sábado, 8 de março de 2014

Around.

Limpei a baba quando levantei a cabeça antes encostada na mesa de vidro. Dormira em cima do enroladinho de queijo e presunto temperado enquanto dois amigos escutavam Damrau operar a Rainha da Noite no Youtube. O resto da casa dormia em silêncio, sem se incomodar com as notas agudíssimas das obras. Ficar acordada tem sido difícil, os dias se arrastam, para variar. Hoje era um dia especialmente melancólico, Bon Iver nos fones de ouvido com a música que não paro de escutar há uma semana. Decidi instantaneamente que o próximo vídeo seria Gethsemane. Deixaria pra me preocupar com os graves depois.

Os dentes estavam grudando. Tinha comido tudo. Pão de queijo, biscoito de queijo, enroladinho de salsicha, bolo verde de alguma coisa coisa fofa com alguma coisa cremosa por cima. Azedinho, bom de arder o maxilar na antecipação salivante de imaginar.

Conseguiria ser mais do que isso?

Dormira sacudindo as pernas de um lado para o outro, boca aberta, imagem típica do cansaço estampado na pele. Então todas as coisas se mostraram ainda mais difíceis e lentas. O famoso processo.

Não fazia a menor ideia do que era ou do que deveria fazer, a não ser andar automaticamente e transitar pelos compromissos e metas. O sono não ia embora. Passara do limite da qualidade de vida para atingir as terras do sem fim de mim mesma. O vazio humano igualado ao caos. Sentia ódio, aquele que antecipava os dias líquidos tingidos de vermelho e dores viscerais. Não era fácil ser mulher com tantas homenagens cor de rosa, degradê e lilás, mas gostaria de receber uma rosa despretensiosa. Rosas tem um significado tão poderoso que essa poderia ser só uma rosa vinda pelo vento, sem mãos aparadoras que cobram resultados para os presentes e dádivas.

A solidão habita, alheia às fisicidades presentes. É mais do que deixar a companhia em outro cômodo. É mais do que prestar atenção no círculo imaginário que rodeia e cerca os limites dos membros esticados de um corpo caçador. Solidão é a dor muscular aliada ao sol de domingo. Solidão são meus hormônios invadindo as membranas do meu olhar, aquele olhar que carrega o mundo devagar em fases periféricas e harmônicas.

A minha solidão é deitar, fechar os olhos e não sonhar. Nunca mais sonhar.

O sábado seria atípico, o cigarro dizimado, minha dignidade perdida entre deixar dormir e terminar de escrever.

No meu mundo tem pavê.

Pior é ter o vazio do caos e ter o cérebro manco ocupado pelo que se passa na burrice de sentir e teimar. 

Cochilei. Tive um sonho breve em que o assédio vestia avental cor de pele com rendas brancas.

Dormi de vez.

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