quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Hora.

Tudo a essa hora me irrita. O barulho da água batendo na pia, escorrendo, escorrendo, escorrendo. E, suspensa, penso nela. Parada como em fotografia, que congela sem endurecer a percepção de imagem. A gota continua molhada, transparente, brilhante e furtacor. Intacta, sem volta, sem esguicho, sem som. O som é o que mais me irrita. E penso se não existisse, imagino o silêncio absoluto como minha redenção, minha paz, meu desespero. Eternos...

Caminhei até chegar onde não queria estar e subi decerto as escadas erradas. Peguei nos livros pesados e coloridos que não queria encostar e sentei no chão quadriculado. Perdi um tempão olhando. O que não me lembro, mas olhei muito de fato. Foquei e desfoquei. A visão, mentes. E me despreparei sobre o que vinha no futuro. Desci as escadas que não queria pisar. Saí pelas portas que não deveriam ser abertas a minha passagem. Descobri a mesa ao meio, e me senti fora de mim. Eternos...


Eternos os sonhos meus. Hoje simples, simples, tranquilos. Os carregados larguei de mão. Luta árdua, luto pelo meu interior todos os dias. Toco com a mão as dores, todos os dias. E sem poder carregá-los sinto-os como se fosse eternos. Como os sonhos e como as caminhadas ao sol poente de um céu abençoado de mar. O som do mar... este não me irrita. Me alivia as penas e os pesares e os penares e os poderes todos. Os de adivinhação, tão tensos e intensos que fazem minha cabeça moribunda rodar.

Valha-me Deus Nossa Senhora. Me dê forças de mais um dia, mais um dia seguir em frente. Em meus princípios, em minhas caixas de conhecimento, em meu amor. Atribulado, amor, mas amor desde meus tempos de menina/menino. Aqueles tempos em que tinha cabelos curtos, voz fina e jogava futebol na rua até o anoitecer. Futebol, queimada e o raio que o parta, porque bete nunca me deixaram jogar. Fato que ainda tenho voz fina, mas cresci e agora sim, posso jogar. Como bem entender, nas minhas regras, delegando os fados que são meus a mim mesma e ao meu espírito corredor. Corre de mim com o diabo foge da cruz. Tadinho, todo esfulhachado, esgrinlhado e firunjido, espírito. Quer mais é se esbranquiçar e virar santo, sagrado, intocado e esquecido dentro de mim.

E valha-me gota fotografada.
Renda-se à gravidade, mas seja silenciosa ao cair na superfície metálica.
Ah, sonhos e momentos e lembranças.
Me deixem dormir. Agora e apenas.

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