domingo, 22 de julho de 2012

Viajante só.

Segue, que esse dia passa sem que se perceba. Eu quase acho graça.
Vejo teu sorriso me guiar na estrada pela ventania, última pousada.
Viajante só.

Segue, que a tua palavra já foi quase ouvida e quem caminhava alcançou o dia, se tornou celeste, se perdeu por nuvens, se deitou na areia e adormeceu.
- Oswaldo Montenegro

Segue, meu amor. Um coração entre a arte, a vida e o amor. Uma alma entre o dinheiro, a firmeza e a calma. Um pensamento entre o mundo, o mar e a raiz. Segue, meu anjo. Os empurrões verbais sinto no físico, pernas, pulso, carne. Não quero deitar na areia ainda, mesmo sem medo de morrer. Não tenho medo de morrer. Quero o abraço quente, as mãos quentes, o carinho demorado.

Segue, vidinha... Quase parando, ingrata. Falta o sorriso, sempre falta alguma coisa. Que merda, que grande merda. Segue, com todos os palavrões. Incansável, já cansei. Irremediável, mesmo. O desespero bateu como há muito tempo não batia. O amor bateu como há muito tempo não vinha, sem solidão dessa vez, mas longe, tão longe. Dou chance ao destino...

Com o coração na garganta, apertado pela luta infinita, não quero mais ficar. Não quero mais ser pela metade. Não quero mais metades. Quero amor, abrigo, um abraço longo, infinito com minhas lutas. A sorte da tranquilidade, eu não sei voar. Não sei se quero aprender.

Hoje vou rezar até o joelho doer. Até o sangue acabar. E vou seguir. Ainda não sei pra onde vou e nem sei se um dia vou saber. Mas sigo nesse infinito sem nexo perplexa de como o objetivo é difícil de atingir.

Pelo jeito, ficar é solidão. Ir embora é trabalhar de outro jeito. E agora?
Eu quero ser feliz agora.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A última carta.

Now the rain is just washing you out of my hair and out of my mind.
Keeping an eye on the world, so many thousand of feet off the ground
I'm over you now.

I am home in the clouds, towering over your head.


Essa é a última carta pra você. Mais uma vez, estou indo embora. Agora para onde os nossos sonhos não podem me alcançar. Onde é tudo novo. Onde não existem lembranças, onde as promessas quebradas ficaram para trás. Tudo novo de novo, mas novo de verdade dessa vez. Eu não vou precisar entrar no metrô pensando que você deveria estar do meu lado, porque ali você nunca esteve e espero que não esteja.

Cada dia que passa, cada hora que passa, tudo fica mais claro pra mim. Preciso ir, correr, sair daqui. Não queria deixar que você saísse da minha vida, mas você já foi. Agora preciso ir também. Essa é a última, e é uma promessa. Mesmo que eu tenha coisas lindas pra dizer ainda, eu enterro aqui a nossa história, eu enterro aqui o meu passado, os meus pedaços que faltam que sei que não devo recolher.

Meu mundo só tinha cor se você estivesse nele e do seu lado eu sou um clown destreinado, uma princesa com coroa de cabeça pra baixo. Eu passei anos e anos amando você mais que tudo e um amor que nunca mais vai acabar. Essa é a última, eu prometo. E todas as coisas lindas que eu tenho pra dizer a partir de agora nunca mais serão pra você. Minhas palavras a partir de daqui a pouco nunca mais serão suas. Seu tempo já passou, tem que passar. Fiz o melhor que pude, e todos os dias sou um pouco melhor, mas diminuo cada vez mais na sua vida. Estou indo embora e não quero um abraço de um braço só, mas eu não vou te pedir. Nunca mais vou te pedir. Enterro aqui a sua história em mim.

Essa, meu bem, é a última carta pra você. Eu podia ser o calor do seu inverno e a asas da sua queda. Eu queria ter sido seu mundo quando você ainda é o meu. Meu destino talvez seja ser uma estrela, porque se eu ainda estivesse com você, seria só sua. Todas as suas roupas seriam deixadas no pé da cama com cheirinho de limpas e nossa filha se chamaria Serena e ela seria morena dos olhos grandes, cabelo cacheado correndo pela casa atazanando os fins de tarde.

Eu cantaria a noite pra você dormir um sono em paz. E em paz viveríamos no apartamento longe ou perto e nosso, e todas as nossa viagens não caberiam em mil álbuns de mil páginas. Nossas fotos, nossos rostos, nosso amor. 

Eu tenho que ir de novo. A sua presença, seu cheiro, sua existência, seu número. Tudo se agarrou a minha vida com tanta força que te deixou pra trás. A liberdade não tem preço, meu bem. E eu me agarro a minha porque foi tudo o que me sobrou.

Tenho que ir, de novo e de novo e vou quantas vezes forem necessárias.

Eu te amo.
Mas não quero mais e eu não sei mais o que fazer pra tirar isso de mim.
Eu te amo.
E luto todos os dias pra desamar.
Eu te amo quando tudo o que eu queria era esquecer.

Eu te amo, pela última vez, eu te amo.

E se eu estava determinada a crescer, agora  me determinei a esquecer.
E vou.

Não é a carta mais bonita, nem a mais bem escrita, nem a mais desesperada. Não é um pedido, não é uma despedida, talvez esta aqui não seja nada e talvez seja tudo. Não é a mais forte nem a mais sofrida, não é a mais contida e nem a mais maquinada. Esta carta sou eu indo, sem parar.

É a promessa de seguir, caminhar e lutar.
Essa princesa é assim: calça jeans, volante sob controle, coroa de cabeça pra baixo.
E eu sei que você sabe que cabelos cor de salsicha como o meu não existem em nenhum outro lugar do mundo. E eu sei que você sabe que amor assim, nunca mais. E eu sei que você sabe que o que tinha pra voltar, já foi embora e não volta mais. E eu sei que você sabe que é melhor assim.

Essa é a última carta, meu amor.
Guarde-a ou esqueça-a; mas entenda e me deixe ir.
Eu vou.

Esse é a última carta, meu amor.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Quando as olheiras confirmam...

... o que tudo em mim quer gritar.

Aí você se entorta para um lado, se entorta para o outro e decide acabar o semestre antes que ele termine. Socar o teclado é o hábito mais saudável que você tem e se contorcer de dores em todos os músculos do corpo virou uma tarefa mental apenas. Tudo dói, mas você não pode reclamar. Tem pessoas olhando e julgando e não que isso faça alguma diferença, mas é que a vida do lado de fora não é a minha casa e meus limites vão até onde o espaço dos outros começa.

As olheiras confirmam o que tudo em mim quer calar.

Aí eu fico quieta de um lado, e balanço a cabeça em confirmação do outro e respondo um sim querendo dizer não de um outro lado e todos os lados se completam de caos. E não que alguma coisa vá mudar no mundo porque eu escrevo, mas o ego é o que faz parte deste lugar. É aqui que posso pensar em mim, desistir de mim ou lutar por mim. Sinto que não vivo só por mim e aqui sou só eu. Mesmo, e daí?

As olheiras, voltando. Nem passo maquiagem que á pra não estragar a beleza de me esforçar tanto. Mas agora chegou a hora de dar um basta. E, por que não, seguir de forma diferente.

Outro coração partido, aliás, o mesmo coração, mas partido de novo, mais um romance que falhou e o show continua. Se no frio ou no calor, no inverno ou no verão, na seca ou nas chuvas incessantes, na garoa... a vida me guia. E se passei por tudo isso, é porque tinha que passar.

Não tenho mais paciência para esperar minha hora chegar. Vou fazer com que ela chegue logo.
E que me sigam os bons, os loucos e os dispostos.
Os opostos não me atraem mais.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Zombie.

Olheiras, machucados, tendo que comer o que vier indiscriminadamente, sangue frio, andando estranho sem tentar fingir que não manco, mancando mesmo. Fica subentendido, abstratos os braços tentando alcançar a frente. A diferença é que não busco carne humana, mas o futuro. 

Sou zumbi. Mal falo, mal vejo, mal me lembro do que há dez minutos passou por mim. Reconheço poucos e todas as minhas ações são pura convenção social. Educada, gentil. Normal com alguns roxos a mais.

Poetas, meus poetas, sempre os cito, me disseram, um deles, pra ser gauche na vida. E fui, né. E virei zumbi. Talvez esteja zumbi querendo nascer de novo mais bonita e mais forte desta vez pra não me atracar com o destino. Meu livre arbítrio me transformou em morta-viva. Sou a morte tão viva quanto sua presença etíope. Até falar depois de engolir gás élio me faz renascer.

Das cinzas não, há tempos deixei de ser pássaro. Não vôo mais. Meus pés estão firmes no chão e o efeito placebo das minhas lamentações também ficaram para trás. Erroneamente ou não, vou atrás da minha vontade atropelando sentimentos e felicidades bárbaras. Respiro pelo simples fato de estar acostumada ao ar dentro de mim. Não é inércia. É a busca incessante por alguma coisa.

Protelo o que é aparentemente desnecessário e minhas roupas são minhas pendências. Sei o que é o amor, mas não o vivo mais. Aquilo é só um detalhe de mim. Meus pilares estão em casa guardando minha alma com orações enquanto atravesso todas as barreiras mundanas. Sou forte e fraca, vento e brisa, delicadeza e brutalidade em duas mãos prontas para acolher e permanecer. Estou aqui. Ainda aqui. Pra sempre aqui.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Every day is a victory.

"You are the light that's leading me to the place where I'll find peace again.

You are the strength that keeps me walking
You are the hope that keeps me trusting
You are the life to my soul
You are my purpose
You're everything.

You calm the storms and you give me rest
You hold me in your hands, you won't let me fall

You steal my heart and you take my breath away
Would you take me in?
Take me deeper, now.

Cause you're all I want, you're all I need
You're everything.
"



You're still everything.

Hoje eu venci outra batalha. Venci a doença, o vírus, a depressão e o desânimo. Venci a inveja, o mal, a fome, a preguiça, a gula e os demônios dos outros. Venci meus demônios. Venci o desespero, o medo, a pressa, a vaidade. Venci a vingança, venci o ciúme e venci o maior dos meus desastres. Venci o atraso, a saudade e a vontade de pedir pra voltar.

Venci o amor, aquele que não volta e aquele que ainda pode vir. Hoje eu abri portas, escorreguei pelos corredores vazios e venci a solidão. Hoje eu venci o cansaço. Hoje eu venci quem se perdeu. Hoje eu segui, mais um dia em frente em busca do que já passou para que o futuro seja puro, limpo, cor de frutas frescas e água gelada. Eu cantei quando tive vontade de chorar e chorei quando cantar funcionou mais do que o esperado.

Hoje eu venci por mim. Hoje eu respirei fundo quando a hora ia passando sem proveito e venci a procrastinação. Hoje eu não desisto mais, mesmo que tenha que andar aos tropeços, a passos pesados e curtos.

Meu mundo tem a cor do pecado e um sorriso torto, desses de desmontar raparigas de vestidos curtos demais. E o caminho é tão claro que dói não saber onde vai dar. E essa dor eu venci também.

Hoje durmo em paz, com algumas lágrimas de satisfação no rosto e dentes bem escovados.
Amanhã vou fazer como todos os dias: ser melhor.

E você, da barba mal feita, olhos de bola de gude e dedos demais: você ainda é a luz que me guia para o lugar em que encontro paz. Você ainda é a força que me faz andar, levantar todas as manhãs e erguer a cabeça com orgulho. Você ainda é a esperança que me deixa acreditar.

E que seja, não minto pra mim. Nem pra você. E que seja mais fácil a vida assim. Que seja melhor assim, que o mundo gire assim. O que importa é que estou vencendo, me vencendo, reerguendo meu castelo de pedra desta vez. O de cartas tinha transtorno borderline e adorava ser levado pelo vento.

É preciso coragem para viver de arte.
É preciso coragem para amar para sempre assim.
É preciso coragem para seguir. Força não me falta mais.

Amo você.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

RUN, LOVE, RUN.


Estou mesmo correndo contra o tempo, mandando meu coração se desapaixonar ao mesmo tempo em que me encanto de novo. Engraçado, quando a gente não pode, tudo acontece e tudo passa a poder. Não tenho o poder de mim, como a Clarice, ser feliz me consome muito. Meu estômago dói, meu corpo estrepado de viver sem pensar, agindo aos trancos e caindo dos barrancos. Há dois dias grito que não posso me apaixonar, que diabos!

Eu não posso me apaixonar e à medida que desapaixono, me apaixono mais. Pelo meu trabalho, minhas crianças, meus amados tão pertinho de mim. É onde meu coração está. Aqui, nessa cidade que faz frio e sol num céu de nuvens impagáveis, lindas, que trago todos os dias pela manhã. Logo que acordo sinto o mundo dentro de mim desanuviando sonhos maus. E me apaixono pelo novo dia. Me apaixono pelo sorriso. E vivo de novo, olha que coisa.

EU VIVO DE NOVO, quero gritar no teu ouvido e no ouvido dele. Nos ouvidos de quem anda, respira e ama. Quero gritar e subir no meio fio e gritar de novo e descer do meio fio e atravessar a rua olhando para os lados como muito bem minha mãe me ensinou, pequenininha ainda. Eu. Descabelada andando por essa vida descalça procurando o calor dos braços do amor, desde sempre, assim que acordo procuro o amor e quando durmo vou com ele.

Engraçada essa vida, que nos tira e nos dá. Que afasta e repões, como despensas que se enchem de comida, se esvaziam e tornam-se a encher. A diferença é que mesmo vazia, basta a mim. E agora enchi de novo, OLHA QUE COISA.

E de novo os ciclos se repetem, o que é o para sempre?
Amor é para sempre, dizem, mas eu acabei de desamar, como a criança que larga o peito pela mamadeira e a mamadeira pelo copo e o copo pela garrafa até despencar. Engraçada essa vida que vai e vem. Olha que coisa.

Já é o quarto dia que chego no trabalho gritando no ouvido da secretária que eu não posso me apaixonar.
Já era. Já foi.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

HEAVEN'S LIGHT


Desaposentando o modelito moletom por todos os lados mais Crocs com meias, vejo que estou atrasada com a vida. Ela está acabando, aos poucos, mesmo, mas tenho que correr.

Não posso deixar de lado meus hábitos, organização é fundamental, mas hoje parei de podar crianças. Engraçado minha mãe querendo ensinar metodologia do estudo para meu sobrinho de cinco anos de idade. Era uma criação, uma arte, uma brincadeira para ele. Alguma coisa que saía de dentro da cabeça dele que o divertia, papel tesoura e cola para todos os lados e eu arrumando meu quarto quando ouço, sem querer quase querendo, minha mãe dizer Caio, você precisa planejar. Não dá pra sair cortando indiscriminadamente assim.

Me horrorizei com a correção. Alma de artista, saio escrevendo tanto às tontas, não poderia deixar isso acontecer. Queria deixar meu sobrinho criar e ir além do convencional de normas e regras, droga, ele ainda é uma criança.

Sei que um mínimo de organização é necessário, mas para nós, adultos, que temos muito com o que nos preocupar. Uma criança só quer brincar, ela só precisa das ferramentas em mãos. Fazer com que ela planeje só vai fazer com que tenha mais coisas para se preocupar e uma mente infantil preocupada não trabalha, não flui, não evolui. Nós, adultos, nos organizamos para nos despreocupar. Tarefas demais para crianças, apenas prende aqueles pensamentinhos que voam alto, alto.

Precisamos das regras, nós, adultos, travados, firmes nos empregos, infelizes no mormaço do cotidiano, retos nos caminhos, fodidos no amor. Criança ama para sempre, desenha paraísos e corta o papel para infinitas possibilidades. Criança ainda corre pelos sonhos, astronauta, jogador de futebol, superstar. Criança ainda pensa e flui, criança é a liberdade que tanto procuramos, nós adultos afogados em cansaço e mágoa.

Precisamos crescer fortes, livres e nos salvar das pressões humanas. Precisamos arranjar um jeito de ensinar o bem e a responsabilidade sem que nossos mecanismos criadores se fechem. Precisamos ser fortes para deixar que nossas crianças gritem tentando cantar, sonhem em busca do impossível. Elas só saberão que é impossível quando alguém as ensinar.

Enquanto isso faço a minha parte. Deixo minhas crianças irem.
E vou com elas. Talvez seja esse o caminho para chegar lá.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

I'M HEALING NOW


Esses meses passarão rápido por você. Já dizia o poeta... eu passarinho. Devagar como a lesma que deixa rastros brilhantes, lento como a mula cansada, como eu cansada, passarinho. 

Eu nunca soube o que faria comigo mesma. Agora sei. Né. Já não era sem tempo saber. Mas agora eu quero saber o que fazer com você, porque essa sempre foi a minha certeza. Guardar você. Agora se eu taco fogo nisso ou se jogo tudo para o ar, ainda não sei.

Aliás, não saber é o que eu mais sei dizer. Engraçado como a vida é engraçada. E na idiotice das minhas reflexões sempre de mesmo cunho sentimental e meloso, me sinto viva.

Pelo menos já sei usar aquele olhar de novo. Aquele olhar que era só seu, bom, já não é mais. Aquele lugar que era só seu escorregou pro canto. Tudo muda de lugar quando resolvo dar uma chance a mim mesma.

Só sei falar desses assuntos de amor também. Me sinto a Adele da literatura barata, a Whitney Houston do desespero humano, a Maria Callas do conformismo solitário. Coco era o nome da lombriga de Callas. Acho que sou Coco, a lombriga. A lombriga de mim mesma. Me consumo, sou o hospedeiro de mim. E, merda, vou! E dou risada de ir! Dá um livro: VOU. Ou como Augusto dos Anjos e seu sangue: EU.

Hoje cansei, terminei e resolvi acordar.
E continuo indo. Uma hora chego lá.



Cansado de chorar pelas estradas.Exausto de pisar mágoas pisadas.Hoje eu carrego a cruz das minhas dores.

- Augusto dos Anjos

terça-feira, 8 de maio de 2012

THOSE COLD WIND DAYS


Passando pelo vento frio de uma manhã ainda no outono.

O inverno não vai demorar muito a chegar. Aposentei temporariamente meus shorts, minhas regatas e busquei no fundo do meu armário meu casaco vermelho. Agora é outro casaco vermelho. O rascunho de lembranças que comecei há cinco anos atrás virou outra história, outra coisa, de outros tamanhos. O casaco vermelho original foi emprestado e depois perdido, como minha vida. Emprestei minha vida e a perderam, agora me encontro num estado de busca de mim mesma aparentemente eterno.

Achei o casaco vermelho, afinal. O outro, de agora. Não estava no armário, ou no fundo, ou no raso. Estava ali, pendurado na porta do meu quarto apertado, quase todo cheio por causa da cama de casal fofinha em que durmo sozinha todas as noites.

"Não quero parecer amargurada", uma amiga minha escreveu recentemente. Também não quero, não estou amargurada. Tudo dentro de mim parece saudade e vontade de repetir, só. Mas estou feliz assim como estou, já diziam os mentirosos. Eu nem digo que vou bem ou mal. Eu vou e não vou parar. Nunca mais vou parar. Se as pessoas ficam para trás, é uma opção delas. Eu sigo, se devagar ou rápido, eu vou. E como já disse uma, duas, milhões de vezes, vou em frente num clichê terrível sem saber pra onde.

Acho que minha alma é bilíngue.
E não me importo nem um pouco.

Aproveito o vento frio, assim como o sol torrando, assim como o sofrimento, assim como o amor que foge, que vai ou vem, assim como as borboletas no estômago que sumiram, assim como meu trabalho que me dá dor nas costas, assim como minha família linda barulhenta. Eu aproveito. Lindo é tudo. Mesmo, sem ironias desta vez. Eu aproveito e vou um dia depois do outro. Sem parar.

Eu sempre acho que já é hora de morrer, por não saber ainda o que fazer, que missões completar. Por isso vou, sem me questionar, sem reclamar, tentando não fazer rimas podres de pobres. Eu vou. Do trabalho para casa, de casa para o ensaio, do dia para a noite, da noite para o dia, do sonho para o pesadelo mais horroroso, do céu para o inferno e da alma para a carne. Todos os dias. Sem parar.

Eu vou.

Eu vou.

Pra casa, agora, eu vou.

Pararátimbum, pararátimbum.

Eu vou eu vou euvoueuvou

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cidade fantasma.

Dentro das casas tudo vive vazio, como fantasmas pessoas, plantas e animais. Existe no fundo dos olhos de todas, todos, tudo uma tristeza plena de acidentes de carro fatais, fofocas indecorosas, tensões de aparências. Só aparências.

Eu sorria querendo desaparecer. Eu trabalho, trabalho, trabalho, estudo, estudo, estudo e sonho o pouco sono que ainda consigo dormir, perdida nas minhas ilusões há muito descobertas que não desaparecem jamais. Até agora.

E vejo um amor que não existe, isso não é amor, que diabos! É muito claro quando se quer viver para sempre mesmo que triste ao lado de alguém. É muito claro quanto querer morrer, sem ter coragem de segurar a porta antes de ela bater contra o vento.

É tão claro como querer ignorar a tudo e todos e se misturar nas milhões de cobertas que ainda não aquecem o frio num dia de calor. É frio no calor. É mais frio ainda quando faz frio. O abraço morno não é mais meu. O que me aquece não existe mais. Pertence a mim, mas não me basta. Parou de transbordar, parou de retinir e soar. Parou de crescer e virou uma coisinha indefinida se acabando e apodrecendo dentro de mim.

Passando pelo braquiarão a 170 quilômetros por hora, sem querer diminuir a velocidade, ultrapassava os carros  como se morresse. Sem aviso, sem esperança, sem olhar para trás. Ia morrendo ultrapassando sem nunca ser ultrapassada, deixando o resto para trás, sem nunca ser salva.

É tão forte querer ir embora de novo, pra nunca mais voltar. Como um ímã meus sentimentos me prendem ao chão, à vida, ao trabalho, ao foco, ao discernimento, à inspiração. Meus sentimentos me guiam, me fortalecem, me lançam para a frente sem dó e eu sigo, cabeça erguida, peito aberto, respirando sem temer.

Eu não tenho mais medo. Medo de nada.

Medo do escuro, medo da morte, medo da forca. Não tenho mais medo de mim porque sei que sou inteira.

Medo de altura. Me dá o salto que eu pulo.

Cheguei em casa em 1 hora de viagem. 167 quilômetros percorridos, completamente nas sombras de mim. Quilos e quilos de metros. Os caminhos esquecidos, os carros para trás em segundos, tudo morto lá atrás. E nada me tira a vontade de ressuscitar tudo o que passou e colorir todas as lembranças e fazer tudo de novo.

Esse passado morto ainda vive pra mim. Delicada, paciente, linda, requisitada, responsável, focada, disciplinada, trabalhadora, competente, saudável, divertida. Um monstro dentro de uma aparência complicada. Um monstro que quer esmagar toda a carne por cima dos ossos e esgotar todo o sangue quente e esfriar a pele murcha e rachar os dentes e cair no chão.

O platonismo, aquele sentimento que ergueu poetas e eternizou milhares de nomes.
Não quero me eternizar para a humanidade ou virar patrimônio histórico, não quero ser poetiza, reconhecida, relembrada, anotada, estudada. Quero ser o sol, a luz e o bem para alguém. Alguém que eu queira também.

Me dá o salto que eu pulo. Me dá a pele que eu curo. Me dá o sol que eu esquento.
Me dá a ponte que eu atravesso. Me dá a carne que eu como, o suor que eu seco.
Me dá o vento e eu vôo. Me dá o mar que me afogo. Me dá você que eu amo.

E, juro, sem medo.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O moreno de calça jeans.

Um clichê, um desencontro encontrado, um ingresso errado e logo o mar de grama verde se abriu para mim numa estrada de chão com cascalho (palavra perdida achada por uma pausa textual) cheia de vacas, vários tipos de vacas, alguns bois, muitos bois, mas mais vacas que bois e um suspiro choroso de chegar ao paraíso. Novamente, o paraíso que foi meu um dia e que será meu um dia.

Sempre começa com um clichê, amor de elevador, amor de carona, amor de ódio, amor do campo, o meu foi desses, que começou doce como um quer namorar comigo sem antes pegar nas mãos. Amor, não sei, amor? As borboletas são reais, como o meu suco gástrico, romanticamente falando, só que não. As borboletas existem, mais de mil milhões, e batem frenéticas suas asas leves dentro de mim, um estômago malcuidado, sofredor, lutador, enjoado. E batem, sem parar, sob minha pele, tecido adiposo, suor. Batem sob meu trabalho e batem durante todo o dia, enquanto canto, enquanto ando, enquanto tomo.

Tomei uma banda da vida há pouco e ela logo me recompensou com mil milhões, mais de mil milhões borboletas. Coloridas, elas são lindas. Esvoaçantes, meio perdidas. Ficam loucas quando veem a pele morena, sem camiseta de calça jeans, o sorriso aberto, o cabelo para cima, as mãos grandes. Amor, não sei, amor? Coisa boa, coisa que nunca mais achei que sentiria, tantas, tantas, borboletas durante tantos, tantos dias. E o telefonema, e o DDD de outro estado, o sotaque engraçado, lindo, a voz macia, o carinho estampado no tchau simples, difícil de desligar, desconectar, sair, parar de pensar.

Me enrolei no cobertor e coloquei meu banco ao lado da cadeira dele.
O abraço durou a noite inteira, um abraço e só.

Marcou o início, outro início, mais um.
Sempre um abraço iluminado pela noite clara, uma outra inesquecível noite clara.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Avisa.

Falho sempre nas minhas missões de escrever todos os dias. Às vezes marco os domingos, às vezes as quartas e os assuntos são sempre os mesmos. O assunto é sempre o mesmo. Quero sempre falar de mim, do que tem aqui dentro.

Sei que segui em frente quando passo quatro dias inteiros aproveitando cada momento presente, ali, sem pensar no longe, sem olhar pra outro mundo além daquele. O peixe com sabor de caranguejo, a companhia de amigos de infância, o carro passando rápido pela poeira avermelhada, com sabor de calor e terra amada, a cerveja gelada da quinta-feira e do domingo e nada mais além daquilo ali, comigo.

Sei que segui em frente quando o coração começa a bater mais forte por outros motivos. Bate mais forte pela corrida a cavalo de short molhado, ou por um moreno de calça jeans sem camisa, com o sotaque gostoso de interior. Bate mais forte por gostar, finalmente, de uma comida bem apimentada, que faz a cabeça doer, a língua queimar, o desejo pela vida fluir, sem passado, sem futuro.

E começou com o salto no rio, o banho na bica, o calor de rachar mamona. Finalmente, finalmente, sentir tesão por uma vida plena, sem sofrimentos, sem amor de matar, sem chorar por alguém que nunca vai voltar. Sei que segui em frente quando consigo dormir pensando em trabalhar, sei que segui em frente quando paro de sonhar com a mesma pessoa toda santa noite.

E ouvir forró, dançar forró, cantar um reggae, rebolar um samba, zoar um funk, gritar bem alto um sertanejão apaixonado, viver todos os momentos que combinam e que não combinam com a minha educação, minha cultura, meu modo de ser. E ser, apenas, sem rótulos, sem saco para rótulos! Que eu não sou embalagem, sou recheio!

E sou o tempero dos meus dias, me desculpem os outros. Eu que acho a graça onde não tem, eu que beijo o mundo que eu quiser e agarro minhas pernas com força para que elas andem e continuem sem que ninguém precise me guiar ou me levantar.

E soltar o coração, desamarrar, deixar em paz, um coração que batia por um e que agora tem um lugar vago, dois, três, prontos para serem preenchidos por emoções, pessoas interessantes, momentos marcantes, lugares inesquecíveis. Felicidade simples, essa minha, de sorrir só por estar viva e livre cheia de sentimentos deliciosos, fantásticos, vitoriosos e macios como seda. E trabalhar, e estudar, e crescer, e deixar que o mundo me alcance deliciosamente, que me pegue pelas pernas e me chame pra namorar.

Que delícia namorar um fim de semana ensolarado, um corpo molhado de suor ou de água fresca, namorar um beijo cheio de carinho e uma noite inocente com sono no colchão da sala, naquela solidão fofa de simplesmente dormir e sonhar. Acordar com um sorriso, ver a floresta logo ali, no alto dos morros verdes, longe onde os montes ficam azuis a encostar num céu tão lindo que dá dó de ser gente. E ainda ter todas as obrigações em dia, ajudar numa louça, caber num feriado redentor. Ah, que delícia poder pensar num mundo perfeito que existe bem logo ali a menos de 200 km de estrada boa, rapidinho chegar no pedaço de paraíso.

Dá gosto de voltar a trabalhar depois de um descanso assim. Um amor que brota, devagar, dá um impulso tão imenso quanto minha vontade de ser melhor a cada dia. E eu sei que segui em frente quando descobri que quero que esse amor cresça e seja alguma coisa em mim.

Que me desculpem os fracos, eu sou forte de pensar numa vida bela.
E que seja doce.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Existe. E pulsa.

Tudo começou com a tradução de uma música que não me saía da cabeça. Queria saber de um roteiro para um peça, um filme, um curta. Acabei curtindo me curtir e por ali fiquei sem começar a escrever coisa alguma. Coloquei uma música para tocar, esperei a respiração mais forte chegar, um sentimento, um cansaço, uma dor.

Eu cheguei. E sempre me chego nessas horas. Indiscriminadamente vomito palavras e palavras e palavras, até ver que as sinto com tudo o que posso e tudo o que posso é tudo o que tenho e tudo o que tenho é a mim. E me escrevo, me descrevo e me desnudo em frente às letras que se colocam em ordem intelectual. Me desafiam, eu aceito.

Ao entrar no meu quarto, nota-se minha cama no centro. Minha cama é meu porto seguro, é onde os meus sonhos me levam para os lugares mais lindos, é onde todos os meus desejos se realizam, é onde me encontro com o melhor de mim, sem disfarces ou máscaras, sem perder ou ganhar, sem sofrer. Eu vôo, pinto e faço tudo que não sei fazer na vida de carne e osso. Minha cama é real e tudo o que acontece nela é protegido, permitido, amado e cuidado. É onde me abraço, me acalento e me canto para dormir. É onde o infinito sou eu.

Na minha parede rabiscada alguns desenhos, estrelas luzes, me desenhei uma vez, com a cabeça cheia, esperando que fosse cair da vida, cair de mim e me perder. Escrevi, e se eu cair no chão? Depois de cair muito, tanto, tanto, resolvi responder a essa pergunta, não vou cair. E pensei, se cair, levanto quantas vezes forem necessárias. Eu não desisto tão fácil assim. Quando se entra em uma nova atmosfera de vida, um novo trabalho, uma nova escola, é fácil pintar as páginas com o que você quiser e ser, na verdade, aquilo, exatamente aquilo que quiser ser. Eu quis ser forte nessa nova fase da minha vida, e nunca estive tão forte.

Tenho algumas fotos de mim, resolvi ser egocêntrica depois que fui morar um tempo sozinha, mas meu coração sabe onde pertenço. Pertenço a casa em que cresci e aprendi a ser gente, educada, respeitadora. Antes tinha fotos de um antigo namorado, eu e ele, ele e eu. Hoje permiti que ficasse apenas uma foto de nossos pés. Eles, os pés, seguiram caminhos diferentes, mas os momentos em que eles caminharam juntos nunca serão esquecidos. Eles foram juntos para dentro d'água, voaram juntos, cresceram juntos, se sujaram juntos muitas vezes, e se trancaram num amor infinito. Também se libertaram juntos e hoje são pés livres que se encontram ao acaso, que se roçam ao acaso e que viverão juntos-separados-amando-amados-abandonados, até se encontrarem de novo. Só que não.

Meu quarto reflete meu estado de espírito, droga, me veio aquela vontade de apagar tudo e escrever nada de novo e apagar de novo. Mas eu vou até o fim e, mesmo que não fique bom, eu tentei, eu dei o meu máximo e fui em frente. É a prática da escrita, vomite, respire, pense, crie técnicas, digite, reflita, cresça mas não se submeta às vontades da autocrítica exagerada.

Eu sou a cidade e sou o campo. Sou o rock e sou caipira. Sou a luz e a escuridão; o equilíbrio num mundo desequilibrado, o foco e a determinação, sou o gigante despertando e uma sede invisível, inigualável, insaciável. Eu sou a água na boca, o prazer infinito e a raça. Sou índio, negro, galego, branco de queimar rosa no sol. Sou a face da mulher e a alma da criança, o riso contínuo o choro de vez em quando. Sou o calor de uma vida abençoada, a gratidão do dia quando nasce. Eu sou a pedra na vidraça, a cicatriz da pirraça, a vontade, a graça, a sensação lamacenta, o amor do teto ao chão. Eu sou um mundo em minhas mãos. Eu sou o impossível, a dor do crescimento, a cor da feira e o cheiro de porta aberta. Eu sou a marca na calçada, o passo na sacada e a queda na praça. Eu sou a bandeira que balança, eu sou a pose da moça, a passarela iluminada, a vitrine e a cachaça. Eu sou a caça quando me caça o caçador e sou a entrega da flor. Sou a fera e o condor, a fuga e sou Bach quando canta a orquestra, sou regente e reator, sou ferrão e piada, perdão e trapaça. Sou de carne humana e plutão, de paz e colchão, de ardor e sal, pimenta e cal. Sou o dentro no fora, o esquerdo direito, a hora perdida. Sou palavrão e pedra polida, polida educação, sedução, malícia e puxão de orelha. Sou dentes e unhas, gozo e serras, sou bola quadrada e taco de sinuca. Sou a vida na morte, as pernas da sorte, a delícia de andar. Sou o céu, que é me inferno particular.

segunda-feira, 19 de março de 2012

You'll never know...

"I'd hope you'd see my face
and that you'd be reminded
that for me it isn't over."

Se você for ler isso um dia, lê escutando essa aqui, ó:

Queria poder mostrar o quanto cresci e a mulher que eu me tornei.
Mas você nunca vai saber.
E vai perder tudo, todos os detalhes.
O que de bom ficou, pra sempre.
O que de ruim, foi embora com você, memórias.
Não sobrou mais nada aqui, além da vontade de amar até o fim.

Forever and a day, I'll stay.

As promessas ficaram tão verdadeiras em mim que não consigo desmenti-las. Ficam aqui me rondando, assombrando, soprando ao meu ouvido todas as minhas culpas e meus erros, mas sem dramas, não sofro mais. Sei que é o que tem que ser.

E já sou feliz assim, com sentimentos só meus. Não posso compartilhar e vou guardando, todos os dias, mais e mais, tão crescente como a lua em seus dias mais bonitos, tão simples, tão bonito como as fábulas infantis, tão meus, só meus e tão transbordantes que dá pena não poder dividir.

Queria a minha vida dividida com a sua. E não perderia nada, somaria, multiplicaria, tanta força, tanto choro, tanto de mim. Comecei mudando por você até ver que era por mim e por mim é que eu vivo hoje. Meu motivo de acordar sou eu e guiada pelo que sinto, ei... eu sinto tanta coisa linda que mal poderia colocar em palavras, quadradas, exageradas, rebuscadas, desnecessárias.

E faço questão de guardar, mas não deixo escondido. Todo mundo sabe, todo mundo vê. É claro como a luz do dia que passa pela minha janela todos os dias e não há um só dia que eu não pense no quanto seria bom se você visse meus sorrisos, minhas vitórias, meus avanços e conquistas. Isso todo mundo também viu, só faltou você.

E todos os dias sinto sua falta, como naqueles dias em que deixávamos de nos ver pra ser melhor quando tudo acontecesse. Era lindo o jeito que você me colocava na cama, tirava meus prendedores de cabelo e ia embora sem fazer barulho...

Quando você foi de vez ficou um ruído. Infinito.
E eu espero o dia de esquecer sem querer.
Porque por querer eu não quero.
Quero lembrar e sentir, é lindo demais. É único.
E quero aproveitar enquanto ainda existe, enquanto ainda é meu, a única parte de você que me sobrou e que ninguém pode tirar. Nem você. Porque essa parte é só minha, inigualável mesmo fora do meu alcance. Tão bom sonhar assim.

E é nos meus sonhos que vivo o que não posso viver de verdade. E sonho todos os dias, sabia? Todos os dias quase o mesmo sonho, os mesmo desejos, a mesma imagem sua com o violão na mão direita, o case pesado, o som folk, trilha sonora das viagens.

Passei do estágio de exigir, querer, demandar, sofrer, apanhar, chorar, largar, morrer para só sentir e não me arrependo um só segundo de continuar sentindo. O melhor de tudo é que vou vivendo, tão bem e com tanta intensidade que nunca achei que fosse possível sem você.

É bom caminhar sem amarras, cheia de cores, boa vontade e vigor. Com o único objetivo de ser melhor a cada dia e mesmo longe você continua me ensinando o melhor de estar viva.

Nada dói, nunca mais doeu. Acho que não vai doer mais, essa parte também passou.
O ruído vai ficar aqui...

E não vou fazer nada pra ele ir embora.
Ele vai se quiser, um dia, quem sabe, talvez.
Fique, volte, exista, seja
Que seja...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Outro domingo.

Ele sempre me olhava como se não quisesse ir embora, com a pressa de quem tinha que ir, com o cuidado de dizer com os olhos que deixava o coração comigo. Sempre me olhava até o último minuto, eu com uma frestinha de porta aberta o via soltar um beijo, um sorriso, necessariamente nesta ordem, e olhar para a estrada que vinha nos atropelar depois.

Eram sempre fins de semana juntos, juntos, juntos. Eram sempre dias juntos, juntos, juntos. Éramos inseparáveis, os dias eram insuficientes, as horas curtas demais, os minutos inexistentes com exceção dos minutos passados esperando um ao outro, sempre longos estes sempre tempo demais. Eram bons e poderiam ter sido para sempre bons se não fosse pela vida que leva e traz o que merecemos de acordo com os nossos feitos e valores.

Quando vimos, passou. Difícil é substituir o que claramente não tem substituição. E sempre ficam as memórias, cada vez mais acumuladas na cabeça, confundindo tudo. Eu queria não ter que acumular tantas despedidas, mas elas se amontoam na minha lembrança de tudo o que vivi e uma se destaca em especial, aquela que eu não deveria ter deixado fugir do real. Mas foi e como tudo que se vai, foi porque tinha que ir e, bom, quem sou eu para tentar evitar os acontecimentos, a roda viva, a roleta russa que se não nos mata, nos leva alguém que achávamos que nunca iria embora.

Lembro dos óculos escuros inseparáveis. Das tardes no lago e de algumas coisas que minha memória inventou. Estas são as mais perigosas: aquelas que a gente fantasia mas que nunca chegaram a acontecer. Os planos desfeitos, bom, temos outros tão bons quanto agora e uma excitação sem tamanho para chegar lá. Lá aonde, nenhum de nós sabe e acho que nenhum de nós se importa, chegar é que é o importante. E lembrar do que foi bom com carinho, sem pesares, foi porque tinha que ir e é sempre melhor assim.

Ruim é ficar na mesma, e eu fico na mesma de acumular.


Queria parar de ter que me despedir, dizer tchau até logo adeus, nunca mais.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Tudo cinza.

Talvez eu não esteja em mim agora, mas é domingo, preciso escrever. Domingo, quatro e quarenta e três da manhã e eu ainda não dormi. Sinto como se minhas roupas não existissem, numa verdade nua e crua. Eu vivo agora e não me importo com o que virá. O agora é que importa, as conseqüências serão boas se os atos forem bons também.

Penso assim, meio simples, meio caipira, às vezes um tanto gourmet. Ainda estou tossindo muito forte, de vez em quando acho que minha doença nunca vai passar. Seja lá qual for, os médicos não sabem se decidir se é refluxo, alergia ou tuberculose. Claro que não tuberculose, o drama faz parte da situação.

Quero falar de cuidado! O toque que passa primeiro pelo rosto, de olhos claros, os cabelos desgrenhados, o suor, que passa logo pelas costas, um brinde ao amor sem álcool, apenas no olhar e neste toque. Que passa pelo corpo com cuidado, que olha com cuidado, que assopra com carinho e sorri como se tudo fosse um sonho.

Nunca se sabe quanto vai durar esse momento. Fica eterno em mim, sempre, para sempre. De um jeito impossível de esquecer, fica marcado, como o pulo na piscina gelada de madrugada, de todas as vezes em que decidi enlouquecer momentaneamente. Talvez seja louca mesmo para sempre sem querer. E não escondo que mesmo que por um momento possa ser amor. Tudo com cuidado, as luzes apagadas, respiração. É amor, sim, porque não.

O tempo faz tudo tão direitinho, adoro a sensação de viver tudo que tenho pra viver. Uma dose de tequila e meu mundo começa a rodar, José... E agora? Estou feliz de sentir que não me importo! Estou feliz agora. Vivi a minha vida agora e não desperdicei um momento sequer. Fiz o que quis sem medo, sem receio, e de roupas de baixo pela madrugada gelada na piscina.

Minha cama quentinha, meu edredon, são as únicas coisas que me esperam agora, tenho certeza. Depois de viver um sonho que me estampa um sorriso pro resto da vida, não preciso de mais nada. E foi uma dose de tequila só.

Ainda tusso, de euforia, talvez. Uma garrafa d'água de um litro e meio me acompanha todos os dias, renovada todos os dias com água do filtro de barro. Leio, estudo e espero a vida acontecer pra mim. Só tenho a agradecer por ela vir tão linda, tão intensa, tão perfeita pra mim.

Perfeito mais ainda seria o céu se um galo cantasse desafinado debaixo da minha janela e uma grama verdinha cheia de orvalho fosse meu quintal. Ou talvez diferença nenhuma faria, o amor chegou em mim e pode ir embora se quiser. A eternidade ficou plantada na minha alma, e daqui só nasce o que for bom.

Incrível, incrível. Às vezes me sinto tão pronta pra partir... mas ainda tenho uma missão, acho. Tenho que descobrir e é tão bom filosofar ao vento, escrever sobre a minha falta de tormento e virar poeta sem sofrer. Quem diria, não sofro mais. Sinto por quem duvida tão firme que fico me remoendo pelo meu passado, lindo, passado, ficou para trás. Eterno também, mas lindo e sem motivos pra me derrubar.

Eu estarei para sempre em ascensão.
Atenta ao furacão de cores que me assola todos os dias sem nunca parar.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Madness.

Essa não é uma história feliz, tampouco cheia de esperança. Ela não tem volta, aconteceu de verdade há muito tempo atrás e vem acontecendo ainda até hoje sem que nada possa ser feito. Não existe paliativo. A dor é constante e mesmo que mascarada por momentos abençoados, ela continua e não vai parar nunca.

O sorriso no meu rosto e no rosto da minha família esconde uma saudade de dias melhores. Um dia talvez, quem sabe, um dia espero possa fazer uma pesquisa primorosa sobre isso, mas hoje não tenho estômago, meu coração é fraco e, querendo ou não, tenho que conseguir tomar conta de mim ao menos, mas quero dizer que escondo essa saudade. E sei que não vai passar.

Loucura na minha casa tem o significado literal. Nunca dizemos que somos loucos por nada. Dei uma pausa para tirar foto de um raro momento, os cinco irmãos juntos. Não enlouqueça, não enlouqueça eu insisto, não deixe o mundo engolir o que há de bom, que a autodestruição não seja a solução para os nossos problemas, que o sol brilhe por dentro mesmo que o dia seja de chuva, nublado e medonho.

Ouvir a voz do meu irmão mais velho em suas palavras desconexas me deixa o rosto encharcado. Ouvi-lo perguntar por mim e dizer que estou bonita e ficar vermelho logo depois faz com que eu queira fugir para quando eu ainda tinha dez anos de idade, quando ele ainda tinha seus momentos bons. Hoje ele é assombrado por "eles" que ninguém sabe quem são, quer conquistar o território nacional com contratos no computador e diz que dentro do avião é confortável, mas é ruim porque as muitas pessoas declaram guerra umas as outras em pleno voo.

Um livro que ele nunca viu está desatualizado, no mundo dele que ninguém pode entrar. Um mundo que só ele consegue ver, só ele tem acesso com senhas. Ele mora numa casa enorme, mas diz morar num quartinho sem banheiros, porque "eles" não deixam que seja diferente. Ele fez um plano de trabalho que está presente em todo o território nacional, junto com "eles" e patrocinado por "eles", os caras que comandam a vida do meu irmão e que ninguém nunca viu.

Ainda há pouco ele entrou no meu quarto e disse oi, Amanda, você tá aqui. Eu disse sim, estou, senta aqui. Perguntou quem eu encontrei na internet e disse uma amiga. Ele falou jogar o papo fora e eu disse às vezes é bom. Ele pegou meu violão sem uma corda e perguntou se podia afinar. Eu disse claro, mas está sem uma corda. Ele disse tá sem uma corda? Tudo bem. Tudo bem, eu disse. E ele começou a afrouxar todas as cordas indiscriminadamente, eu pensei, mas ele chegou a uma combinação linda de afinação e começou a tocar como nos tempos em que ele ainda ficava bem. Tocava guitarra, acho que eu já tinha dito... E meus olhos já se enchiam de água mais uma vez enquanto ele dedilhava o violão, tocando um blues com as cordas afrouxadas.

Meu irmão mais velho tem uma loucura dentro dele que ninguém nunca entendeu, mas que eu sempre achei linda. O que me pesa são os momentos em que ele se sente assombrado, em que os alienígenas o impedem de divagar, quando o mundo, cheio de gente louca, solta gritos de guerra, ratos por todos os lados saindo dos esgotos e de cada cantinho das paredes de casa. Meu sobrinho de 13 anos já pode trabalhar na cabeça do meu irmão, e ele quer saber com o que, se tem uma marca associada, e ninguém discute, todo mundo entra na loucura, alguns de má vontade, outros apenas por ser mais fácil assim e logo o assunto acaba, ninguém sabe exatamente como conversar. Ele anda pela casa sonhando acordado, sem coragem de ler os livros, mas achando-os interessantes pelos títulos, querendo saber como a comida é feita para que não esteja envenenada. O extrato de tomate é feito de cogumelos, não tomates e assim ele tem um mundo colorido só dele, mas que às vezes pode ser muito escuro e triste. E é quando eu sinto o que ele sente mesmo de longe, mesmo a quase 2000km de distância.

A saudade que não passa é saudade dele, dos dias em que ele ainda sorria sem olhos arregalados, dos dias em que ele ainda podia dormir e me levar para a escola de música, me ensinar a tocar violão, dirigir seu fusquinha amarelo. Dos dias em que ele ainda podia piscar debaixo daqueles óculos quadrados sem que ninguém o estivesse esperando na esquina. Dos tempos em que "eles" ainda não existiam.

Minha família tem esse mistério irresoluto, uma vontade de que fosse diferente e mãos amarradas. O que podemos fazer é deixá-lo respirando, só ele sabe como se entreter. Uma conversa besta não faz efeito, mas se colocá-lo na frente da televisão ele se permite sorrir com os desenhos animados. Ele não é débil, não é idiota e passando na UnB em primeiro lugar, bom... vamos dizer que também não é burro. Pelo contrário, ele sempre foi o mais inteligente da casa, mas a vontade de ser sociável o destruiu. A vontade de ser diferente sendo que já era em sua forma mais limpa fez com que seu futuro se resumisse a saídas com sanduíches no Mc Donald's e uma repulsa pelo sol. Ele diz que o sol dá trabalho e que o sol é a poeira das ruas, que gruda na pele e faz queimar. Às vezes, em sua loucura, meu irmão é poeta sem querer.

Apesar de tudo, foi ele quem me manteve na linha. A lembrança dele não me deixou desistir, não me deixou enlouquecer. A lembrança dele me manteve longe das drogas e perto da música. Faço da música minha profissão em homenagem a ele que sempre quis um futuro livre mas foi atropelado pela rua, pela realidade mais dura, pelo lado mais sombrio de uma vida que tinha tudo pra dar certo mas que foi acorrentada pelo mal.

Por causa dele sei que existem pessoas más que fazem coisas ruins com a gente. Por causa dele sei que maus exemplos existem e estão próximos demais. Eu faço questão de afastar. Ao contrário dele, quero manter o sol na minha vida e cultivar o bem e queria que ainda fosse possível o retorno, para isso seria útil uma máquina do tempo, para curar as feridas e a loucura irremediável que assola os fracos, que domina meu irmão e todas as partes do corpo dele.

Ele voltou para tocar violão mais uma vez. Parece que eu to tocando com a mão esquerda, falou. Eu disse você está tocando com as duas, mano. E ele sorriu debaixo dos óculos, um meio sorriso, olhos semi cerrados e o prazer de estar de volta às raizes, com a irmã caçula atenta às notas, querendo que aquele momento durasse para sempre.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sunday.

Não costumo mais agitar coisas para fazer. Isso era uma coisa que eu fazia em São Paulo que dava muito certo, mas agora acho que gostaria de passar momentos mais reservados, mais comigo mesma. Descobri que tem sempre aquela fase da vida em que queremos estar mais quietos e que não ligamos, por exemplo, se ninguém ligar para fazer alguma coisa num fim de semana ensolarado.

Hoje dormi até dizer chega, literalmente. À medida que ia acordando pela manhã, várias vezes, sentia mais vontade de ficar na cama, para ver se o tempo passava mais rápido. Ansiedade para a viagem de amanhã, talvez. Um nervosismo gostoso de querer saber pra onde a vida vai me levar. Gosto que seja assim, gosto que tudo flua assim.

Então, me levantei, vesti um roupão, preguiça de tomar banho, e me sentei no sofá da sala para assistir um programa de TV que me surpreendeu por causa de um bloco em que os famosos levavam e recomendavam livros que faziam parte de suas vidas. Adorei as indicações e fiquei com vontade de ler todos eles, mas como todo mundo que senta para assistir TV, fiquei ali parada só vendo o tempo passar. Logo começou um filme, aquele em que tudo ganha vida no museu, engraçadinho, mas não aguento tanto tempo na TV, então resolvi caçar minha irmã. Ela havia saído para andar de slackline e desde a hora em que acordei queria aproveitar meu domingo de sol com a minha cadela, o monstro negro da casa.

Mandei uma mensagem, catei um pano velho, um potinho de plástico, tomei um banho rápido, calcei o tênis e coloquei o animal ofegante no carro. Que dia lindo, sei que ela pensou, porque eu pensei também, e fui. Não chamei ninguém, nem olhei o celular.

Cheguei e soltei a Hennah. Ela correu tanto que achei que fugiria, mas, mesmo de quase longe, ficava de olho para não me perder de vista. Depois de ser atacada por poodles valentes e muito enjoados, subir em cima da colcha de piquenique de uma mulher estranha e mau humorada, comer o pão de uma família e os ossos do churrasco, a cadela voltou pra mim. Minha irmã de biquini e short andava na fita bamba e ria enquanto eu só ficava olhando a cadela causar no parque da cidade.

Meu dia ensolarado se resumiu a uma alegria simples e sem tamanho. Olhar o animal correr e vir de repente para derrubar o pote de água, um carinho com cheiro de grama, uma lambida inesperada no rosto. Nada mais a esperar, nada para receber ou dar. Mais um lindo dia, obrigada, enfim.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Maybe we should go together.

Desde sempre desejei fazer um diário de viagens com os lugares que fui, as delícias que provei, os momentos que passei em alguma praia, tentando descrever a surrealidade de um pôr do sol magnífico ou os simples momentos passados com pessoas indescritíveis. E foi aí que sempre residiu meu problema em fazê-lo. Todas as minhas descrições pareciam tolas demais, infantis, nunca alcançando o objetivo de mostrar quão bons ou ruins foram meus momentos. Passei a escrever apenas os lugares que frequentei no rodapé das páginas da minha agenda e as pessoas com que estive, sem detalhes ou qualquer descrição. Apenas o lugar e as pessoas, para que eu nunca esquecesse os caminhos que percorri e quem esteve comigo na caminhada.

É sempre muito difícil escrever sem pesar. O drama, a facilidade de expressar uma dor, característica talvez de uma futura atrizcantora, doses pesadas de choro, carregado de infelicidades, bom... há algum tempo isso não faz parte de mim. Tantas vezes deixei bem claro que seria feliz para sempre, me forcei a sorrir, escrevi sobre qualquer coisa entre lágrimas de sucesso efêmero e nada mudava, meus pesares e tristezas e dramas e reclamações eram recorrentes e voltavam sempre. Até parar. Sem razão aparente, sem motivo aparente, até parar simplesmente, sem que eu fizesse força, sem que eu me obrigasse a mostrar meus dentes por aí.

Talvez porque passei a agradecer ao invés de pedir. Pedir apenas para os outros, que fiquem fortes, que sejam felizes, que conquistem seus méritos. Eu agora apenas deixo bem claro o que gostaria de fazer e agradeço o que recebi. O que recebo sempre foi bom demais, mas estou divagando! Ah! Tudo bem, sem problemas, nada é perdido quando se tenta mostrar o bom, assim penso. Voltando ao assunto de viagens, bem, nunca fiz um diário e nunca farei talvez, porque já comecei muitos e agora só começo o que sei que vou terminar. Sempre escreverei no rodapé da minha agenda meus dias e noites tão belos e bem vividos, os horários dos meus vôos e contemplarei trêmula talvez meu passaporte carimbado, minha mala de viagens com muitas etiquetas, minha agenda cheia de rodapés que ocupem páginas e mais páginas, mas desta vez gostaria de falar desta viagem.

Abrir uma exceção, mostrar detalhes não convencionais. De trás para frente é uma boa ideia para relembrar. A delícia de ficar no terraço de um albergue, na entrada, jogando poker ou conversa fora, tomando um guaraná bem gelado, ah, nem poderia, mas eu não ligo mais. Minha saúde é ruim independente da minha força de vontade, então parei de me restringir às delícias e o calor estava muito intenso, de fazer suar logo depois de um banho gelado na ducha forte do banheiro compartilhado. Tomar banho era a melhor parte do dia com certeza. As amizades internacionais me faziam respirar em inglês a ponto de chegar nos restaurantes e fazer o pedido em inglês como se fosse de outro país até me chamarem a atenção em inglês e dizerem que eu estava falando inglês porque meus amigos, recentes e internacionais, não falavam português. Eu tampouco falava espanhol, mesmo muito parecido com o português, ou holandês, meninas bonitas e de índole maravilhosa, aquelas holandesas. Loiras que só e, apesar da fama, muito inteligentes, essa coisa de rótulos ah, tão irritantes! Pessoas burras existem de todas as cores. Enfim, eu falava em inglês e me embaralhava na hora de mudar para o português e fazer o pedido como brasileira com orgulho que sou.

Chilenos, dois. Holandesas, duas. Uma brasileira brasiliense meio mineira perdida pelo Rio de Janeiro sozinha no Terrasse Hostel, perto da maravilha que é a praia de Ipanema. Uma amizade boa, quase instantânea que nos fazia dizer sempre "maybe we should go together". Jantamos juntos, loirinhas, moreno, branquinho, ruiva desbotada, fomos à praia e compartilhamos juntos o prazer de torrar no sol e jogar mau-mau em português, em holandês um nome que jamais saberei reproduzir novamente, passar protetor solar nas costas uns dos outros com as mãos cheias da areia que não nos largava. Primeiro um guarda-sol e uma cadeira, depois mais uma cadeira, depois outro guarda-sol, porque o sol estava mesmo de lascar. Não fiquei ardida graças as minhas passadas esporádicas de protetor solar fator 30 que logo acabou e passei para o quinze, acabei rosada ao invés de camarão frito como normalmente ficaria.

De madrugada, sendo solidários com a minha causa de ter que ficar acordada para não perder o vôo de manhãzinha cedo, a grande ideia partida de mim ou de todos, não sei bem dizer, de nadar no mar. Eram duas de uma madrugada muito quente, suando na varanda tomando piscolita, um drink chileno, ou piscoraná que era o meu caso já que coca-cola não é para o meu bico, quando resolvemos nadar de roupa e tudo. Deixamos nossos pertences nas mochilas no quarto para dez, pegamos a toalha cedida pelo hostel que nos recebeu maravilhosamente bem, e fomos. "Is that legal?" - Os chilenos perguntaram, porque no Chile não se pode nadar no mar a noite. "Everything is legal here." - Disse o recepcionista da madrugada do hostel, um negro simpático com um sorriso de virar de cabeça para baixo. Fomos os quatro, holandesa, chileno, chileno, brasileira, uma holandesa cansada ficara no quarto, tentando dormir. As mãos gelavam na água fria, mas ficamos com as roupas de baixo mesmo assim tomando caldos das ondas que só víamos quando já estavam bem perto de nós, no momento em que já era tarde demais. Um último mergulho no mar antes de ir para casa, revigorante, e já estou com saudade de uma amizade sem maiores interesses além do único de ir juntos para qualquer lugar, sem horário marcado, nos encontrávamos ao acaso e ao acaso saíamos andando para jantar ou tomar um coco gelado, que o chileno adorou. "Awsome!", ele disse quando provou a castanha. "So sweet", eu disse.

Um dia fez com que a viagem inicialmente entediante cheia de estudos e solitária para mim se tornasse uma viagem inesquecível, cheia de altos e sorrisos em inglês. De baixos, apenas os pesadelos durantes a noite e as minhas falas engraçadas enquanto dormia de quarta para quinta, de resto, tudo perfeito. A caipirinha de melancia forte demais ou a água do lado da cama que me salvou de tosses violentas, tudo perfeitamente onde deveria estar. Nenhum tropeço, nenhuma falha, tudo perfeitamente ensolarado, mesmo o primeiro dia, terça-feira chuvosa, mesmo a quarta-feira compromissada recheada de sucesso, a caminhada pela areia.

Se for para a Holanda um dia, saberei onde ficar. E é claro que direi antes de qualquer coisa, uma água no saguão, uma conversa na calçada, uma caminhada pela avenida na beira da praia: "Maybe we should go together". E poderei acrescentar sem medo: "My friend".

domingo, 22 de janeiro de 2012

Chocolate ao leite.

Era assim que costumavam nos chamar. Éramos perfeitos juntos ainda que em constrastes: étnicos, de personalidade, sociais. Éramos o máximo dos opostos que se atraíram como deveria, dois polos distintos indo um em direção ao outro sem saber, na verdade, onde toda a intensidade iria levar. Como todas as efemeridades mundanas, passou. Por razões tão óbvias quanto um mais um são dois. Uma distância, compromissos, trabalho, estudo, dois diplomas muito cobiçados. Um passado meio mal assombrado por parte de um, a falta de passado por parte de outro. A vontade e a falta dela, a disponibilidade e o sumiço.

O que ficou foram saudades inertes. Indo e vindo junto com o tempo e com as viagens, tão curtas, tão longas, tão para sempre. Um abraço, longo, demorado, no último dia e mais um outro abraço, sério, tenso, que ficou na memória suspenso como se não fosse nunca acabar. E não acabou dentro de mim ao menos. Ficaram os sorrisos, os xingamentos lúdicos, os apertos inesperados e a respiração presa num olhar desviado, todas as lembranças inundadas por um abraço, um último e duas palavras que quase já não importavam mais.

Um corpo sumiu no breu cor de pele carvão. O outro sumiu na intensa luz de ribalta, cor de nuvem. E no contraste que se uniram se separaram, no contraste que surgiram se desfizeram em pó, no contraste de 1000 quilômetros se encontram sentados, pensando um no outro, querendo estar perto, unindo, juntando, lutando, brigando e encontrando uma saída para os problemas num abismo que não se vê um fim. Permanecem na superfície, os dois de mãos atadas, com nós nos dedos, deixando que o destino, se é que existe um, faça com que os opostos se distraiam e se deixem, se larguem, se fujam cada um para o seu deserto particular.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Nunca pensei que fosse colocar meu trabalho acima de tudo. Acho que levei um monte de botas da vida para chegar nesse estágio ao qual me prendo sem medo. Fui criada para viver com preguiça de lavar as louças que sujei e de arrumar a cama grande demais para o meu tamanho, mas hoje é diferente. Vivi o peso da construção de uma vida e quero mais. Quero fazer com meus próprios braços, mãos, pernas e mente a vida que sonhei pra mim. Vida essa que ninguém pode construir no meu lugar. É incrível o que um sonho durante uma noite qualquer nos faz enxergar tanta coisa que não víamos antes.

Sei que tudo parece desconexo agora, mas para mim nada nunca fez tanto sentido! Só o fato de parar de sofrer e começar a sentir que a saudade doída se transforma em lembranças tranquilas já me faz pensar com muito mais clareza sobre onde ir. As dúvidas passaram, os medos ficaram para trás. Chegou a hora de cuidar de mim por vontade minha e não por falta de opção.

Tinha um sentimento eterno, achava eu, de estar sempre em pedaços. Sentia uma Amanda diferente para cada situação, para cada pessoa. Eu fui muitas sempre querendo estar inteira, achando que estar inteira significava me completar em alguém ou em alguma coisa. Descobrir que eu me basto foi a melhor coisa que me aconteceu nos meus quase vinte e dois anos de vida, com certeza. Hoje sinto que as alegrias que vivi não precisam voltar para que eu seja feliz de novo, as pessoas que passaram por mim não precisam ser as mesmas de tanto tempo atrás para que eu continue amando-as, quem amei não precisa vir até mim para que eu esteja completa. Sou completa e mesmo tendo um passado tão lindo e tão intenso, quero amarrar meus desejos no que virá. Chega de amarras perdidas num tempo que não volta mais. Sem romancear, ou qualquer coisa do tipo, um desabafo, acho que é o que isto significa, abro um sorriso sem segundas intenções e vou andando sem peso.

Não há nada mais belo do que a simplicidade de estar viva. Parei me sabotar sem nem precisar ler um livro de autoajuda. Vivi minha vida ao invés disso e enchi meus neurônios de romances deliciosos, danadices e afins. Parei de achar que nada é tão simples assim, porque na verdade tudo é sempre mais simples do que parece. Aprendi que os clichês e as filosofias mais bobas podem ser verdade sim, porque não, mas que o melhor remédio é sentir-se vivo e fazer jus a esse sentimento. Fácil falar depois que o sofrimento passou, é verdade, mas manter-se num estado de declínio mental e espiritual é inaceitável. Minha saúde não está lá essas coisas, mas para tudo se dá um jeito.

Achar-se é realmente encontrar uma luz dentro de si mesmo. Me sinto iluminada por dentro, cheia de força de vontade, sem preguiça de arrumar o quarto, lavar a louça ou chegar na hora marcada. Minhas saudades são leves, meus pesares são quase nada e eu posso dizer sem receio nenhum de me arrepender que eu amo a minha vida e que não a trocaria por nada neste mundo. O gosto de alcançar uma meta é tão, TÃO... não tenho vocabulário suficiente para definir o gosto que tem uma vitória. É bom... é bom demais. E se uma meta foi alcançada, outras e outras serão impostas a mim, por mim mesma, para sentir o doce que é o dever cumprido.

O segredo é não desviar-se do caminho, do sonho, da vontade de ser cada dia melhor.