quinta-feira, 5 de março de 2009

As coisas.

as coisas mudaram de rumo, as pessoas de estação
tem hora que perco o prumo em pensar no resto
é feto, é asco, é elemento perdido, é chama do chão

é algum tipo de bala dumdum que se abre em pólvora quando bate no obstáculo
é escuridão, assombro, carvão

e, cega, cegamente linda, segue a minha vida
sem saber se vai ou se fica no redemoinho de dentro
é sentimento vai e volta, problemas com o trovão: ilumina e machuca os ouvidos

o que me dói é o ritmo descompassado que os meus dias seguem
ritmo que, sempre acelerado, mas nunca certo, me toma as rédeas
o controle fica nos meus olhos, cegos,
que se perderam em algum lugar do meu eterno sono.

as rédeas tomadas da cegueira faz do chicote um ricochete
as rédeas tomadas da minha vida fazem do breu puro chocolate
as rédeas tomadas do meu mundo fazem do choro uma chantagem
as rédeas, não as tenho, deixo-as pro meu destino incerto e certo, chato e roto
as rédeas tomadas da minha alma fazem de mim alguém infinitamente melhor


a mim me sobra o descontrole
e que seja muitíssimo bem vindo.

Sumido, hein?

Eu sumo às vezes. É normal sumir. Não fujo de ninguém, isso não é de mim. E se eu sumir, às vezes foi porque me esforcei mais do que devia e não obtive retorno. Não é que eu faça tudo querendo algo em troca. É que uma hora a gente cansa de inexistir. Posso sumir também por pura falta de tempo. Aí quem não retribui atenção sou eu. Mas isso também é normal. Sei que é normal, por isso não me estresso, apenas sumo. Sumo e, se eu der alguma desculpa pra você quando você me ligou, acredite: ou eu to mentindo porque to na fossa e não quero ver NINGUÉM, ou eu estou falando a verdade, por mais mentira que ela possa parecer. Porque eu só minto em casos de extrema necessidade espiritual.
Eu minto às vezes. Porque omitir é mentir. E omito meu estado, omito meus pesares, omito um monte de coisa. E, por mais que omitir seja mentir, todo mundo tem seus segredos. Logo, todo mundo mente. Sou sincera. Sincera até demais. Eu vou dizer pra você não cortar o cabelo se achar que vai ficar feio e, se você cortou e ficou realmente feio, eu não vou falar que ficou bonito só pra você não se sentir mal. Eu vou ser verdadeira, porque é isso que as pessoas devem fazer. Segurar a onda, dizer a verdade sem grosseria. Tenho o costume de amenizar notícias e pedidos, de fazer pequenos rodeios, mas falo exatamente o que precisa ser dito. Quase não existe na minha vida o que não pode ser dito. Todo mundo sabe como sou, todo mundo vê. Tá estampado em mim: eu não consigo mentir. No máximo, omitir. Se minto, gaguejo, tropeço nas palavras, esqueço coisa. Mas faço isso também quando falo a verdade, por isso nunca se deve levar em consideração as minhas dislexias na hora de analisar se to mentindo ou não. Se eu to mentindo, você vai saber sem esses recursos e logo não vai ser mais mentira. Só omito.
Eu sumo às vezes, pelo simples fato de não aguentar mais caminhar nesse labirinto de imagens desfocadas que as pessoas se tornam pra mim. Não sei como lidar com elas, não sei decifrar os códigos, não sei a diferença entre mentira e verdade que contam dia após dia. Não sou tão esperta assim, não sei analisar almas. Não sei o que as pessoas querem. Mas sei o que eu posso ser pra elas. Sei que posso ser como costumo ser, transparente, sem falsos sorrisos. Tenho muita preguiça das pessoas, mas não é culpa delas. É culpa minha, eu sei. Porque não sei ver embaixo das peles de várias cores. Não sei enxergar as mudanças de humor e não sei o que elas precisam. Sei como eu posso ser, apenas. E sei que gosto muito de ter pessoas do meu lado. Gosto de me sentir segura ao lado de alguém que sorri comigo. Gosto de ter a segurança de um abraço. Porque abraços não mentem.
Eu sumo às vezes, sumo porque não sei mais onde procurar, não sei nem o que procurar.
Não sei das pessoas.
Não sei o que elas são.
Só sei ser.