quinta-feira, 27 de maio de 2010

Último outono.

"E nunca mais seremos os mesmos
depois de tanto chorar".

Sete Saias vão rodar, digo a mim.
Fecho os olhos e visto a saia rodada vermelha.
Cabelo solto, revolto, caído nos ombros pintados.
O rosto branco envolto num fino véu, seguro apenas por um grampo ornado de pedras foscas.

Agarro a que brilha e rezo.
O Zeloso Guardador me espera do outro lado da linha,
me guarda debaixo do seu olhar.
Desenha meu trilho, grita pra encontrar.

São passos curtos num caminho longo demais.
Meus nervos não tremem mais, ao menos.
Deixei de atravessar gamelas aos berros.
Passo curto, lento e incerto, mas não volto mais ao mesmo lugar.

Minha estaca se desmanchou, sei de cor o que já trilhei.
Meu corpo andou, e seguiu. Minha alma foi montada.
Fui o pão, as migalhas e as curvas que me acompanharam.
Andando em círculos é difícil achar, mas aqui me encostei e descansei à sombra de mim.

Me alcancei.
Ergui a taça da primeira vitória.
Voltei a mim.

Sete Saias vão rodar.
E vou seguir.
Aos poucos trabalhar, aos poucos subir, aos poucos molhar.
Aos poucos retomar, aos poucos continuar e aos poucos correr.
Aos poucos funcionar, desarmar, amar e merecer.
Aos poucos crescer, conhecer e reestabelecer.
Aos poucos estabilizar, adornar, energizar e purificar.

O ar, meu ar, nosso ar.
Salve, salve, protetores de mim.
Encontrei meu lar.




quarta-feira, 19 de maio de 2010

It's all that I've got.

"I'll be just fine...
pretending or not."

É o que eu tenho, por enquanto. Fogo cruzado, peito apertado e pouca fé.
Me disseram que não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta.
E eu luto. Mais do que o espírito suporta. Mais do que o equilíbrio sustenta.

Contra mim e meus demônios.
Exasperados, absortos em cólera e fúria.
Racho meus ossos contra as portas.
Tento abrir à força as janelas aferrolhadas.

Agora pinto as unhas, arrumo o cabelo, hidrato a pele.
E pelejo para ocupar todos os espaços de mim.
Todos os cortes abertos e ainda aparentes...

Suspiro, respiro e transpiro.
Em busca de controle, inspiro.
Me desespero e caio, piro.

Mas eu sempre levanto.
E sempre me viro.

E me conserto.
Uma hora fico pronta.
Só preciso de um pouco de ar.

domingo, 9 de maio de 2010

Mt. 6.22

"São os olhos a lâmpada do corpo.
Se os teus olhos forem bons,
todo o teu corpo será luminoso".
Mt. 6.22

It's like black water. You can't see and you're afraid to touch.
You can't drink, you can't swallow, you can't swim.
And you don't know why it is so dark.
It's like cold wind. You can't see either but you feel and you're too warm to leave the blanket.
You're too warm to open the door.
It's like a glorious night, with glorious surprises and bewitched failures, followed by nightmares in wet pillows.

And when my pillows get dark and cold and wet, I know:
my steps are going in the wrong directions. The directions: too many to know where to go.
When my mind faces the mirror, I know:
I can't forgive
But I'll live.