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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Não.

Não, não, não. Tudo o que disseram sobre o abraço (sobre qualquer abraço!) não faz o menor sentido pra mim. Não faz. E disseram que abraço, um abraço morno quando se está triste, pode ser bom. Mas isso ainda não faz sentido. Não faz o menor sentido! Não é um abraço morno que conforta. Não é um abraço quente, não é um abraço sincero. Não é um abraço desconhecido, não é o abraço que aperta forte. Não é o abraço que chora junto, não é o abraço que se abre ao primeiro sinal de tristeza.

Tudo o que disseram sobre o abraço (sobre qualquer abraço!), pra mim, não faz o menor sentido.

Não é o abraço. Não é esse abraço, que vem de um lugar que nunca foi visto, que pacifica. Não é! Nunca foi. Não é abraço gelado, desonesto. Não é esse, tampouco. Não é o abraço pequeno, não é o grande, não é o fraco. Não é o simples, modesto, rico, impulsivo. Não é. Não é esse o abraço que conforta. Não é!

Não, não é o abraço de parentes distantes, não é o abraço raro. Também não é esse.

Abraço é bom. Todos são, admito. Mas o que disseram sobre o abraço, aquele abraço qualquer, de qualquer um, que é capaz de confortar, é pura balela. Balela, mentira, falso-testemunho. Não é esse abraço que funciona pra mim. Não é o que vem da noite, não é o que vem de longe, não é o que vem puro. Não é o que vem da cabeça de quem oferece o abraço. Não é esse!

O que conforta é o que cabe em mim. E o que cabe em mim pode ser frio, comovente, molhado. O que cabe em mim pode ser seco, muito quente, suando. Pode ser aquele que segue depois de comer o úlitmo pedaço da pizza, pode ser aquele que vem logo antes do suco. O que cabe é aquele de todos os dias, mesmo diferente a cada toque. O que cabe é o abraço conhecido, presente, sempre do mesmo tamanho. O meu tamanho. O que serve é o abraço moreno. O abraço alto. O abraço macio. Pode ser de qualquer jeito, por vir a qualquer momento, mas tem que ser esse. O abraço que mede o ombro, a cintura, o pescoço. Que abrange tudo por dentro, a retina, as veias. O abraço que promete, o abraço que cumpre, o abraço que permanece. Sempre. Que está ali, mesmo sem abraçar. É o abraço que gruda e não quer sair, o abraço andando pela avenida paulista ou pelo baile de casamento. É aquele que enxe o saco pra vencer, aquele que insiste até virar puro amor. É esse, o abraço que acabo sentindo sem existir, o abraço que sinto antes de dormir. O abraço que pede retorno sem precisar abrir a boca. O abraço que retorna com o maior prazer. O abraço que me faz importante, que me tem com vontade. O abraço que vai voltando, que volta indo, que fica. Que continua, que nasce com lágrima, morre com o sorriso, que sorri quando acaba, que acaba quando cansa. O abraço que fica, que fica, fica... e fica mais um pouco porque não consegue parar de se enrolar, que não sabe como largar. Aquele que larga sem querer mas volta pra se acalmar.

Cabe em mim. E cabe tanto, tão rente e tão certo, tão fechado, que acaba se perdendo.
De tanto se perder, já virou eu. E o meu abraço já virou o outro. No fim, nunca houve abraço. Nunca houve resposta, nunca houve sofrimento, nunca houve nada. O que houve (e o que se ouve) foi a respiração calma, os olhos fechados, o quarto quieto, a mente funcionando apenas no inconsciente, a noite mergulhada bem fundo no silêncio...

Existe, sim.
E é meu.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Das coisas que eu não entendo,
você é a que eu gosto mais."

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

L.

É só o que sai de mim.
É só o que sai de mim.
É só o que sai de mim.

E o tempo começa se descascando.
Aos poucos ficando cego.
E tudo são flores, quentes, murchas, marrons.

A mão coça pra percorrer o teclado rapidamente.
A cabeça pena nos pensamentos-esperança-vã.
Porque continuo a esperar, continuo a me decepcionar.
Dia após dia. Minuto após minuto. Palavra após sentença.

E a pele começa se desgastando.
Aos poucos ficando lerda.
E tudo são folhas, frias, duras, barulhão.

O pé chuta pra permanecer livre do que é dormente.
A barriga grita no bolo-alimentar-exagerado.
Porque continuo a agitar, continuo a rebocar.
Lágrima após lágrima. Fala após piscadela. Luz após fogo.

E a mente começa se debulhando.
Aos poucos ficando flácida.
E tudo são descasos, chatos, tolos, turbilhão.

O cotovelo fere a tábua pra provar que no corpo é existente.
As costas revelam sentidos fantásticos do que pode ser uma cosquinha de mosquito.
Porque continuo a levantar, continuo a aceitar.
Mentira após texto. Xingamento após carinho. Receita após comida.

E o rosto começa se achatando.
Aos poucos ficando inerte.
E tudo são ares, fantasmas, inexistências, desistências, convivência, paciência, penitência, pertinência, macilenta conveniência.







Amor.

Eu também te amo.

Eu também te amo.

Conversa Fiada

– Ah!! Sei não!! Tô aqui longe, coisa que fiz vez ou outra, tentando me acostumar com a falta de você. Acostumo não, tá provado porque muito tentei, em vão. Tô aqui, distante, vendo outros céus e outras serras, sei que parecidos com os que vc tb vê mas mais longe. Tentei, viver longe de seu abraço, de seu brilho, de seu calor. Tentei, mas... a saudade é por demais forte ainda; tô pronta não, então, mais uma vez, tenho que voltar... me espera...
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Fantástica mãe,
Fantástica sim. E amanda. Muito amada.
Escrevi esse texto num papelzinho azul na madrugada de segunda para terça, enquanto baixava alguns CD's na internet e depois de ler o seu texto sobre os flamboyants. Agora, gostaria que vc soubesse o que pensei enquanto ainda está longe.
.
.
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Fiquei te esperando [e ainda espero], mas você não chegou de madrugada. Às vezes me alivia pensar que você não enfrentou esse mundaréu de estrada à noite, mas a saudade começou a apertar forte.

Não dá pra andar pelas largas calçadas, de Brasília, cheias de flores sem pensar em você. Não dá pra ler os seus flamboyants sem derramar uma poça razoável de lágrimas. É tempo de flores...

Pode não parecer, mas a todo minuto penso em você. E no quanto gostaria de ver sua felicidade restaurada e firme. Para mim, é preciso que você diga o que pena, o que sente. Minhas adivinhações são falhas. Não sou como outras pessoas. Preciso dizer e ser ouvida, preciso escutar enquanto os outros falam. Preciso ouvir para entender. É que eu também virei meio pedra e minha percepção do mundo fora de mim começou a dar tilt. Também virei meio pedra, apesar de ainda me derreter por completo pelas pequenas amostras da sua alma extraordinária.

Para mim, é difícil te alcançar. E juro que não é falta de amor. Você sabe que não é. Às vezes acho que pode ser amor demais, mas o amor bom, puro, nunca é demais, nunca pode chegar a ser inadequado. Pra mim, todo amor é válido. Mas não é esse o caso. O caso é que tenho dificuldade em alcançar as ações das pessoas e o significado dessas atitudes. Tenho dificuldade em manter os laços no nível em que deve estar. Tenho dificuldade pra me relacionar profundamente. Porque virei meio pedra também. Meu amor é do tipo obscuro, escondido. Porque virei meio pedra também. Também fiquei em pedacinhos e ainda hoje vago à procura dos lugares por onde andei tentando reuni-los. Às vezes procuro as compensações, mesmo sabendo que compensações não funcionam, e acabo me quebrando mais um pouquinho outra vez.

Acho difícil pra caramba amar.
Mas é incrível a força que você me traz quando bota pra fora o seu fascínio, o seu dom, as suas obras, o seu jeito de levar a vida. Você me faz querer agarrar a minha própria vida e a de outras pessoas com unhas e dentes, até que essas vidas se convençam a se estabilizar. É fascinante ler o que sai de você. É também fantástico passar o olho linha após linha sem querer parar. E aos pouquinhos você vai me colando.

VOCÊ é uma mulher EXTRAORDINÁRIA. Nem por um segundo deixa de lutar, de acreditar, de amar.

Tento me guiar pela sua teimosia sempre correta. E eu sigo te rondando, esperando você me chamar pra dizer que me ama.

Fantástica mãe, mulher.
Fantástica.

Tenho muito orgulho de ser sua filha. Tenho muito orgulho em poder te amar de um jeito tão forte assim. E sempre será uma honra poder comentar seus trabalhos fantásticos. Seu jeito de escrever me tira o fôlego, me deixa sem o que dizer. Te disseram que tem lugar para todos, mas você não é só mais uma. Você não é medíocre, com trabalhos medíocres. Você é maravilhosa, com trabalhos emocionantes. Um ser humano completo.

O meu conselho de ex-adolescente-quase-adulta é que você siga o seu coração. E escreva. Até doer, até esvaziar, até murchar. Escreva, porque as lágrimas que eu derramo não caem por coisa pouca e você tem extrema facilidade em derrubá-las de mim. Você as derrama, lágrimas boas, lágrimas doces. Escreva. Até ser incapaz de produzir. Porque você tem toneladas de coisas lindas dentro de você. E eu quero vê-las escritas, dentro de um livro cheio de páginas cheirando a novas.

Porque vale a pena cada palavra que sai da sua cabeça, da sua mão, dos seus braços.

Vale a pena cada pedacinho perdido de coração pelas estradas da vida que passou como um tornado por nós.

E eu te amo até o chão em roda.

ATÉ O CHÃO EM RODA...

"Meu cálice transborda"- e continuo te esperando.
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– Tá vendo porque fico roxa de saudade? É por causa de que vc não é coisa pouca, coisa vã, coisa vazia. Tenho saudade desse universo infinito que se abre, expande, se espalha, avança, alcança. Tenho saudade porque tira o pó das dúvidas, arrasta o que está imóvel, arranha a divindade; eis porque tenho saudade. Você é a prova de que o ser humano pode sempre, eternamente, se superar...
Tô indo... com a garganta muda, o coração em desalinho e a cara marcada de choro... sem falar no soluço amarrotado... tô indo. e... obrigada. Obrigada por ser a minha redenção.

Mamãe
Daqui de Minas.
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– Eu te vejo vindo por cima das montanhas...
Esperando, esperando, esperando...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

L.



Assim, tudo é novo.
É como estar no meio do fogo.










E já minha pele começa a queimar...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Criar.

E a decisão é tomada quando menos se espera. A necessidade aparece quando nos é inconveniente. Vontade dá e passa. O que mais passa? Tudo ou nada.
E ficam pelo caminho as partes quebradas, os caquinhos, como se diz. Ficam pelo caminho para que outros possam achar e, com muita força de vontade e caráter, catar e colar de volta ao lugar que pertencem. Ficam alguns buracos depois do conserto. A cola resseca por fora da obra em mosaico. Mas está de pé, firme. Acidentes nem sempre são infelizes e todos os males vêm para o bem. Acredito.
É... acredito.
Acredito agora, quando achava que tudo havia sido perdido.
Mas os verdadeiros valores se acham.
E as decisões têm que ser tomadas.
Com ou sem nexo, com ou sem conveniência.
Os caminhos foram feitos para nos deixar em dúvida e os mais difíceis foram feitos para serem os mais corretos. Foram feitos para serem os escolhidos. E prossigo correta, mesmo sentindo dor. Mesmo me arrependendo. Me custa caro a tentativa, mas ao menos tento descobrir o meu lugar. Ou os meus lugares, porque um lar pode não ser fixo. Um lar pode ser em todo canto que for preciso estar.
Acredito e creio. Assim, crio.
Não crio essas palavras soltas, que são apenas alguns rascunhos de pensamentos.
Crio força e determinação. Crio suporte e base. Crio seja lá o que for que me empurre pra onde devo ir. E vou.
Vou... mas não tenho pressa.
Porque ainda não é hora de ir.
A cola secou e se firmou. O mosaico é sempre uma obra de arte independente das cores que se somam. Os menores cacos, aqueles incoláveis, ainda seguem a minha sombra. E eu sigo pelo escolhido, o mais difícil.
Sem pressa...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O que você faria?


"Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria? Ia manter sua agenda de almoço, hora, apatia ou ia esperar seus amigos na sua sala vazia? Corria pra um shopping center ou para uma academia pra se esquecer que não dá tempo pro tempo que já se perdia? Andava pelado na chuva, corria no meio da rua, entrava de roupa no mar, trepava sem camisinha. Abria a porta do hospício, trancava a da delegacia, dinamitava o meu carro, parava o tráfego e ria."


O último dia - Paulinho Moska



Me diz o que você faria!
Me diz o que eu faria!
O que eu faço.
O que faço.


Um caminho, dois caminhos, três.
Uma escolha, seis escolhas, mil.

O ponto de interrogação roda, e faz arder.
É bola de magma, vulcão.


Nu; vestido. Só; acompanhado.
Protegido; sem guarda-chuva.
Futuro; presente.



Se soubesse que o mundo terminaria amanhã, não teria dúvidas.
Fácil escolha. Ficar e esperar o fim.




Existem duas cordas. Uma em cada pé.
E existem duas de mim. A de cima e a de dentro.
E são siamesas. Inalteráveis.


O que você faria?


Abri as portas do meu hospício...
E o que sai de lá, só Deus sabe.


Escuta: fica. Pensa: vai.
Inquieta atenta aos dedos raspando as cordas: fica.
Espera para o alcance: vai.


Respira, abraça, toca: fica.
Vê o tempo passando: vai.
Vê todos os semblantes ou silhuetas conhecidos: fica.

Dorme: vai.
Dorme junto: fica.
Olha: fica.
Sente: fica.
Fica: fica.
Coragem: vai.
Medo: fica.
Destino: interrogação.
Força: zero.
Paciência: choro.



Lágrima: fica.
Lágrima: vai.




Quer: fica
Precisa: vai.






Me diz o que você faria, porque eu não sei.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Anouk


Gosto do que não precisa explicar.
Gosto do curto e do solto, porque dizem tudo a quem precisa entender.
E o que vier de belo na criação, que fique. Que permaneça.
Que chova chá com mel, que deite resfriado, que fique nu sob a janela na madrugada ventania. Que se contraia num susto, que ouça no silêncio interno o barulho do lado de fora.

É o que nunca foi antes.

As fronhas macias cercam os cabelos soltos revoltos como as palavras que se jogam. O lençol combinado, antigo, e por isso melhor que qualquer novidade, escuta o deslize das lágrimas, sente o cheiro salgado de uma ponta de desespero. Testemunha as fungadas da enfermidade, a tosse da rouquidão. E silêncio.

A cadeira preta se esconde num canto, para não ver os olhos se fechando, ao mesmo tempo em que as lágrimas vão secando no caminho entre os olhos e o maxilar. E silêncio. Salgado, quente.

Entra sonho, sai sonho. Sonho bom, sonho pesadelo, sonho vazio. Os braços cruzados, unidos, juntos, jogados, dormentes, inquietos absorvem todo o macio do edredon violeta. Se são dois, se é um só, não há diferença.

A agonia se esvai como vapor d'água.
A pontada de desespero parece nunca ter existido.
O sono chega pesado, mas não consegue se impor.
Porque há o que é mais pesado que o sono.
E o que era lágrima vira roupa fora do corpo, sapato fora do pé.
Um resmungo, um movimento, dois movimentos, um resmungo mais forte e a fome. O cheiro marcante.

As meias ao lado da cama, os chinelos comportados, o quente, o frio, o contraste, preto, branco, os remédios gripais, o leite. O sono, pesando, se impondo, enxendo o quarto de escuro. O gosto, o doce, a boca seca, saliva perdida; líquido.



Abraço.
Dorme.







E quando tudo parece parar, o dia vara a cortina...