terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sobre nãoamor e suas achanças


É que me apavora dizer "eu te amo". Isso não foi de sempre. Enchia a boca pra falar eu te amo, gritando pela bicicleta no parque em público, subindo nas paradas de ônibus ou no silêncio de um quarto morno a meia luz.

Mas hoje eu te amo baixinho. Tão quieto que falta morrer. É só hoje, eu te amo que talvez amanhã e que passe pelas olheiras do tempo e de mim. Desculpa, se eu não conseguir amar depois, daqui a um minuto a uma semana. Os sonhos são tão mutáveis e a vida é tão estranha. Não faço por mal.

Acordo todos os dias com um sorriso e vou sorrir para o resto dos meus dias, mas ainda é tão pequeno, desculpa, sofrer é tão maior. E só me resta o hoje e agora eu te amo que não cabe, mas ainda baixinho. Não tenho força pra gritar. Te amo raro, te amo que me foge fácil no esquecer na leitura e no trabalho.

Às vezes tenho a nítida sensação de que vivo pra esquecer. Não sei de onde vem mais nada. Tudo dentro virou uma bola de confusa massa sentimental abstrata, perdida sem definição e sem os preconceitos da humanidade. Eu te amo só até daqui a pouco. Depois, eu não sei mais.

Eu definho vivendo intensamente os momentos efêmeros como meus sopros. Cada nota emitida é uma nota que morre, mas que fica nas memórias e nos sonhos e no coração, ainda tenho um. Duvida, eu sei, ainda tenho um coração. Mas acho que ele morreu também.

Como largar uma vida de coisas lindas. Me perguntei isso tantas vezes que chegou a doer em lugares que não sabia existir. E dói como ter que abrir os olhos para as frias manhãs. Voar alto também é morrer.

Cada passo me guia pra morte, meu amor, entenda. Sou uma casca, cheia de amores brutos, rasgados, mortos. E a sua vida, vale muito mais do que um cadáver que anda e sorri. Ela mal começou e a minha já acabou tantas vezes que perdi as contas. Às vezes acho que minha vida se foi de vez com os oitenta comprimidos daquele dia de suor e lágrimas. Cada cápsula uma parte de mim. Cada pílula, o inferno em forma de sarar. Foi uma história triste e passou, mas eu não passei. Eu fiquei e morri sete vezes na mesa de hospital. Morrer é como ficar para sempre no escuro, sem ninguém para estender a mão. Ressuscitar é acordar sozinho para seguir sozinho até o fim.

Não tenho medo de ser feliz. Só acho que não preciso ser feliz. Acho que não nasci pra ser feliz. Tudo passou a ser tão valoroso e ao mesmo tempo tão insignificante que só consigo passar pelas horas olhando o sol, sentindo o vento no rosto. Aproveitando os passos e morrendo. Eu só sei morrer. 

Me perdoa? Não posso voltar, e não quero que você volte. Eu preciso que você viva. Eu PRECISO que você viva e siga e não morra comigo. Eu preciso que você me deixe no passado, onde eu fiquei, presa nas minhas alças de mala e na cama dura, amarrada às rodas de um carro sem direção, enterrada na areia dos meus piores pesadelos. Meus dias não tem mais cor e não vejo como as cores possam voltar.

Não há nada que você possa fazer. Me deixe ficar no seu passado, num feliz passado. Me ajuda a te deixar ir, para um futuro mais lindo, mais claro, mais vivo. Eu sou terra e terror, um fim oco, cinzento. 

Agora só me resta fazer o melhor. Deixar uma vida organizada e sem pendências pra quando a minha hora chegar e ela não demora. Gasto muita vida pra sorrir a todo tempo. E dói tanto que aqueles sopros se vão tão rápido. Morro todo dia, ainda. Ainda e pra sempre.

Não me segue, por favor. Minhas trilhas não levam a lugar nenhum e meu sorriso não ilumina mais os caminhos. Eu sou o lado errado da bifurcação, uma estrada sem volta, sem apego, sem choro, sem vela. 

Os opostos são a mesma coisa. Não me atraio a nada. Não tenho polo negativo ou positivo.
E não tenho mais medo, porque sei que essa rua não tem saída. Não tô perdida, não sou renegada e não sou triste. Só não sou. E não ser, talvez seja a pior das humanidades.

Te peço pra deixar. Eu e meus abismos, minhas correntes, minhas cegueiras e dramas e maçaricos.
Eu e eu e eu e eu. Pra te proteger. Só posso te proteger de mim. E isso é tudo. Vai?

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