segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia 7 - Saindo.

Boa tarde, desemprego.

Vontade de encher de qualquer jeito as malas que nunca usei com minhas tralhas, colocá-las dentro do carro e voltar para casa. Percorrer os mais de 1000 km até achar uma solução. Até passar.

Agora posso usar esmaltes de qualquer cor e pintar meu cabelo. Posso correr no Ibirapuera a hora que quiser e fazer circo, aula de canto, aula de dança. E tudo isso era mesmo o que eu queria antes de me apaixonar pelo meu trabalho. Me apaixonei por aquele teatro, por aquelas pessoas, pelos espetáculos e pelas inúmeras horas de ensaio, enfurnada, tomando bronca, aprendendo, crescendo. Crescendo. E gostaria de ter que continuar abrindo mão das minhas horas de menina para ser uma mulher no palco. Gostaria que o sonho tivesse continuado, um sonho de dezessete pessoas que ficaram sem chão de um dia para o outro. Abriria mão de andar sempre arrumada para poder continuar sendo valorizada, sem maquiagem, sem unhas feitas, como era naquele lugar.

Perdi de novo.

Poucos meses foram o suficiente para que o mundo que eu conhecia sofresse uma reviravolta. Para melhor... e agora parece que tenho que colocar meus pés nas minhas próprias pegadas e voltar. E fazer o caminho de volta. E... bom. Não sei mais o que é melhor para mim.

É recente. Ontem tinha um emprego bacana, chefes inigualáveis, um palco todos os dias. Hoje me sobraram mais espaços para preencher...

Como todos os outros dias, continuo sem saber pra onde. A diferença é que hoje também não sei como. E como todos os outros dias, eu vou.

Vamos ver no que vai dar.

Dia 6 - Sonhando.

O filme foi horroroso, confesso. Gosto de pancadarias e muita ação, mesmo que a história não seja lá essas coisas. Poderia ter me distraído com outras coisas, mas preferi panguar e tentar entender o filme que entendi mesmo, mas que não me agradou. Outras coisas valeram mais a pena. Conversar, rir e falar... talvez nunca tenha falado TANTO na minha vida. Frozen yogurt, pipoca, suco de uva aguado e hot dog sem molho, sem nada. Valeu, sim.

Foi um domingo frio, meio confuso e rápido. Rápido demais.

Voltei para casa com o aquecedor ligado, tentando não pensar no jeito estranho em que as coisas acontecem. Sem prever nos envolvemos, acreditamos, vivemos, convivemos, rimos e logo começamos a contar segredos, brigar, brincar e tentar entender tudo a nossa volta, mesmo que de longe.

Fui dormir tranquila. O trabalho me esperava sorrindo no dia seguinte.

domingo, 30 de outubro de 2011

Dia 5 - Compensando

Pulei a quinta e o sábado, como se fosse fácil falar. Não parei em casa por motivos tão óbvios quanto o cair da tarde. Dormir na sala que não é minha e correr no parque foram destaques de um fim de semana agitado, quente e revigorante. Minhas pernas doem, mas cada passo rumo à praça do porquinho duas vezes valeram a pena. Quatro vezes, digo.

E a tarde teima em cair... Os dias duram mais no verão mesmo que ainda seja primavera. Ajustamos nossos relógios para ver o sol mais um pouquinho ou para acordar com ele ainda dormindo, o que não é o meu caso. Ainda é primavera e nada melhor do que passar rápido pelas árvores floridas de cores intensas que minha mãe tanto gosta e quase parar para ficar olhando e relembrando dos tempos em que tínhamos árvores nossas. No fundo, aquelas árvores que ficaram em terreno longe daqui serão sempre nossas. Plantamos, nutrimos e fizemos com que elas crescessem lindas e fortes. Árvores em que amarramos nossas redes, contamos segredos e deixamos para trás muito a contragosto, apenas pela necessidade de seguir.

Neste horário de verão na primavera, prefiro pensar que estou esticando os dias com sol. Hoje, domingo, chove. Mas vou ao cinema, tomar um chocolate quente, quem sabe, seguir meu rumo da melhor forma que puder. Parece que já anoitece... mas é dia ainda e vou por meus pés na estrada e caminhar, mais um dia, mais uma vez com mais uma prece no olhar.

Dia 4 - Fugindo

Quando o santo bate é mais forte que a bagagem de mágoa que se tem nos ombros. Bate e pronto. Entrega-se como se nunca tivesse sentido dor, como se passado não existisse.

A intensidade é o que nos faz mais sensíveis ao toque, às palavras gentis, à beleza. E caímos. Arrebatados caímos sem ver. Quanto notamos, passamos dos limites terrestres e entramos no mármore do inferno. E nos deixamos lá, até que uma nova manhã se abra e o ciclo recomece.

Alcancei uma única solução quanto a isso.
Deixo-me queimar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dia 3 - Correndo.

Três horas no trânsito e o calor dessa cidade permanecendo mesmo à noite. Suando pelos viadutos e faróis, procurava o de sempre: um espaço preenchido. Cheguei quando tudo havia terminado e sobravam apenas as pessoas sorrindo para as vitrines, livros, outras pessoas.

Quente, quente demais. Das vitrines do shopping passamos às mesas e milkshakes tamanho P, hambúrgueres sem o molho prometido e voltas e mais voltas sem sentido, até concluir uma conversa sobre ir para outro lugar. Eu queria muito tomar alguma coisa mais gelada que um milkshake tamanho P.

Barxaréu, o nome do simpático barzinho de esquina em uma das vilas que sempre confundo umas com as outras. Madalena, Mariana, Guilhermina, vilas. Também não sei ao certo em que ponto cardeal a vila se agitava numa das ruas cheia de outros bares. Bom foi sentar e tomar gelado. Depois de muita conversa e horas passando rápido demais, a hora de voltar pra casa chega. Ainda me admiro, todos os dias, com a beleza de todos os tipos de cenários daqui.

Abraço, beijo, abraço e casa. Acabo me esquecendo dos dias e das palavras em gerúndio que deveria colocar por aqui como título de um próximo texto e me deixo descansar até o dia seguinte de tarde. Tarde demais.

Corri e tentei preencher o que faltava em mais um dia de caminhada. Hoje são outros planos, outras vidas, outras corridas. Me encontro no estado em que todas as palavras parecem vãs. A única coisa que faz algum sentido para mim agora é dizer que estou indo. Para onde e em qual velocidade, eu não sei. Mas estou. E não vou parar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Dia 2 - Conectando.

O calor estava excessivo hoje. Torrei durante boas três horas dentro do carro 1.0 sem ar condicionado por uma das avenidas mais congestionadas da cidade. Por um excelente motivo, é claro. Ultimamente não tenho me disposto a fazer nada sem um bom motivo.

Estaquei. Falta música, acho.

I Still Haven't Found What I'm Looking For - U2

Não estou reclamando, nunca estou. É uma coisa minha.

Still - Foo Fighters

If you'd like to walk a while we could waste the day
Follow me into the trees, I will lead the way
Bring some change up to the bridge, bring some alcohol
There we'll make a final wish just before the fall

Watch the sunrise all alone, sitting on the tracks
Hear the rain come roaring in, never coming back
Laying quiet in the grass, everything is still
River stones and broken bones scattered on the hill

Here forever deep beneath the dirt

Continuei andando, mesmo com o tempo quente. Continuei procurando o que não sei bem ser quem sabe meu. Continuei em frente, subi correndo a ladeira, e fui daquele jeito sem ver. E só enxerguei ao chegar perto. Voltar a dar os sorrisos furtivos, sozinha, é bem melhor do que deixar nos cantos da casa pedaços de uma personalidade que só é minha nos invernos mais rigorosos.

Voltei aos tempos de duplicidade. Se não posso ter o que quero, bom, tenho que querer alguma coisa. Alguma OUTRA coisa. De longe ou de perto, continuo andando, subindo ladeiras, tomando sorvete com calda extra e torrando no sol de meio dia na avenida.

Antes queria muito pouco, quase nada. Agora que perdi, quero tudo o que vier pra mim.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dia 1 - Aceitando.

Não tenho o que falar. Nem sei porque estou aqui, na verdade. Meu tempo esgotou, mas isso não me importa muito. Tenho alguns dias de cabeça vazia e só.

Eu tinha uma teoria muito boa sobre quando deveria sentar a bunda numa cadeira e colocar umas palavras para fora de mim. Era algo sobre escrever quando não estou bem e não escrever quando estou bem. A felicidade é tão colorida que dispensa qualquer descrição. Já a palidez dos dias tristes... sempre trazem bons conteúdos. Melancólicos, tortos, exagerados. Ando num estado de inércia tão claro que não vejo cor ou palidez. Ultimamente não vejo nada.

Hoje, nada como de costume. Comprei uma passagem para minha cidade natal. Uma para ir. A de volta quase não comprei. Talvez devesse ter feito a compra pela metade para que eu estivesse completa. Talvez não devesse ter vindo para início de conversa. De um lado ou de outro, estarei sempre pela metade. De um lado pago o preço com frustrações. De outro, com solidão. Hoje não sei o que conseguiria aguentar. Talvez se não tivesse comprado a passagem de volta, estaria frustrada e sozinha. A questão não é nem estar sozinha, ah, se fosse.

Eu nunca achei que seguraria tanta lágrima na vida. Nunca achei que fosse capaz de caminhar durante meses sem esquecer um só dia. Nunca achei que o que está em mim agora viveria tanto tempo. Nunca achei que seria assim. Nunca achei que perderia de forma tão devastadora como perco a todo minuto. Perco de mim, dos outros, dos amados. E só perco, sem ganhar um dia só.

Eu costumava dizer que estava aos cacos, mas agora nem a eles consigo enxergar. Se não consigo ver, fica impossível juntar. Perdi tantas vezes o caminho de casa que me acostumei a não chegar a ela. Vou pingando pela cidade que me engole cada dia mais, sem objetivos ou vontades verdadeiras. Pingando, acho que é isso. Apareço de repente, deixo uma marca diminuta e logo desapareço com o vento que me carrega sem esforço.

Viver de imaginação não chega a ser vida, eu acho. Me disseram que temos que viver um dia de cada vez ou, pelo menos, sobrevive-los. Acho que o que eu faço é sobrevoar... nem viver, nem sobreviver. Sobrevoar. Sobrevoo os dias, com a graça de um ornitorrinco hibernando. Ao menos ainda faço graça, mesmo sem graça assim. De outra forma, acho que nem estaria aqui.

Se pudesse dormiria as tardes e noites em razão de chegar logo o dia em que tudo isso passaria. Não tenho muito mais o que sonhar agora. Só sei perder. Tive minhas chances de ganhar, mas perdi também. Ganhei muito, muitas lutas, muitas batalhas... mas a guerra, quando acabou, tão para sempre como o infinito, teve a minha alma como derrotada. E em estado de derrota, completa ou pela metade, isso não importa, ela se encontra há tanto tempo que eu talvez não saiba mais ver o lado bom que tudo oferece. Ainda sei, fato, mas não para mim.

Há tempos fico quieta, talvez esteja pagando pelos meus tantos erros, feios. Mas fico quieta por um motivo tão especial quanto morrer. A felicidade, a minha, não é mais o que me importa. Se o preço que pago hoje é para que os que amo sejam felizes, que assim seja.

O amor é a felicidade e o tormento dos tolos. E eu só sei ser assim.