segunda-feira, 3 de março de 2014

"I'm a lover. And a fighter." - Michael Jackson Backwards

"Tell my love to wreck it all

Cut all the ropes and let me fall"
- Skinny love: Birdy


E então, em uma das poucas conversas que tenho com alguém, me pego treinando o inglês com a minha mãe. De repente, sem contexto, já que não tenho o hábito de desabafar, e sem precedentes, minha mãe solta uma frase que desperta em mim um sonho doce adormecido há algum tempo.

Passo a maior parte da minha vida sozinha em silêncio.
E tem sido triste.

"He's not the one. And he knows it."

Primeiro eu ri pensando na música idiota que essa frase me lembrava.
Depois fui parando a palhaçada, cuspindo a pasta de dente, sem fala.
Olhei fixamente para o espelho do banheiro escuro: o que me aguardava além daqueles minutos era um quarto cheio de livros e uma cadela dodói. A comida nas panelas, um rascunho no computador.

Não preciso ir muito longe pra conseguir chorar um pouco, o que também tem deixado de ser uma coisa comum em mim. Às vezes o olho arde e tudo parece congelar no meu corpo que esconde um cérebro delirante, mas nada cai. Isso tem mudado e sinto as amarras se soltando e pontes se formando no lugar dos muros inabaláveis. Tem sido triste e dolorido, mas é bom. Sinal de que minhas engrenagens voltaram a funcionar. É bom que doa. E eu deixo doer, mesmo sabendo exatamente o que fazer.

Por um dia, um dia no escuro, eu decidi me abrir. Mas no escuro foi tudo igual e nada surtiu efeito. Os mesmos sorrisos, com um pouco de histórias demais da minha parte, sem querer, só fui falando. Nem sei se eu deveria escrever sobre isso. Mas eu entendi quando deveria parar. Entendi agora.

As pessoas me vêem na condição de pessoa segura, independente, e é verdade. Eu sou a minha liberdade. Mas em algum lugar dessa mulher de um metro e setenta e quatro e meio existe a menina que vê em um abraço um cantinho pra morar, que vê num beijo promessas antiquadas, que acha nas mãos dadas um motivo pra entender que chegou em casa. Aqui também existe a vontade de segurança que não venha de mim. É que faz tempo, a última vez que me senti amada. E, bom, às vezes entendo que tenho sentimentos genuinamente inocentes: eu acredito no amor. 

Mas nada em mim transborda mais, entende? Ficou tudo guardadinho em uma caixa só minha, dentro do meu coração. Então deixa eu esparramar um pouco onde eu quiser... já que não consigo dizer ou demonstrar ou sumir.

Em meio a tantos compromissos e responsabilidades que faço questão de honrar e manter, encontro um tempo pra respirar e deixar que o próprio tempo perca o significado, mesmo depois de colocar o despertador pro dia seguinte pela manhã. Respirar é tão bom que faz com que muito de mim cresça e renasça. Uma vontade de estar, de ficar, permanecer. Um hiato na minha vida corrente. Nunca tenho vontade de ir embora, mas a mania de não querer atrapalhar é sempre muito mais forte. E eu vou, então.

É tempo de ida. Tempo de deixar para trás. Tempo de fazer com que meu mundo valha para os que estão ao meu lado. Não sou fresca, mas tá doendo e não era pra ser exatamente assim. E não é legal doer e saber que não tem solução. O jeito é ir e tentar ser um dia a primeira opção ao invés de última.

A gente entende que deve parar quando a expectativa é muito maior que a realidade. A gente entende que deve parar quando tudo vem muito intenso e desencontrado. Descompassado. A gente entende que deve parar quando não consegue pensar em mais nada além dos momentos de respiração alheios a tudo. Alheios ao tempo. A gente entende que deve ir justamente quando não tem mais pra onde ir.

Foi sem querer. Na real a gente nunca sabe quando vai se apaixonar por alguém ou não, né. A gente aceita os riscos da casualidade e deixa que o mundo siga como quiser. E ele, pra mim, sempre insiste em seguir tão errado, assim, nesse sentido. Meus sentidos todos indo na direção oposta.

Contei as vezes que escutei essa música. 23 vezes.
Mas não importa agora. Tô indo embora. De novo.

Lutar por mim, ainda e sempre.

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