sexta-feira, 18 de maio de 2012

RUN, LOVE, RUN.


Estou mesmo correndo contra o tempo, mandando meu coração se desapaixonar ao mesmo tempo em que me encanto de novo. Engraçado, quando a gente não pode, tudo acontece e tudo passa a poder. Não tenho o poder de mim, como a Clarice, ser feliz me consome muito. Meu estômago dói, meu corpo estrepado de viver sem pensar, agindo aos trancos e caindo dos barrancos. Há dois dias grito que não posso me apaixonar, que diabos!

Eu não posso me apaixonar e à medida que desapaixono, me apaixono mais. Pelo meu trabalho, minhas crianças, meus amados tão pertinho de mim. É onde meu coração está. Aqui, nessa cidade que faz frio e sol num céu de nuvens impagáveis, lindas, que trago todos os dias pela manhã. Logo que acordo sinto o mundo dentro de mim desanuviando sonhos maus. E me apaixono pelo novo dia. Me apaixono pelo sorriso. E vivo de novo, olha que coisa.

EU VIVO DE NOVO, quero gritar no teu ouvido e no ouvido dele. Nos ouvidos de quem anda, respira e ama. Quero gritar e subir no meio fio e gritar de novo e descer do meio fio e atravessar a rua olhando para os lados como muito bem minha mãe me ensinou, pequenininha ainda. Eu. Descabelada andando por essa vida descalça procurando o calor dos braços do amor, desde sempre, assim que acordo procuro o amor e quando durmo vou com ele.

Engraçada essa vida, que nos tira e nos dá. Que afasta e repões, como despensas que se enchem de comida, se esvaziam e tornam-se a encher. A diferença é que mesmo vazia, basta a mim. E agora enchi de novo, OLHA QUE COISA.

E de novo os ciclos se repetem, o que é o para sempre?
Amor é para sempre, dizem, mas eu acabei de desamar, como a criança que larga o peito pela mamadeira e a mamadeira pelo copo e o copo pela garrafa até despencar. Engraçada essa vida que vai e vem. Olha que coisa.

Já é o quarto dia que chego no trabalho gritando no ouvido da secretária que eu não posso me apaixonar.
Já era. Já foi.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

HEAVEN'S LIGHT


Desaposentando o modelito moletom por todos os lados mais Crocs com meias, vejo que estou atrasada com a vida. Ela está acabando, aos poucos, mesmo, mas tenho que correr.

Não posso deixar de lado meus hábitos, organização é fundamental, mas hoje parei de podar crianças. Engraçado minha mãe querendo ensinar metodologia do estudo para meu sobrinho de cinco anos de idade. Era uma criação, uma arte, uma brincadeira para ele. Alguma coisa que saía de dentro da cabeça dele que o divertia, papel tesoura e cola para todos os lados e eu arrumando meu quarto quando ouço, sem querer quase querendo, minha mãe dizer Caio, você precisa planejar. Não dá pra sair cortando indiscriminadamente assim.

Me horrorizei com a correção. Alma de artista, saio escrevendo tanto às tontas, não poderia deixar isso acontecer. Queria deixar meu sobrinho criar e ir além do convencional de normas e regras, droga, ele ainda é uma criança.

Sei que um mínimo de organização é necessário, mas para nós, adultos, que temos muito com o que nos preocupar. Uma criança só quer brincar, ela só precisa das ferramentas em mãos. Fazer com que ela planeje só vai fazer com que tenha mais coisas para se preocupar e uma mente infantil preocupada não trabalha, não flui, não evolui. Nós, adultos, nos organizamos para nos despreocupar. Tarefas demais para crianças, apenas prende aqueles pensamentinhos que voam alto, alto.

Precisamos das regras, nós, adultos, travados, firmes nos empregos, infelizes no mormaço do cotidiano, retos nos caminhos, fodidos no amor. Criança ama para sempre, desenha paraísos e corta o papel para infinitas possibilidades. Criança ainda corre pelos sonhos, astronauta, jogador de futebol, superstar. Criança ainda pensa e flui, criança é a liberdade que tanto procuramos, nós adultos afogados em cansaço e mágoa.

Precisamos crescer fortes, livres e nos salvar das pressões humanas. Precisamos arranjar um jeito de ensinar o bem e a responsabilidade sem que nossos mecanismos criadores se fechem. Precisamos ser fortes para deixar que nossas crianças gritem tentando cantar, sonhem em busca do impossível. Elas só saberão que é impossível quando alguém as ensinar.

Enquanto isso faço a minha parte. Deixo minhas crianças irem.
E vou com elas. Talvez seja esse o caminho para chegar lá.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

I'M HEALING NOW


Esses meses passarão rápido por você. Já dizia o poeta... eu passarinho. Devagar como a lesma que deixa rastros brilhantes, lento como a mula cansada, como eu cansada, passarinho. 

Eu nunca soube o que faria comigo mesma. Agora sei. Né. Já não era sem tempo saber. Mas agora eu quero saber o que fazer com você, porque essa sempre foi a minha certeza. Guardar você. Agora se eu taco fogo nisso ou se jogo tudo para o ar, ainda não sei.

Aliás, não saber é o que eu mais sei dizer. Engraçado como a vida é engraçada. E na idiotice das minhas reflexões sempre de mesmo cunho sentimental e meloso, me sinto viva.

Pelo menos já sei usar aquele olhar de novo. Aquele olhar que era só seu, bom, já não é mais. Aquele lugar que era só seu escorregou pro canto. Tudo muda de lugar quando resolvo dar uma chance a mim mesma.

Só sei falar desses assuntos de amor também. Me sinto a Adele da literatura barata, a Whitney Houston do desespero humano, a Maria Callas do conformismo solitário. Coco era o nome da lombriga de Callas. Acho que sou Coco, a lombriga. A lombriga de mim mesma. Me consumo, sou o hospedeiro de mim. E, merda, vou! E dou risada de ir! Dá um livro: VOU. Ou como Augusto dos Anjos e seu sangue: EU.

Hoje cansei, terminei e resolvi acordar.
E continuo indo. Uma hora chego lá.



Cansado de chorar pelas estradas.Exausto de pisar mágoas pisadas.Hoje eu carrego a cruz das minhas dores.

- Augusto dos Anjos

terça-feira, 8 de maio de 2012

THOSE COLD WIND DAYS


Passando pelo vento frio de uma manhã ainda no outono.

O inverno não vai demorar muito a chegar. Aposentei temporariamente meus shorts, minhas regatas e busquei no fundo do meu armário meu casaco vermelho. Agora é outro casaco vermelho. O rascunho de lembranças que comecei há cinco anos atrás virou outra história, outra coisa, de outros tamanhos. O casaco vermelho original foi emprestado e depois perdido, como minha vida. Emprestei minha vida e a perderam, agora me encontro num estado de busca de mim mesma aparentemente eterno.

Achei o casaco vermelho, afinal. O outro, de agora. Não estava no armário, ou no fundo, ou no raso. Estava ali, pendurado na porta do meu quarto apertado, quase todo cheio por causa da cama de casal fofinha em que durmo sozinha todas as noites.

"Não quero parecer amargurada", uma amiga minha escreveu recentemente. Também não quero, não estou amargurada. Tudo dentro de mim parece saudade e vontade de repetir, só. Mas estou feliz assim como estou, já diziam os mentirosos. Eu nem digo que vou bem ou mal. Eu vou e não vou parar. Nunca mais vou parar. Se as pessoas ficam para trás, é uma opção delas. Eu sigo, se devagar ou rápido, eu vou. E como já disse uma, duas, milhões de vezes, vou em frente num clichê terrível sem saber pra onde.

Acho que minha alma é bilíngue.
E não me importo nem um pouco.

Aproveito o vento frio, assim como o sol torrando, assim como o sofrimento, assim como o amor que foge, que vai ou vem, assim como as borboletas no estômago que sumiram, assim como meu trabalho que me dá dor nas costas, assim como minha família linda barulhenta. Eu aproveito. Lindo é tudo. Mesmo, sem ironias desta vez. Eu aproveito e vou um dia depois do outro. Sem parar.

Eu sempre acho que já é hora de morrer, por não saber ainda o que fazer, que missões completar. Por isso vou, sem me questionar, sem reclamar, tentando não fazer rimas podres de pobres. Eu vou. Do trabalho para casa, de casa para o ensaio, do dia para a noite, da noite para o dia, do sonho para o pesadelo mais horroroso, do céu para o inferno e da alma para a carne. Todos os dias. Sem parar.

Eu vou.

Eu vou.

Pra casa, agora, eu vou.

Pararátimbum, pararátimbum.

Eu vou eu vou euvoueuvou

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cidade fantasma.

Dentro das casas tudo vive vazio, como fantasmas pessoas, plantas e animais. Existe no fundo dos olhos de todas, todos, tudo uma tristeza plena de acidentes de carro fatais, fofocas indecorosas, tensões de aparências. Só aparências.

Eu sorria querendo desaparecer. Eu trabalho, trabalho, trabalho, estudo, estudo, estudo e sonho o pouco sono que ainda consigo dormir, perdida nas minhas ilusões há muito descobertas que não desaparecem jamais. Até agora.

E vejo um amor que não existe, isso não é amor, que diabos! É muito claro quando se quer viver para sempre mesmo que triste ao lado de alguém. É muito claro quanto querer morrer, sem ter coragem de segurar a porta antes de ela bater contra o vento.

É tão claro como querer ignorar a tudo e todos e se misturar nas milhões de cobertas que ainda não aquecem o frio num dia de calor. É frio no calor. É mais frio ainda quando faz frio. O abraço morno não é mais meu. O que me aquece não existe mais. Pertence a mim, mas não me basta. Parou de transbordar, parou de retinir e soar. Parou de crescer e virou uma coisinha indefinida se acabando e apodrecendo dentro de mim.

Passando pelo braquiarão a 170 quilômetros por hora, sem querer diminuir a velocidade, ultrapassava os carros  como se morresse. Sem aviso, sem esperança, sem olhar para trás. Ia morrendo ultrapassando sem nunca ser ultrapassada, deixando o resto para trás, sem nunca ser salva.

É tão forte querer ir embora de novo, pra nunca mais voltar. Como um ímã meus sentimentos me prendem ao chão, à vida, ao trabalho, ao foco, ao discernimento, à inspiração. Meus sentimentos me guiam, me fortalecem, me lançam para a frente sem dó e eu sigo, cabeça erguida, peito aberto, respirando sem temer.

Eu não tenho mais medo. Medo de nada.

Medo do escuro, medo da morte, medo da forca. Não tenho mais medo de mim porque sei que sou inteira.

Medo de altura. Me dá o salto que eu pulo.

Cheguei em casa em 1 hora de viagem. 167 quilômetros percorridos, completamente nas sombras de mim. Quilos e quilos de metros. Os caminhos esquecidos, os carros para trás em segundos, tudo morto lá atrás. E nada me tira a vontade de ressuscitar tudo o que passou e colorir todas as lembranças e fazer tudo de novo.

Esse passado morto ainda vive pra mim. Delicada, paciente, linda, requisitada, responsável, focada, disciplinada, trabalhadora, competente, saudável, divertida. Um monstro dentro de uma aparência complicada. Um monstro que quer esmagar toda a carne por cima dos ossos e esgotar todo o sangue quente e esfriar a pele murcha e rachar os dentes e cair no chão.

O platonismo, aquele sentimento que ergueu poetas e eternizou milhares de nomes.
Não quero me eternizar para a humanidade ou virar patrimônio histórico, não quero ser poetiza, reconhecida, relembrada, anotada, estudada. Quero ser o sol, a luz e o bem para alguém. Alguém que eu queira também.

Me dá o salto que eu pulo. Me dá a pele que eu curo. Me dá o sol que eu esquento.
Me dá a ponte que eu atravesso. Me dá a carne que eu como, o suor que eu seco.
Me dá o vento e eu vôo. Me dá o mar que me afogo. Me dá você que eu amo.

E, juro, sem medo.