domingo, 26 de maio de 2013

Sobre céu e sangue.

Parafraseando Beatles, while my heart gently bleeds, subo o Eixo Monumental com o céu frio, gelado de chuva de granizo passada. Um outono, quase inverno, mas nem tanto.

Não é fácil ser o que é preciso ser para quem devemos ser, mas não é impossível. Às vezes o rombo no coração sangra sozinho, mas por causas muito mais nobres que sarar ou não se ferir. É preciso saber acima de tudo que vale a pena se segurar, por quem vale a pena ter, no sentido de estar do lado, e não possuir.

E tem valido a pena. Por passar por tanto mal, meu deus é a bondade que existe em mim. Meus deuses de benevolência, gozo e saudade. A vontade de tornar o dia de alguém melhor ou subir a escada pensando que o quarto precisa de uma varrida e varrer, logo em seguida, sem esperar que alguém o fizesse. É delicioso fazer o prato de alguém e receber um beijinho em troca. Porque trocas são, sim, necessárias. E trocar é o segredo da felicidade. A troca certa, no momento certo, com a pessoa certa. É redentor.

E sobre humanidade, talvez devêssemos ser mais humanos sim. E mais animais. E entenderíamos a verdade de um amor eterno, a importância de um sorriso, a grandeza de ver o sol se pôr sangrar e a dureza de abrir mão do que preciso for. É preciso sofrer, e porque o sofrimento é tão certo é que é preciso parar de inventar dor e começar a inventar outras coisas. Como um pulo no muro certo para o quintal certo. Como um andar ritmado, em busca de um sonho com música, letra e vontade.

Às vezes arde. E todo mundo sabe disso. Deve arder, tem que arder. E passar. Pega a laranja, parte em quatro e aproveita o suco doce, azedo, quem sabe amargo. Aproveita o bagaço, a morte do néctar protegido. E se for escuridão do outro lado. Deixa que seja. Às vezes a própria luz em demasia pode cegar.

Subi sangrando, com o pôr do sol frio se tornando cada vez mais forte, contrastante e belo à medida em que morria devagar. E morrer, sabendo que o renascimento logo vem, pode não ser tão ruim assim.

Subi tentando descer e chegar.

Ainda tem um colo quente e um abraço apertado pra me receber.
Ainda tem uma linda noite para ser.
Ainda dá tempo.
Ainda dá tempo...

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