeans sem camisa, com o sotaque gostoso de interior. Bate mais forte por gostar, finalmente, de uma comida bem apimentada, que faz a cabeça doer, a língua queimar, o desejo pela vida fluir, sem passado, sem futuro.

E começou com o salto no rio, o banho na bica, o calor de rachar mamona. Finalmente, finalmente, sentir tesão por uma vida plena, sem sofrimentos, sem amor de matar, sem chorar por alguém que nunca vai voltar. Sei que segui em frente quando consigo dormir pensando em trabalhar, sei que segui em frente quando paro de sonhar com a mesma pessoa toda santa noite.

E ouvir forró, dançar forró, cantar um reggae, rebolar um samba, zoar um funk, gritar bem alto um sertanejão apaixonado, viver todos os momentos que combinam e que não combinam com a minha educação, minha cultura, meu modo de ser. E ser, apenas, sem rótulos, sem saco para rótulos! Que eu não sou embalagem, sou recheio!

E sou o tempero dos meus dias, me desculpem os outros. Eu que acho a graça onde não tem, eu que beijo o mundo que eu quiser e agarro minhas pernas com força para que elas andem e continuem sem que ninguém precise me guiar ou me levantar.

E soltar o coração, desamarrar, deixar em paz, um coração que batia por um e que agora tem um lugar vago, dois, três, prontos para serem preenchidos por emoções, pessoas interessantes, momentos marcantes, lugares inesquecíveis. Felicidade simples, essa minha, de sorrir só por estar viva e livre cheia de sentimentos deliciosos, fantásticos, vitoriosos e macios como seda. E trabalhar, e estudar, e crescer, e deixar que o mundo me alcance deliciosamente, que me pegue pelas pernas e me chame pra namorar.

Que delícia namorar um fim de semana ensolarado, um corpo molhado de suor ou de água fresca, namorar um beijo cheio de carinho e uma noite inocente com sono no colchão da sala, naquela solidão fofa de simplesmente dormir e sonhar. Acordar com um sorriso, ver a floresta logo ali, no alto dos morros verdes, longe onde os montes ficam azuis a encostar num céu tão lindo que dá dó de ser gente. E ainda ter todas as obrigações em dia, ajudar numa louça, caber num feriado redentor. Ah, que delícia poder pensar num mundo perfeito que existe bem logo ali a menos de 200 km de estrada boa, rapidinho chegar no pedaço de paraíso.

Dá gosto de voltar a trabalhar depois de um descanso assim. Um amor que brota, devagar, dá um impulso tão imenso quanto minha vontade de ser melhor a cada dia. E eu sei que segui em frente quando descobri que quero que esse amor cresça e seja alguma coisa em mim.

Que me desculpem os fracos, eu sou forte de pensar numa vida bela.
E que seja doce.