domingo, 22 de janeiro de 2012

Chocolate ao leite.

Era assim que costumavam nos chamar. Éramos perfeitos juntos ainda que em constrastes: étnicos, de personalidade, sociais. Éramos o máximo dos opostos que se atraíram como deveria, dois polos distintos indo um em direção ao outro sem saber, na verdade, onde toda a intensidade iria levar. Como todas as efemeridades mundanas, passou. Por razões tão óbvias quanto um mais um são dois. Uma distância, compromissos, trabalho, estudo, dois diplomas muito cobiçados. Um passado meio mal assombrado por parte de um, a falta de passado por parte de outro. A vontade e a falta dela, a disponibilidade e o sumiço.

O que ficou foram saudades inertes. Indo e vindo junto com o tempo e com as viagens, tão curtas, tão longas, tão para sempre. Um abraço, longo, demorado, no último dia e mais um outro abraço, sério, tenso, que ficou na memória suspenso como se não fosse nunca acabar. E não acabou dentro de mim ao menos. Ficaram os sorrisos, os xingamentos lúdicos, os apertos inesperados e a respiração presa num olhar desviado, todas as lembranças inundadas por um abraço, um último e duas palavras que quase já não importavam mais.

Um corpo sumiu no breu cor de pele carvão. O outro sumiu na intensa luz de ribalta, cor de nuvem. E no contraste que se uniram se separaram, no contraste que surgiram se desfizeram em pó, no contraste de 1000 quilômetros se encontram sentados, pensando um no outro, querendo estar perto, unindo, juntando, lutando, brigando e encontrando uma saída para os problemas num abismo que não se vê um fim. Permanecem na superfície, os dois de mãos atadas, com nós nos dedos, deixando que o destino, se é que existe um, faça com que os opostos se distraiam e se deixem, se larguem, se fujam cada um para o seu deserto particular.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Nunca pensei que fosse colocar meu trabalho acima de tudo. Acho que levei um monte de botas da vida para chegar nesse estágio ao qual me prendo sem medo. Fui criada para viver com preguiça de lavar as louças que sujei e de arrumar a cama grande demais para o meu tamanho, mas hoje é diferente. Vivi o peso da construção de uma vida e quero mais. Quero fazer com meus próprios braços, mãos, pernas e mente a vida que sonhei pra mim. Vida essa que ninguém pode construir no meu lugar. É incrível o que um sonho durante uma noite qualquer nos faz enxergar tanta coisa que não víamos antes.

Sei que tudo parece desconexo agora, mas para mim nada nunca fez tanto sentido! Só o fato de parar de sofrer e começar a sentir que a saudade doída se transforma em lembranças tranquilas já me faz pensar com muito mais clareza sobre onde ir. As dúvidas passaram, os medos ficaram para trás. Chegou a hora de cuidar de mim por vontade minha e não por falta de opção.

Tinha um sentimento eterno, achava eu, de estar sempre em pedaços. Sentia uma Amanda diferente para cada situação, para cada pessoa. Eu fui muitas sempre querendo estar inteira, achando que estar inteira significava me completar em alguém ou em alguma coisa. Descobrir que eu me basto foi a melhor coisa que me aconteceu nos meus quase vinte e dois anos de vida, com certeza. Hoje sinto que as alegrias que vivi não precisam voltar para que eu seja feliz de novo, as pessoas que passaram por mim não precisam ser as mesmas de tanto tempo atrás para que eu continue amando-as, quem amei não precisa vir até mim para que eu esteja completa. Sou completa e mesmo tendo um passado tão lindo e tão intenso, quero amarrar meus desejos no que virá. Chega de amarras perdidas num tempo que não volta mais. Sem romancear, ou qualquer coisa do tipo, um desabafo, acho que é o que isto significa, abro um sorriso sem segundas intenções e vou andando sem peso.

Não há nada mais belo do que a simplicidade de estar viva. Parei me sabotar sem nem precisar ler um livro de autoajuda. Vivi minha vida ao invés disso e enchi meus neurônios de romances deliciosos, danadices e afins. Parei de achar que nada é tão simples assim, porque na verdade tudo é sempre mais simples do que parece. Aprendi que os clichês e as filosofias mais bobas podem ser verdade sim, porque não, mas que o melhor remédio é sentir-se vivo e fazer jus a esse sentimento. Fácil falar depois que o sofrimento passou, é verdade, mas manter-se num estado de declínio mental e espiritual é inaceitável. Minha saúde não está lá essas coisas, mas para tudo se dá um jeito.

Achar-se é realmente encontrar uma luz dentro de si mesmo. Me sinto iluminada por dentro, cheia de força de vontade, sem preguiça de arrumar o quarto, lavar a louça ou chegar na hora marcada. Minhas saudades são leves, meus pesares são quase nada e eu posso dizer sem receio nenhum de me arrepender que eu amo a minha vida e que não a trocaria por nada neste mundo. O gosto de alcançar uma meta é tão, TÃO... não tenho vocabulário suficiente para definir o gosto que tem uma vitória. É bom... é bom demais. E se uma meta foi alcançada, outras e outras serão impostas a mim, por mim mesma, para sentir o doce que é o dever cumprido.

O segredo é não desviar-se do caminho, do sonho, da vontade de ser cada dia melhor.