quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Zero to Hero, just like that.

Me passa o mundo pela cabeça. O mundo de ciclos, de interferências, de seres indo e vindo a toda direção e a todo momento.
É quando meu medo se intensifica ao olhar pela janela um mundo de atos desconhecidos, um mundo de atores e direções.

E vejo que tudo é em vão, esse medo constante de pular o muro no sentido da vida.
É quando acordo e vejo tudo transparente.
É quando vejo que não sou só eu que luto, que não sou só eu que tento, que trabalho, que pratico o bem social.
É quando vejo que preciso das pessoas e que elas precisam de mim.
É quando enxergo meu egoísmo e o desfaço em partes pequenas que se escondem no meu interior mais íntimo.

Prefiro erguer meus braços e lutar pelo amor.
Aquele amor que precisa de espaço, aquele amor que precisa de seu tempo.
Aquele amor que precisa de todo o meu apoio.

Pefiro respirar fundo e descartar ócio inventivo, aquela coisa que paira sobre tua cabeça e te causa inúmeras dúvidas e desconfianças.
Prefiro mergulhar nos abismos de cada pessoa que me rodeia, a ter que filtrar minhas companhias.
Prefiro evoluir com alegria a ter que me destroir em agonia.

Por isso parei de ter pressa no trânsito. Parei de furar sinais vermelhos. Parei pra olhar o mundo lá fora e conhecer as grandiosidades que um dia fizeram os grandes. Parar e ver a grama escassa, que luta como qualquer um pra conseguir seu lugar no paraíso.

É transformar meus dias em paraísos fracionados.
Cheios de tudo, porque paraíso também contém suposto pecado.
Também contém maçãs e contato.
É agora transformar minhas aflições em reflexões profundas e me conhecer como me conhece alguém.
É parar de tentar acelerar o tempo, é parar de pedir pro sinal abrir.

Agora é parar e começar do zero.
Não que eu queira salvar o mundo.
Quero salvar a mim e a tudo que cruza meu caminho.

É como o jardim secreto adormecido.
Basta que alguém rasgue uma planta para encontrar a seiva verde e fazer florescer todo o jardim.

E seremos flores, todos flores com a diferença dos pés.
E no termo bem ultrapassado, semear conhecimento, inteligência e aquela palavra engraçada.
Sapiência.

Pois que seremos heróis da própria história, plantas com pés.
Cores marcando os pedaços de caminho.

Pois que seremos a própria vida móvel cruzando outras vidas e encostando nelas propositalmente ou não, para gerar mais caminhos certos.


Definitivamente certa, linda e convincentemente alerta.
Enfim, vida.
Seja bem-vinda em toda a sua força e glória.

Pois que seremos tudo.
Se juntos estivermos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Eu não posso reagir. Já dizia um amigo meu que essa cidade engole as pessoas, não deixa essa cidade te engolir, ele me disse uma noite. Pela Europa hoje ele mal deve se lembrar das palavras bêbadas que escreveu. Não vou deixar que ela me engula, pensei. E não deixei, porque o que acontece na realidade é o inverso. As pessoas são obrigadas a engolir a cidade.

A gente engole o mau cheiro, o trânsito engarrafado, abarrotado, as ruas em buracos determinados a ficarem maiores a cada dia. Dizia que os carros brincavam de corrida de faróis, mas o que eu avaliava realmente era os faróis mais interessantes. O design.


Quero dormir e só.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia 7 - Saindo.

Boa tarde, desemprego.

Vontade de encher de qualquer jeito as malas que nunca usei com minhas tralhas, colocá-las dentro do carro e voltar para casa. Percorrer os mais de 1000 km até achar uma solução. Até passar.

Agora posso usar esmaltes de qualquer cor e pintar meu cabelo. Posso correr no Ibirapuera a hora que quiser e fazer circo, aula de canto, aula de dança. E tudo isso era mesmo o que eu queria antes de me apaixonar pelo meu trabalho. Me apaixonei por aquele teatro, por aquelas pessoas, pelos espetáculos e pelas inúmeras horas de ensaio, enfurnada, tomando bronca, aprendendo, crescendo. Crescendo. E gostaria de ter que continuar abrindo mão das minhas horas de menina para ser uma mulher no palco. Gostaria que o sonho tivesse continuado, um sonho de dezessete pessoas que ficaram sem chão de um dia para o outro. Abriria mão de andar sempre arrumada para poder continuar sendo valorizada, sem maquiagem, sem unhas feitas, como era naquele lugar.

Perdi de novo.

Poucos meses foram o suficiente para que o mundo que eu conhecia sofresse uma reviravolta. Para melhor... e agora parece que tenho que colocar meus pés nas minhas próprias pegadas e voltar. E fazer o caminho de volta. E... bom. Não sei mais o que é melhor para mim.

É recente. Ontem tinha um emprego bacana, chefes inigualáveis, um palco todos os dias. Hoje me sobraram mais espaços para preencher...

Como todos os outros dias, continuo sem saber pra onde. A diferença é que hoje também não sei como. E como todos os outros dias, eu vou.

Vamos ver no que vai dar.

Dia 6 - Sonhando.

O filme foi horroroso, confesso. Gosto de pancadarias e muita ação, mesmo que a história não seja lá essas coisas. Poderia ter me distraído com outras coisas, mas preferi panguar e tentar entender o filme que entendi mesmo, mas que não me agradou. Outras coisas valeram mais a pena. Conversar, rir e falar... talvez nunca tenha falado TANTO na minha vida. Frozen yogurt, pipoca, suco de uva aguado e hot dog sem molho, sem nada. Valeu, sim.

Foi um domingo frio, meio confuso e rápido. Rápido demais.

Voltei para casa com o aquecedor ligado, tentando não pensar no jeito estranho em que as coisas acontecem. Sem prever nos envolvemos, acreditamos, vivemos, convivemos, rimos e logo começamos a contar segredos, brigar, brincar e tentar entender tudo a nossa volta, mesmo que de longe.

Fui dormir tranquila. O trabalho me esperava sorrindo no dia seguinte.

domingo, 30 de outubro de 2011

Dia 5 - Compensando

Pulei a quinta e o sábado, como se fosse fácil falar. Não parei em casa por motivos tão óbvios quanto o cair da tarde. Dormir na sala que não é minha e correr no parque foram destaques de um fim de semana agitado, quente e revigorante. Minhas pernas doem, mas cada passo rumo à praça do porquinho duas vezes valeram a pena. Quatro vezes, digo.

E a tarde teima em cair... Os dias duram mais no verão mesmo que ainda seja primavera. Ajustamos nossos relógios para ver o sol mais um pouquinho ou para acordar com ele ainda dormindo, o que não é o meu caso. Ainda é primavera e nada melhor do que passar rápido pelas árvores floridas de cores intensas que minha mãe tanto gosta e quase parar para ficar olhando e relembrando dos tempos em que tínhamos árvores nossas. No fundo, aquelas árvores que ficaram em terreno longe daqui serão sempre nossas. Plantamos, nutrimos e fizemos com que elas crescessem lindas e fortes. Árvores em que amarramos nossas redes, contamos segredos e deixamos para trás muito a contragosto, apenas pela necessidade de seguir.

Neste horário de verão na primavera, prefiro pensar que estou esticando os dias com sol. Hoje, domingo, chove. Mas vou ao cinema, tomar um chocolate quente, quem sabe, seguir meu rumo da melhor forma que puder. Parece que já anoitece... mas é dia ainda e vou por meus pés na estrada e caminhar, mais um dia, mais uma vez com mais uma prece no olhar.

Dia 4 - Fugindo

Quando o santo bate é mais forte que a bagagem de mágoa que se tem nos ombros. Bate e pronto. Entrega-se como se nunca tivesse sentido dor, como se passado não existisse.

A intensidade é o que nos faz mais sensíveis ao toque, às palavras gentis, à beleza. E caímos. Arrebatados caímos sem ver. Quanto notamos, passamos dos limites terrestres e entramos no mármore do inferno. E nos deixamos lá, até que uma nova manhã se abra e o ciclo recomece.

Alcancei uma única solução quanto a isso.
Deixo-me queimar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dia 3 - Correndo.

Três horas no trânsito e o calor dessa cidade permanecendo mesmo à noite. Suando pelos viadutos e faróis, procurava o de sempre: um espaço preenchido. Cheguei quando tudo havia terminado e sobravam apenas as pessoas sorrindo para as vitrines, livros, outras pessoas.

Quente, quente demais. Das vitrines do shopping passamos às mesas e milkshakes tamanho P, hambúrgueres sem o molho prometido e voltas e mais voltas sem sentido, até concluir uma conversa sobre ir para outro lugar. Eu queria muito tomar alguma coisa mais gelada que um milkshake tamanho P.

Barxaréu, o nome do simpático barzinho de esquina em uma das vilas que sempre confundo umas com as outras. Madalena, Mariana, Guilhermina, vilas. Também não sei ao certo em que ponto cardeal a vila se agitava numa das ruas cheia de outros bares. Bom foi sentar e tomar gelado. Depois de muita conversa e horas passando rápido demais, a hora de voltar pra casa chega. Ainda me admiro, todos os dias, com a beleza de todos os tipos de cenários daqui.

Abraço, beijo, abraço e casa. Acabo me esquecendo dos dias e das palavras em gerúndio que deveria colocar por aqui como título de um próximo texto e me deixo descansar até o dia seguinte de tarde. Tarde demais.

Corri e tentei preencher o que faltava em mais um dia de caminhada. Hoje são outros planos, outras vidas, outras corridas. Me encontro no estado em que todas as palavras parecem vãs. A única coisa que faz algum sentido para mim agora é dizer que estou indo. Para onde e em qual velocidade, eu não sei. Mas estou. E não vou parar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Dia 2 - Conectando.

O calor estava excessivo hoje. Torrei durante boas três horas dentro do carro 1.0 sem ar condicionado por uma das avenidas mais congestionadas da cidade. Por um excelente motivo, é claro. Ultimamente não tenho me disposto a fazer nada sem um bom motivo.

Estaquei. Falta música, acho.

I Still Haven't Found What I'm Looking For - U2

Não estou reclamando, nunca estou. É uma coisa minha.

Still - Foo Fighters

If you'd like to walk a while we could waste the day
Follow me into the trees, I will lead the way
Bring some change up to the bridge, bring some alcohol
There we'll make a final wish just before the fall

Watch the sunrise all alone, sitting on the tracks
Hear the rain come roaring in, never coming back
Laying quiet in the grass, everything is still
River stones and broken bones scattered on the hill

Here forever deep beneath the dirt

Continuei andando, mesmo com o tempo quente. Continuei procurando o que não sei bem ser quem sabe meu. Continuei em frente, subi correndo a ladeira, e fui daquele jeito sem ver. E só enxerguei ao chegar perto. Voltar a dar os sorrisos furtivos, sozinha, é bem melhor do que deixar nos cantos da casa pedaços de uma personalidade que só é minha nos invernos mais rigorosos.

Voltei aos tempos de duplicidade. Se não posso ter o que quero, bom, tenho que querer alguma coisa. Alguma OUTRA coisa. De longe ou de perto, continuo andando, subindo ladeiras, tomando sorvete com calda extra e torrando no sol de meio dia na avenida.

Antes queria muito pouco, quase nada. Agora que perdi, quero tudo o que vier pra mim.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dia 1 - Aceitando.

Não tenho o que falar. Nem sei porque estou aqui, na verdade. Meu tempo esgotou, mas isso não me importa muito. Tenho alguns dias de cabeça vazia e só.

Eu tinha uma teoria muito boa sobre quando deveria sentar a bunda numa cadeira e colocar umas palavras para fora de mim. Era algo sobre escrever quando não estou bem e não escrever quando estou bem. A felicidade é tão colorida que dispensa qualquer descrição. Já a palidez dos dias tristes... sempre trazem bons conteúdos. Melancólicos, tortos, exagerados. Ando num estado de inércia tão claro que não vejo cor ou palidez. Ultimamente não vejo nada.

Hoje, nada como de costume. Comprei uma passagem para minha cidade natal. Uma para ir. A de volta quase não comprei. Talvez devesse ter feito a compra pela metade para que eu estivesse completa. Talvez não devesse ter vindo para início de conversa. De um lado ou de outro, estarei sempre pela metade. De um lado pago o preço com frustrações. De outro, com solidão. Hoje não sei o que conseguiria aguentar. Talvez se não tivesse comprado a passagem de volta, estaria frustrada e sozinha. A questão não é nem estar sozinha, ah, se fosse.

Eu nunca achei que seguraria tanta lágrima na vida. Nunca achei que fosse capaz de caminhar durante meses sem esquecer um só dia. Nunca achei que o que está em mim agora viveria tanto tempo. Nunca achei que seria assim. Nunca achei que perderia de forma tão devastadora como perco a todo minuto. Perco de mim, dos outros, dos amados. E só perco, sem ganhar um dia só.

Eu costumava dizer que estava aos cacos, mas agora nem a eles consigo enxergar. Se não consigo ver, fica impossível juntar. Perdi tantas vezes o caminho de casa que me acostumei a não chegar a ela. Vou pingando pela cidade que me engole cada dia mais, sem objetivos ou vontades verdadeiras. Pingando, acho que é isso. Apareço de repente, deixo uma marca diminuta e logo desapareço com o vento que me carrega sem esforço.

Viver de imaginação não chega a ser vida, eu acho. Me disseram que temos que viver um dia de cada vez ou, pelo menos, sobrevive-los. Acho que o que eu faço é sobrevoar... nem viver, nem sobreviver. Sobrevoar. Sobrevoo os dias, com a graça de um ornitorrinco hibernando. Ao menos ainda faço graça, mesmo sem graça assim. De outra forma, acho que nem estaria aqui.

Se pudesse dormiria as tardes e noites em razão de chegar logo o dia em que tudo isso passaria. Não tenho muito mais o que sonhar agora. Só sei perder. Tive minhas chances de ganhar, mas perdi também. Ganhei muito, muitas lutas, muitas batalhas... mas a guerra, quando acabou, tão para sempre como o infinito, teve a minha alma como derrotada. E em estado de derrota, completa ou pela metade, isso não importa, ela se encontra há tanto tempo que eu talvez não saiba mais ver o lado bom que tudo oferece. Ainda sei, fato, mas não para mim.

Há tempos fico quieta, talvez esteja pagando pelos meus tantos erros, feios. Mas fico quieta por um motivo tão especial quanto morrer. A felicidade, a minha, não é mais o que me importa. Se o preço que pago hoje é para que os que amo sejam felizes, que assim seja.

O amor é a felicidade e o tormento dos tolos. E eu só sei ser assim.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Almost dry.


A fonte secou. Se volta a florescer ninguém sabe, ninguém viu. O amor morreu de solidão. Se é coma desmaio ou morte, ninguém sabe mesmo dizer, eu só sei sentir que fugiu aqui. Fugiu aqui! Ali, e ali também. Meu cérebro agora tem nome, Miscelânea, mistura de várias coisas avulsas sem rótulos fidedignos. Não sabe se vira pra esquerda, se vira pra direita, se aparece, se some, se vai ou se volta, se ama ou se revolta. Se vai embora, se falece. Se esquece. Como se tentar significasse conseguir. Cansei de tentativas vãs.

Sigo descalça.
Se para sempre ou logo mais, é muito para saber.
Sei que ainda vou descalça. Até que a solidão não valha mais a pena.

Vou descalça e volto descalça se precisar.
Cansei, mas não parei ainda. Vou tentar.

V.I.P.



Very... nothing.
Embriagada de faltas, apertou o tavesseiro contra o queixo e começou a contar. Um, dois, três dias, três letras, três falhas, um dois três, e nada mais que três. Pontes, medalhas, posições. Passou os dias numa cama entulhada de tecidos, metais, eletrônicos, escritos, roupas de baixo, sem pensar ao certo onde devia se encaixar, se na bagunça ou na mais bagunça ainda. Tentou abstrair, olhar para a partitura, ler os livros de atuação, mas cansou de leitura a primeira vista, já sabia atuar de cor. Queria o que não lhe pertencia e cansada de se ler apertou ainda mais o travesseiro, afundando boca, nariz e olhos sem querer respirar.Perdeu os sentidos e sonhou com álcool, melanina, cachos. Errou o caminho de casa, foi parar em outros casos, complicados, atados, despidos, desfeitos... foi parar em si quando já não havia mais feiura para ver. Viu tudo o que o sonho sem pudor propôs e se declarou culpada por sonhar assim. Queiós. Caos. Maus pressentimentos... passou batido pelo ônibus, pegou o metrô, arcou com o empréstimo, caçou labuta onde labuta não existia em dicionário, se negou. Repeliu. Foi onde viu que estava fazendo tudo errado uma outra vez. Abriu a boca para falar o que não deveria, agiu como temia e beijou paredes.

Stay With Me


Reclamei tanto que fiquei sem o que reclamar. Perdi.
Perdi os dias calmos e os atribulados. Perdi o bom e o mau tempo.
Perdi a cama pequena demais para dois e o bom dia arrastado preguiçoso que não saía de mim.
Ficou para trás as pequenas coisas. E as grandes também.

Afogada nos livros que me bombardearam desde a sexta trágica me deito sem dormir.
E logo durmo, sem sonhar. E logo, pesadelo.
Pessoas que não conheço, ritmos que não sigo, lugares que nunca visitei.
É um futuro, próximo, escalpelado e na tora que virá.
Sem resquícios. Talvez por isso tenha perdido. O controle e todo o resto.

Perdi para começar vazia.
Mas esvaziei-me sem querer.
Agora, não quero mais me encher.
Me encher do que não confio, me enxer do que não convivi, me encher do novo.

PORQUE TENHO MEDO.
Aquele medo que queima os ossos da testa e a ponta do nariz.

Vou pintar as unhas, mudar a forma de arrumar o cabelo, esquecer de mim.
Porque eu não pinto minhas unhas, e não mudo a forma de arrumar o cabelo.
Essa não sou eu... eu rôo as unhas e arrumo sempre do mesmo jeito.
Cada arrumação, uma ocasião.
Talvez deixe de arrumar. E esquecer de mim.

Vou tingir o cabelo de loiro e rosa. Ficar diferente.
Vou beber mais, dormir menos e... sei lá.
Vou evitar corar quando sentir vergonha.
Vou evitar sentir vergonha até não sentir de fato.

Não é que eu não queira viver mais, entenda.
Só não quero ser eu.
Porque eu não pinto o cabelo, eu não corto o cabelo, eu não sou assim...

Queria voltar atrás e saber ganhar.
Só aprendi a perder e me acostumei com a derrota.
É preciso ter coragem para amar.
Esta, ah, esta eu perdi também.

Meu amor ficou em outra estação.
Talvez numa outra primavera, num velho verão.

Resgatando rascunhos.


24/08/09

Não escrevi mais porque estava bem. A surpresa era justamente essa. Porque, se se lembrar bem, eu disse: escreveria até me curar. Me curei e não escrevi. E foi temporário, como o fogo. O fogo de abrir portas, de dividir o peso, de estender a companhia até o estacionamento. O fogo de pedir desculpas e admitir um erro simples. Esqueceu, tá esquecido. Pediu desculpas e acabou. Esquecer não esqueci, mas já providencio. É que os sorrisos não são mais verdadeiros ou plenos. Palavras são importantes sim mas, para mim, não fazem o menor sentido quando não são consolidadas. Gestos são importantes sim, mas não fazem o menor sentido sem a admissão verbal do sentimentos. Ainda mais com alguém tão tapado como eu.

06/03/10

Síndrome dispéptica.

Meu coração está em chamas.E isso pode significar muita coisa.Subi as escadas e deitei na cama, o sono veio com pressa e me derrubou as pálpebras.Sem reclamar sonhei. Há tempos não sonho um sonho bom.


quarta-feira, 29 de junho de 2011

À distância.

- Mas ele tem pêlos.
- Eu daria tudo por aquela bola de pêlos aqui do meu lado.
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Todo mundo já sentiu o coração apertar como se fosse envolto por mãos fortes o tempo inteiro. Nunca entendi a relação física e química entre corpo e sentimento, batimentos cardíacos, amor, ciúme, compaixão. Nem cheguei perto de querer entender, sabia que sentir bastava. E aqui estão mente e corpo lutando entre si para seguir com passos firmes nas calçadas íngremes e esburacadas de uma grande cidade.

Todo mundo já riu sem entender de pessoas falando sobre os defeitos de outras. Alguns defeitos começam a parecer qualidades e tudo que possa mudar essas qualidades agridoces parece ser errado, invasor, equívoco, hilário. É quando os pêlos se tornam macios; o suor, refrescante; a saliva, a escada para o paraíso; os lábios ávidos, o ápice do carinho. As pernas tortas sempre foram um charme, os olhos escuros um suspense a desvendar, as mãos grandes cheias de calo um conforto no cabelo ralo. A postura... de um príncipe particular. O sorriso sem encaixe a oitava maravilha do mundo. E outras coisas bem cafonas que gosto de ressaltar com muita doçura nas minhas lembranças.

Todo mundo já sentiu pelo menos uma vez na vida o gosto de sonhar com um romance épico. Todo mundo já pegou um avião querendo que alguém tivesse se interposto entre as máquinas de raio-x e o portão de embarque. Todo mundo já desembarcou achando que do outro lado da esteira de bagagens alguém estaria aguardando. Todo mundo já viajou de ônibus, avião ou carro querendo uma mão para segurar quando a coisa ficasse feia. Alguém para compartilhar o terço, o anjo, o sinal da cruz, a oração.

Todo mundo já imaginou onde gostaria de se casar e como gostaria que a pessoa que dissesse sim fosse. Todo mundo já sentiu o mundo desabar quando todos os planos de tantos anos a frente foram deixados no passado e que não tornariam a se reerguer nem por um decreto. Todo mundo já viu o romance ceder, o amor acabar, o fogo apagar, o cupido errar, o respeito ir por água abaixo, o mal tomar lugar, o fim vencer. Todo mundo já viu. Alguns por alguns momentos, outros de uma forma diferente, muitos já sentiram várias vezes, mas essa é a minha primeira vez.

Eu ainda não aprendi a não esperar uma ligação no final do dia ou no início do outro. Ainda não aprendi a como esperar que outra pessoa possa ser melhor ou igual ou semelhante ou diferente, nem consegui pensar em outra pessoa ainda. Ainda não aprendi a separar a razão do fim e o fim da razão, não sei como beber água sem ouvir a voz que sempre sorria ao me ver com um copo na mão. É triste, eu sei, estou escrevendo sobre isso e provavelmente não publicarei. Mas é verdade e raramente escondo minhas verdades. Eu bem tento, É VERDADE. Mas é verdade também que nunca tenho sucesso. É verdade, todo mundo sabe, por que esconder, então?

Deixa estar... todo mundo já viu tudo isso acontecer, mas essa é a minha primeira vez. E vejo beleza nisso tudo. Tantos erros que vou deixar de cometer, tantas vidas vou deixar de atazanar porque aprendi, aliás, ainda não. Estou aprendendo.

Todo mundo sabe como é cafona e antiquado falar de amor. E eu, deselegantemente, me descasco sem dó. Já está tudo no passado mesmo. Tem que ficar no passado, eu me repito todos os dias, mas todos os dias olho minha caixa de e-mail procurando um nome específico, espero uma mensagem ou, ACREDITEM, olho minha caixa de correio descartando as contas a primeira vista. Sei que é o melhor para mim estar aqui, viver aqui, mas iria para qualquer outro lugar se assim fosse pedido. Todo mundo sabe como o amor tem uma mágica indecente de querer nos tatuar, nos mudar, nos marcar, machucar, fazer sacrifícios econômicos ou de necessidade básica como comer ou ir ao banheiro.

Todo mundo sabe como é adiar aquele xixi para ficar alguns minutos a mais no telefone. É feio dizer, mas estaria mentindo se dissesse que assim não foi. E mesmo quando os anos passaram tão rápido que não parecem anos e sim meses é que a gente pára pra pensar no que foi ruim e no que valeu a pena. E pensa que queria voltar no tempo e fazer tudo de novo para ser perfeito desta vez. Para não poder reclamar, não sentir ciúme, não brigar, não jogar os sapatos pro alto, não se jogar para a parede e se cortar na janela. E tenta pensar que não pode ser assim, que não pode ter terminado assim e pára pra ver que a gente fez com que tudo fosse assim. Nem de tudo foi minha culpa, mas a maioria, talvez? E pensa no quanto quer ser melhor, no quanto quer crescer e quer se dar um tempo, mas sabe que tempo de ninguém espera mais. Não quando tudo se foi assim. E tenta pensar que talvez, quem sabe talvez, se se mostrar melhor, se tentar mais forte, se tentar mais vezes consigo, se conseguir dirigir a própria vida num ritmo saudável tudo melhore, o amor volte e tudo seja não como antes. Que tudo seja melhor como antes.

E começa a ver que esse caminho para ser melhor deve ser vivido com essa espera que não termina. De outro modo não haveria evolução. Ter a certeza de um futuro seria viver na inércia, esperando um novo tempo chegar. Essa esperança, agradeço, não me deixa esquecer o passado para que eu seja bem melhor no futuro e, quando for melhor, talvez terei esquecido que fiz o que fiz por amor e saberei ter feito por mim mesma. E é quando fazemos por nós mesmo é que sabemos o real valor do esforço.

Páro agora e vejo que cheguei numa conclusão milagrosa. Feliz e triste de estar vivendo assim, tudo ao mesmo tempo, sinto que subi mais um degrau. Esse sentimento, esse aperto, essa dó, essa gana, esse amor... são o meu caminho! E devo me sentir assim. Devo me sentir mal, porque errei e devo me sentir bem porque vou consertar. Devo me sentir melhor ainda porque é por mim, afinal das contas. Deus! Quanto me custou chegar até aqui? Alguns copos a mais na cerveja do fim de semana, um prato a mais na hora do almoço e lágrimas! Nada me custou além desse aperto que não me larga e estou feliz por finalmente chegar ao meu veredicto! É POR MIM e por mais ninguém que sofro o rito de passagem e me ergo diante de uma vida promissora.

Todo mundo sabe como é crescer? Essa é minha primeira vez e continuo contando.

domingo, 19 de junho de 2011

Ready for those flashing lights.

Desabei. Finalmente saí da inércia e desabei.

O chão também desabou, assim como minha maquiagem e o que restou das minhas roupas.
Sobrou um vazio que espeta.

Não sei bem dizer se foram os olhos inchados que me trouxeram a má visão, mas tudo bem distorcido a minha frente parece morrer devagar. A diferença é que agora não vou junto.

Nasci para sobreviver, mas vou fazer disso uma vida agridoce pensando em um dia de cada vez. O que ficou para trás não esqueço, mas não me modifica o humor. O que ficou para trás ficou mais sutil. O que ficou para trás já não me pertence mais.

Porque eu deixei minha cabeça e meu coração nos palcos.
E é lá que permanecerão.

Isso é permanecer.
Isso é não desistir.
Isso é correr atrás do que se quer.
Isso é lutar.
Isso é ficar.
Isso é gostar.
Isso é se responsabilizar.



Pela primeira vez, o amor faltou.
E não pretende voltar.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Saudosa maloca.

A saudade é... indescritível, mas não posso voltar.

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Acabo de voltar das compras pesadas, esquento o arroz e começo um omelete para duas dos quatro ovos que trincaram pelo caminho. Corto o presunto, o queijo e tento me lembrar de como minha mãe, linda, fazia aqueles vários omeletes deliciosos completos uns redondinhos e outros completamente disformes. Eu sempre escolhia os disformes, claro, eram mais divertidos. Gargalhadas eram soltas toda vez que um omelete ia contra as nossas expectativas, mas sempre éramos recompensadas com os gostos diversos muito bem temperados. Penso no amor que tenho dentro de mim e associo à comida, já explico o porque.

Termino o omelete de quatro ovos para duas e parto ao meio. Uma parte vai no prato, a outra na cumbuca já que o segundo prato está sujo. Minha companheira de quarto não quer o arroz, então raspo a panela, entrego o prato para ela e me sento na cama. Tudo quentinho, novinho e bem a cara do que comeria na fazenda na companhia da minha mãe. Mal paro de pensar nela para escrever um e-mail e o telefone toca. Eu já sabia que era ela. A emoção tomou conta e quase não consigo dizer oi. E a conversa, tímida de minha parte, começa...

Costumávamos ir nos fins de semana para a roça que não tinha nada de roça. Era lindo lá. Amava aquele lugar com tanta força que queria que o mundo inteiro fosse ali e que fosse meu, dos meus bichos e da minha família. Eu lia livros inteiros num dia só, bem preguiçoso de chuva e cavalgava todas as fazendas num raio de 20km, pelo menos. Descia o rio de enchente no verão, tomava leite fresco pelando, café com biscoito maria e manteiga de casa. Mas o meu paraíso particular era atingido quando o sol de meio dia torrava todos os meus miolos e a fome de adolescente chegava urrando querendo ser saciada. Entrava correndo pela cozinha pequena gritando "mãe, to com foooome" e logo sentia o cheiro fantástico das panelas ainda quentes cheias de um almoço super caprichado. Quando faltava carne, tinha sempre na panela arroz e milho, arroz e milho, arroz e milho. Tudo fresquinho, na medida certa para duas. Foram com certeza os melhores dias da minha vida. Não foi escolha minha deixar aquele mundo para trás, mas influenciei para que ele fosse deixado com certeza. Hoje eu fincaria o pé e não arredaria de lá, mas naqueles tempos de espinhas na cara e paixões desabrochando queria saber como era a vida na cidade. Festas, shows, mil amigos e experiências urbanas. Hoje, troco tudo isso por uma vida no pé da serra com um cavalo no quintal. Sem piscar.

Todas as pessoas que amei e que ainda amo me alimentam. Um café da manhã na cama, um sanduíche no lanche, uma carona até o sushi mais próximo. Em datas especiais, pão de queijo e strogonoff de frango com cogumelos enormes, leite quente para dormir. Minha mãe costumava bater na porta do quarto, entrar devagarinho e perguntar se eu estava com fome. Um gesto tão simples que sempre significou o mundo para mim. Agora eu faço minha própria comida. Aprendi a cozinhar e tenho a quem puxar a mão boa para um arroz soltinho, mas não posso evitar a saudade que bate mais forte nas madrugadas quando sei que ninguém me perguntará se eu gostaria de umas torradas com requeijão ou geleia de amora antes de dormir. Um cappuccino, talvez, querida? Não, mãe, obrigada, estou bem. Aceito um beijinho e o seu jeitinho único de me colocar na cama com um cafuné e um boa noite macio de anjo.

Nessas horas tenho vontade de voltar correndo e compensar os vinte e um anos de alimentação que minhas mães me deram. Fico querendo agora demonstrar na mesma moeda. Faço o café, pode deixar. O arroz e a sobremesa por minha conta. Déda, como é que faz o pão de queijo mesmo? Não, não senhora, sai pra lá, quem vai fazer isso sou eu. Mãe, sei que você está ocupada no computador com seus alunos, mas... quer um lanchinho para adoçar um pouco essa vida que anda tão complicada ultimamente?

E pensando assim vem a vontade de comprar outra passagem sem volta. Uma para minha terra natal, para o meu berço de ouro. Uma passagem de volta, na verdade. Voltar para minha casa gelada no verão, quente no inverno. Meus amigos... Nada mais tentador do que estar no lugar que sempre foi a minha cara e que sempre me recebeu como a uma rainha. As pessoas daquela casa... nada mais precioso que aquelas pessoas dentro daquela casa.

Só não posso. Não posso voltar. Se eu quiser ser alguém na vida, preciso ficar aqui, ralar aqui e sofrer aqui. Me contentar com a comida que eu mesma faço, com o leite quente que eu mesma preparo, me enrolar na cama que eu mesma fiz. Deus sabe como eu queria poder fazer tudo isso perto de todo amor que há nessa vida. Mas não posso, tenho que seguir em frente.

Não vou desistir, mas se não alcançar o objetivo, sei que posso seguir o cheirinho de comida bem preparada no fogão, num dia de domingo ou em algum outro dia qualquer.

domingo, 5 de junho de 2011

A mim.

Vem cá. Senta aqui, encosta a cabeça no travesseiro e deixa o céu mudar de cor até que se apague o dia. Relembra as estrelas, a chuva de estrelas, de um sonho bom e fecha os olhos. Não dorme ainda. Sente o frio, aos poucos dando lugar ao conforto de duas cobertas, deixa os dez graus do lado de fora, se aquece e vem. Pensa em mim, meus cabelos os seus, meus dedos os seus, meus pés gelados os seus e deixa que o mundo inteiro estranho lá no exterior continue do outro lado da janela. Só eu e você, uma alma em um corpo tentando sobreviver.

Uma mente apressada recolhe os resquícios de qualquer coisa e tudo e tenta descansar. Fala com o corpo, que transmite as mensagens de uma alma em pedacinhos. E tudo se comunica e tudo sou eu, apenas. Mais ninguém.

Vem cá, digo a mim, vou cuidar de você. Puxo meus cabelos os seus para trás, passo as mãos pelos meus seus ombros, cuido de esquentar nossos pés, os dois. Me aconchego no conforto de mim e tento tragar o ar mais puro do meu canto no quarto e penso que é de mim que vou cuidar agora. Passei tanto tempo no meu próprio esquecimento que quando tudo se foi, só restou a mim.

Aos poucos o sono chega e um sonho bom outra vez aparece. Desta vez com asas. É um vôo leve, pelos fios de alta tensão, prédios altos, buzinas, mas tudo se esquece no vento da noite enquanto ergo minhas mãos ao alto em direção à cor no topo do mundo. É uma cor escura e redentora.

Vou cuidar dos meus pés, seus dedos, nossas unhas e o sangue que gela no fim do continente. Vem, deixa eu cuidar das canelas, joelhos, pêlos, coxas, barriga. Vou colocar roupas adequadas, prometo. Vou hidratar, exercitar seus meus músculos, deixar as articulações sem dor, parar de torcer meus dedos das mãos, roer suas cutículas, prometo. Prometo resfrescar no calor e aquecer no inverno, prometo respirar pelas narinas, tomar a vacina toda semana, estudar todo dia. Prometo te deixar dormir quando preciso, mas a gente pode dormir menos, muito menos. Prometo cuidar do íntimo e te fazer rir sempre. Prometo deixar o choro cair quando for preciso, mas prometo te deixar mais forte também. Na doce brutalidade... prometo te fazer entender que pode ser desagradável e dar a resposta que quiser e não dar seu telefone e não dar trela a estranhos e se vigiar o tempo inteiro. Vou te vigiar o tempo inteiro.

Eu oro também, mas esse não é um benefício seu. É um benefício aos que a gente ama. E isso farei todas as noites, antes de adormecer. Vou espantar os sonhos ruins e acordar de madrugada para cobrir nosso corpo se ele estiver com frio.

Eu sei que você canta, mas eu escrevo. Sei que podemos fazer os dois, temos todo o tempo do mundo, mas não temos tempo a perder. Não podemos, eu e você, deixar de fazer o que amamos. Prometo deixar as besteiras de lado, viver do fundamental com bônus de alegria. Prometo me alimentar bem, tomar um pouco de sol aos fins de semana, deixar o pouco de melanina que temos transparecer em um bronzeado sutil.

Prometo voltar a tocar piano. Eu toco, você canta... tenho certeza que um dueto de uma só seria lindo... Prometo praticar a disciplina, ser melhor todo dia e fazer você entender que o banho pode demorar menos tempo mesmo nesse tempo de dar coriza. A gente pode tomar menos remédio e mais água. Vem cá, estamos desperdiçando a luz do dia nesse apartamento, vamos para o lado de fora!

Prometo, acima de tudo, te fazer feliz.
Mas você tem que vir comigo e não pode, jamais, me largar, largar da minha mão.
Essa é a minha sua nossa condição.

sábado, 28 de maio de 2011

Tudo tem uma razão para ser. Que seja.

A última vez que toquei neste blog foi em agosto do ano passado. Por algum motivo, parei de criar. Comecei a fazer outras coisas, andar por outros mundos e me perdi por aí. O bom filho à casa torna, já cito o ditado. Voltei, mas como tudo tem um motivo, aí vai o meu.

Dia vinte e oito de maio de mil novecentos e noventa. Neste dia Cesar Gaviria Trujillo se torna presidente da Colombia e Joseph Hardy, ator e diretor, morre aos 71 anos de idade. Pergunte ao Google, ele dirá que as informações são verídicas, mas nenhum destes fatos mundialmente importantes dizem respeito a mim. A mim não interessa o presidente da Colombia ou o ator mais caquético da época. Não me interessa hoje nem mesmo o casamento real, imagina há 21 anos atrás, se me importaria com política ou atestados de óbito de famosos? Fato é que este dia, se não fosse por ele, eu não teria cinco irmãos. Faltaria em mim uma parte que ainda não é universalmente reconhecida, mas que tem grande valor para mim. Se não fosse por este dia, não saberia jogar rpg online, colocar o destinatário do lado certo da carta ou desviar de um certo sinal de nascença na hora do cafuné.

Se este dia não fosse, teria deixado há muito de dizer "você está diferente hoje!", porque sei que uma frase assim não fortalece nenhum laço. Sei que uma frase assim não mudaria a vida de ninguém. Sei que uma frase assim não causa o maior efeito em pessoas normais. Mas porque este dia existiu, essa frase fez efeito, fortaleceu um laço antes muito leve e mudou a minha vida.

Dias mórbidos se transformaram em provocações sem fim, ódio eterno e um amor que ninguém imaginaria acontecendo. São... tantos anos de amizade, conhecimento, reconhecimento que perdi as contas, confesso. Mas aqui estou me redimindo e dando graças a Deus que todo ano tenha o dia vinte e oito de maio. Meu irmão mais novo, nada de ligação sangüínea, estamos mais ligados pelo suor de cada dia, faz aniversário hoje e eu estou a mais de novecentos quilômetros de distância dele. Nada mais justo que ressuscitar um aspecto em comum que costumávamos partilhar nos dias de mais inspiração.

Não fosse este dia, eu já teria me perdido por algum lugar sombrio de Las Vegas ou pelos alpes gelados de algum país nórdico por aí.

Só tenho a agradecer, no fim de tudo. Estamos começando, meu irmão. Duas vidas a passos de formiga, crescendo, amadurecendo, fazendo os sonhos mais tangíveis a cada dia que passa. E eu tenho muito orgulho disso.

Aqui é pequeno, mas tem um cantinho para você.
Mi casa, su casa.


E nada de morrer antes dos 100 anos, ouviu bem? Porque ainda que eu falasse a língua dos homens, que falasse a língua dos anjos, sem o SEU amor... eu nada seria.

Obrigada por mais um ano na sua vida.


Com muito carinho,

Amanda.