terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Começo de ano.


Meu fim é o início.
O início de um belo tempo. Ao menos sei que, sozinha, não sigo mais. Eu vou, vou sim. Posso não voltar. Mas alguém vai comigo, disso tenho certeza. Agradeço a Deus pela dádiva de ter alguém ao meu lado quando eu for embora. Vou embora, tão rápido passarão esses seis meses. Mas vou ter companhia. Uma companhia que me aguardará em casa, talvez um pequeno apartamento bem mobiliado num bairro tranquilo, na cidade mais difícil de se locomover. Quero o simples, mas não quero o só.
Esse é meu novo início.
Solto lágrimas muitíssimo cansadas agora, que se esparramam soltas pela blusa branca suada de um dia tenso. As doces caem de alívio por saberem que vão ter um ombro pra cair. As azedas caem por saber que o que me faz completamente humana não vai estar presente. Pelo menos, não tão presente quanto atualmente.

Esse é o meu novo início.
O que dói começa agora, me disseram. Mas é errado pensar que vida é dor, e estou vivendo. Começando a viver num mundo complicado, desinibido e completamente surpreendente. Mas vivendo, cometendo meus pecados, alimentando meus vícios e sabendo que todos (pecados e vícios) são meu suporte, porque ao contrário do que pensam, pecados e vícios podem sim ser coisas muito boas. Meus vícios são as pessoas que me rodeiam, os livros que me lêem, o suco que me banha a alma quando gelado. Meus pecados, únicos e puramente básicos: amar e teimar. Não é o que dói. É o que me faz sentir inteira, humano inteligente, complexo, construído para ter as mais emboladas sensações: saber que tenho a grande oportunidade de começar de novo. Esse é meu novo início.

O dia 31 de dezembro não vai significar a chegada de um ano lindo, cheio de trabalho, riqueza, dor, mudanças. Vai significar a fechadura. A fechadura do que passou que não quero que reviva. O dia 31 de dezembro significará a peneira dos meus momentos. Passará o que aconteceu de melhor, e permanecerá. Observação avulsa, mas pertinente: permanecer é a palavra mais bela que já se inventou na vida. A partir daí, só tenho a agradecer.
É o meu novo início. O que passou e que se inclui na farinha que seguirá para meu novo início é o amor que me encontrou no início do ano, quando menos queria amar. Agradeço a Deus. Agradeço por ter tanta paixão, tanto bem-querer, tanto carinho e pensamentos ternos que não conseguem parar de me rondar, agradeço pela pessoa fantástica que tem me transformado todos os dias em alguém infinitamente melhor, agradeço pela paciência e pelo suporte, agradeço pelos sorriso e pela gaça, agradeço pela luz e pela sabedoria natural, agradeço. Agradeço pela minha mãe, que se revelou a mulher mais sábia do universo quando me deixou ler os seus escritos; quando deixou que o mundo lesse. Agradeço pela minha família que ainda se reúne e que permanece unida; a minha família foi e continua sendo a base da minha vida inteira. Agradeço pelo meu pai, humilde, bobo, fascinado pelas filhas, positivo, realmente feliz e ponto! Agradeço pelo conhecimento que reuni duranto o ano, que foi o bastante para me levar ao próximo passo da minha formação: é preciso começar de novo, do zero, e ir até o fim. Agradeço por todas as escolhas erradas, e por todos os meus erros que com certeza estão na farinha que me seguirá ao meu início: sim, me seguirão, porque tirei lições imensas que colocarei em prática em breve. Agradeço pela minha cadelinha gorda e enorme sempre louca, mas completamente carinhosa; ela é puro amor, do focinho às patas. Agradeço pelos meus amigos, os presentes e os ausentes, os profundos e os mais profundos ainda, porque não existem amigos superficiais. Isso não existe em mim. Agradeço pelo meu super-teto, pelo meu super-lar, pelo meu super-carro, pelo meu super-cobertor, minha mega-cama, minha bela vida material, que me traz todo o conforto necessário. Agradeço por ter até mais do que preciso. Agradeço pelas roupas, pelos vídeos, CD's, agradeço pelo Apolo, meu computador guerreiro. Agradeço pelas pessoas que entraram na minha vida. Agradeço pelo meu dom, agradeço pela minha força.
Agradeço pela minha força porque foi tudo para mim esse ano. Sou forte sim, mesmo desistindo para poder fazer outras escolhas. Fui forte, para permanecer ao lado de quem gosto. É um tremendo esforço pra mim cultivar amor, e, no entanto, agora, exatamente agora, sou completamente feita dele. Sou amor, vida e tentativa. Fui forte para ouvir, para tentar entender. Fui forte para continuar lidando com as pessoas da melhor forma possível. Fui forte para não desistir delas. Fui forte para não desistir de mim mesma e do que está cravado em mim. Fui forte para não deixar tudo pra trás. Fui forte para não ir embora sem documento e sem sapato para onde não entra nenhuma das duas coisas. Agradeço pela força que brotou das pessoas que me acompanharam e que me seguraram. Hoje, exatamente hoje, elas sabem quem são. Sabem, porque estiveram do meu lado quando eu mais esperneei. Sabem quem são, porque me mostraram o caminho correto, porque iluminaram o caminho do meu coração. Fizeram reviravoltas na minha vida e desenharam um sorriso verdadeiro no meu rosto, que se seguirá sem vacilo daqui em diante. Agradeço por tudo, pela minha vida saudável e pelos meus inimigos. Agradeço pelos meus amores, os passados e os atuais. Agradeço por todos os que passaram na minha vida, pelos que rasgaram minha pele e deixaram cicatriz, pelos que me deixaram em pedacinhos difíceis de achar para colar de volta. Agradeço pelos ensinamentos e por estar um ano mais sábia e mais experiente mesmo que isso não signifique absolutamente nada. Agradeço por poder ver, sentir, tocar, cheirar, escrever, pensar, imaginar, tresloucar. Agradeço a Deus por Ele mesmo e agradeço por Ele continuar na minha vida, no meu quotidiano, seguindo ao meu lado, presente em todos os momentos.
E permaneçam. Permaneçam, permaneçam, permaneçam.
Como eu permaneci; como eu permaneço.
Não quero um 2009 feliz. Quero uma VIDA INTEIRA feliz, que apenas começa em 2009, com os vestígios da farinha muito bem tempeirada e peneirada da minha vida inteira que passou e que está ficando para trás. Levo comigo tudo que foi bom, e levo comigo todas as lições. Também levo comigo as pessoas, não as deixo para trás nem que me paguem. Uma vida nova de esperança, é o que quero, é o que desejo para os que de bem existem na face dessa terrinha. Uma vida nova de muito rosa, de muito cheiro, de muito susto bom, de muito riso e semblantes coloridos. Uma vida nova de muito sol, muita chuva, muito vento, muito verde. Vida nova de muita paz, muita redenção, muita lição, muito aprendizado. Uma vida nova de amor. Amor verdadeiro, daquele que não sai não importa o quanto você esfregue a bucha em cima. Amor, amor, amor, que não se ressente, que não é egoísta, que não machuca. Amor que ama, que cuida, que crê. Uma vida nova de perdão. Uma vida nova da minha fé inabalável. Uma vida nova da minha força bruta.
Que venham todos esses anos pesados pra burro.
Porque ainda quero muita bagagem nas minhas costas.
Porque ainda quero amar até secar a última gota de sangue em mim.
Porque ainda quero viver além da conta para dizer aos meus tataranetos na cadeira de balanço: "permaneçam e sigam de braços abertos por esse mundaréu de coisa boa que começa a partir da porta, porque o mundo precisa de vocês, lutadores".

Reiniciando... (9 dias e contando).
Para começar, abro a minha cortina e deixo o sol entrar devagarinho, me aquecendo aos poucos, me cegando momentaneamente, me dando o gostinho de começar de novo.
E começar bem: definitivamente feliz.

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