domingo, 27 de junho de 2010

Pavements.

"I've made up my mind,
Don't need to think it over,
If I'm wrong our I'm right,
Don't need to look no further,
This ain't lust,
I know this is love but,

If I tell the world,
I'll never say enough,
'Cause it was not said to you,
And that's exactly what I need to do,
If I'm in love with you,

Should I give up,
Or should I just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even if I knew my place should I leave it there?
Should I give up,
Or should I just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere...

I'd build myself up,

And fly around in circles,
Wait then as my heart drops,
And my back begins to tingle
Finally could this be it

Should I give up,
Or should I just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even if I knew my place should leave it there?
Should I give up,
Or should I just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere..."

Entenda: www.youtube.com/watch?v=YimdPxZrfiM&feature=related


Tirou os óculos escuros. O parque seco se fez dourado às cinco da tarde. Era hora do chá, mas corria dos próprios fantasmas. Desistiu da corrida quase no final para caminhar e desistiu de caminhar em círculos para sentar à beira da lagoa. A água brilhava, numa mistura de escuridão com reflexos prateados. Chegou à beirinha raza e contemplou o contraste que o sol milagrosamente construía na terra, na grama e nas àrvores ao se pôr. E pensar que perdeu tantos sóis poentes para se estraçalhar em breus. A primeira coisa que pensou foi em ter uma máquina fotográfica em mãos. A segunda coisa que pensou foi em ter um fotógrafo. E abriria mão de tantos sóis poentes pelo fotógrafo ali. E juntou, os sóis, as fotos, a escuridão prateada da água e as mãos, porque o frio começava a apertar. E a imaginação se foi com o vento gelado que passou...

Não havia foto ou sol. Atrás do parque de diversões, agora, andando lentamente, sentia a sombra do fim de tarde cobrir o contraste lindo que havia em volta dela. Era a realidade se manifestando, em sua pior forma, mas não deixou de pensar nas cores do tobogan. Queria ser, afinal, as quatro crianças que subiam com seus tapetinhos até o topo do escorregador gigante. E a música começou a tocar. Aquela música. Parou de andar, tirou os óculos escuros que havia posto depois de deixar o lago brilhando em suas costas, tirou os fones de ouvido que não saíam dali desde o início da corrida, fechou os olhos e chorou. A paz era quase sufocante. O abraço da brisa era aterrador, as risadas eram agudas, lindas de bochechas dormentes em roupas grandes demais para seus tamanhos. Continuou com o choro silencioso, pôs os óculos mais uma vez e sentiu-se de repente ansiosa para ir até o estacionamento 12 do parque encontrar o cobertor laranja que havia levado no carro velho para se proteger do dia inteiro frio. Mas não correu. Continuou com os passos lentos, as pernas longas dentro do short branco curto, a pele arrepiada. Não queria esquecer o contraste, ou as sombras, ou a música que já haviam ficado para trás. Queria lembrar daquela tarde para o resto da vida, longa vida, sabia, tinha muito ainda a viver, muitos planos a traçar, muito a refazer e, o mais importante, muito a consertar para aprender de uma vez por todas. E depois, só o céu poderia abrigar tanta luta.

Continuou andando devagar. Chegou ao bebedouro do parque, que refletia poucos feixes de luz e bebeu a água nem gelada nem quente. O dia todo parecia estar no ponto. E chorou mais uma vez ao passar pela máquina que esguicha vapor d'água. Estava frio, mas não importava. O calor de dentro era o contraste na medida certa. Sabia que seus cabelos tinha ficado em pé com a umidade, mas não havia foto ou fotógrafo, então não precisava se preocupar. Continuou, na lentidão da tarde agora sem sol, sem escuridão, até chegar ao seu velho meio de transporte. Abriu as portas, sentou-se no macio da colcha laranja, e sorriu. O livro, o velho livro que a acompanhava agora para todos os cantos pareceu cantar. E por cima do sorriso, podia sentir as lágrimas quentes deslizarem, com mais dor do que poderia aparentar qualquer contraste de água, qualquer cor, qualquer vapor. Esqueceu-se sentada enquanto escurecia. A noite, tão temida noite, parecia engolir as pessoas que ainda caminhavam, patinavam ou corriam. E, sozinha, no vão dos corredores de memórias e lembranças, sentiu o vácuo. Esqueceu-se que podia ouvir ou falar. Ou ligar o carro, colocar a marcha ré e sair do estacionamento vazio. Não queria morrer ali, ainda. Havia muito a ser feito... queria revelar as fotos e arrumar um trabalho. Queria estudar e fazer o schedule da semana, que seria cheia, entupida de coisas chatas e satisfatórias.

E sem ver que se lembrava de como voltar pra casa, engatou a ré, pisou na embreagem, ligou o carro, abaixou o freio de mão, virou o volante e saiu devagar da vaga. Devagar, engatou a primeira curta para logo passar a segunda, a terceira e sair devagar do estacionamento em direção ao posto de gasolina. Era difícil manter o tanque cheio naqueles dias difíceis. As vacas magras insistiam em habitar a casa. Passou por avenidas, rotatórias e lombadas até chegar ao posto em que costumava abastecer. Longe de casa, perto do que devia esquecer. Pediu para colocar cinquenta reais no cartão de crédito do pai, pobre pai, que tinha que bancar tudo agora. Com o carro cheio foi devagar para calibrar os pneus, que bem vazios estavam. Ela, se não deixasse o carro em ordem, ninguém deixaria. Saiu do posto mecanicamente. Passou por avenidas, rotatórias e lombadas até chegar em casa, onde a cadela negra, obesa e reluzente a receberia com os rabos abanando.

Já era noite, mas não sentiu medo.

Agarrou-se aos pêlos decadentes e à pele do animal quente e surpreendedoramente quieto e deixou-se estar.

Entre panos, pêlos e lágrimas adormeceu.

2 comentários:

Martin Costa disse...

Eh como eu li uma vez.. momentos difíceis são criaturas covardes, que atacam quando agnte menos espera e em bando. nao necessariamente com essas palavras, mas a ideia é essa.
E somos obrigados a lutar, obrigados a sermos fortes. ¬¬'

E o que eu posso fazer? Torcer pra que de tudo certo.

Força Manda ;*

P.s.: linda a música.

Claudia Bittencourt disse...

Trilha sonora maravilhosas, cenas maravilhosas e o texto, como sempre, ótimo.
Te amo.