quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cidade fantasma.

Dentro das casas tudo vive vazio, como fantasmas pessoas, plantas e animais. Existe no fundo dos olhos de todas, todos, tudo uma tristeza plena de acidentes de carro fatais, fofocas indecorosas, tensões de aparências. Só aparências.

Eu sorria querendo desaparecer. Eu trabalho, trabalho, trabalho, estudo, estudo, estudo e sonho o pouco sono que ainda consigo dormir, perdida nas minhas ilusões há muito descobertas que não desaparecem jamais. Até agora.

E vejo um amor que não existe, isso não é amor, que diabos! É muito claro quando se quer viver para sempre mesmo que triste ao lado de alguém. É muito claro quanto querer morrer, sem ter coragem de segurar a porta antes de ela bater contra o vento.

É tão claro como querer ignorar a tudo e todos e se misturar nas milhões de cobertas que ainda não aquecem o frio num dia de calor. É frio no calor. É mais frio ainda quando faz frio. O abraço morno não é mais meu. O que me aquece não existe mais. Pertence a mim, mas não me basta. Parou de transbordar, parou de retinir e soar. Parou de crescer e virou uma coisinha indefinida se acabando e apodrecendo dentro de mim.

Passando pelo braquiarão a 170 quilômetros por hora, sem querer diminuir a velocidade, ultrapassava os carros  como se morresse. Sem aviso, sem esperança, sem olhar para trás. Ia morrendo ultrapassando sem nunca ser ultrapassada, deixando o resto para trás, sem nunca ser salva.

É tão forte querer ir embora de novo, pra nunca mais voltar. Como um ímã meus sentimentos me prendem ao chão, à vida, ao trabalho, ao foco, ao discernimento, à inspiração. Meus sentimentos me guiam, me fortalecem, me lançam para a frente sem dó e eu sigo, cabeça erguida, peito aberto, respirando sem temer.

Eu não tenho mais medo. Medo de nada.

Medo do escuro, medo da morte, medo da forca. Não tenho mais medo de mim porque sei que sou inteira.

Medo de altura. Me dá o salto que eu pulo.

Cheguei em casa em 1 hora de viagem. 167 quilômetros percorridos, completamente nas sombras de mim. Quilos e quilos de metros. Os caminhos esquecidos, os carros para trás em segundos, tudo morto lá atrás. E nada me tira a vontade de ressuscitar tudo o que passou e colorir todas as lembranças e fazer tudo de novo.

Esse passado morto ainda vive pra mim. Delicada, paciente, linda, requisitada, responsável, focada, disciplinada, trabalhadora, competente, saudável, divertida. Um monstro dentro de uma aparência complicada. Um monstro que quer esmagar toda a carne por cima dos ossos e esgotar todo o sangue quente e esfriar a pele murcha e rachar os dentes e cair no chão.

O platonismo, aquele sentimento que ergueu poetas e eternizou milhares de nomes.
Não quero me eternizar para a humanidade ou virar patrimônio histórico, não quero ser poetiza, reconhecida, relembrada, anotada, estudada. Quero ser o sol, a luz e o bem para alguém. Alguém que eu queira também.

Me dá o salto que eu pulo. Me dá a pele que eu curo. Me dá o sol que eu esquento.
Me dá a ponte que eu atravesso. Me dá a carne que eu como, o suor que eu seco.
Me dá o vento e eu vôo. Me dá o mar que me afogo. Me dá você que eu amo.

E, juro, sem medo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Abracos mornos sao piores que punhaladas frias.

Passado zumbi tem que ser tratado como zumbi: armamento de guerra e abrigos nucleares.

Nao ao platonismo! Nao ao sec XIX que habita dentro de nos (Ser triste eh mais, ser feliz eh menos)

Nao ao vazio fantasma dentro de nos. Nos so podemos ser habitados por nos mesmos. Completos ate a tampinha de produto organico 100% voce.

Mas nao se apegue a voce mesma. Se precisar rasgar a pele e assumir o monstro, faca-o. Ainda eh voce.

Nao espere receber as alturas. Determine voce! Capaz e inteira voce ja eh...

Foco!
Forca!
Fuck, 170 km/h???

Beijos,

B.