sábado, 19 de dezembro de 2009

De repente, não mais que de repente

Uma voz se calou. Neste mundo ficaram as fotos, as lembranças, a memória e as lágrimas que não param de cair. Ao menos por enquanto, porque a vida segue e sabemos que segue até onde Deus quiser que siga. E mesmo que "de repente, não mais que de repente" o nosso mundo suma, a nossa vida prossegue. Mesmo que em ritmo lento, a nossa vida se ergue exigente para ser vivida. Mesmo que aos pedaços. Mesmo que um dia após o outro. Até aprendermos o vazio que ficou.

Uma voz se calou. E era a voz do riso, a voz da marca. Era a voz forte e engraçada. Era a voz única. Insubstituível. Depois do silêncio, só fica a conformação de ter que aprender de novo. Tudo de novo. Com rotinas diferentes, com lembranças diferentes, com valores diferentes. E com saudades muito mais violentas. E nos resta aprender a andar de novo, a falar de novo, a reagir de novo. Nos resta aprender a sorrir de novo, a cansar de novo, a chorar de novo. Mas tudo de outra forma. Nos resta aprender a se abrir de outra forma, a encarar de novo.

Nos resta aprender a respirar de novo.
Um ar difícil de respirar. Costume difícil de aceitar.

Nos resta achar outros tantos motivos para aprender tudo isso mais uma vez. É o que a morte me causa. A morte me faz renascer. E me deixa burra de novo, tapada de novo, chorona e dramática de novo. A morte me deixa lenta, atrapalhada e febril. A morte me causa náuseas e cansaço permanente. A morte me causa olhos ardidos, dedos gelados. A morte é a fênix existente em mim. Que me faz morrer e renascer de repente, não mais que de repente.

Porque de repente, não mais que de repente, houve a separação. E a morte me veio brusca, quase desatenta, irremediável. Implacável. Invencível morte.

E nos resta a incredulidade.
E nos resta a força que não sabíamos que havia dentro de nós, pobres humanos acostumados com a vida. Pobres jovens enquanto os corações baterem, achando ser imortais. E nos resta o abraço e nos resta esse vazio inconsolável.

E nos resta a porra do tempo.
E só agora é que sei que alguns clichês funcionam.
Só o tempo cura isso.

Só o tempo cura.
Só o tempo cura.
Só o tempo cura.

E NÃO IMPORTA O QUANTO EU REPITA isso.
É fato que tenho que aprender tudo de novo.
Tenho que aprender a viver sem mim.
Porque não sou o que como.
Sou o que amo.
Pelo menos isso vou ter que aprender pela primeira vez.
Repetir o processo de aprendizado vai acabar me deixando louca, então alguma coisa tinha que ser nova.




E ainda há o que nos deixa pasmos.
A morte vai ser sempre uma delas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Skydiving.

Doces lembranças serão as lembranças mais arrasadoras. Até que o que tem dentro esteja resolvido e em paz. Foram muitas, as doces e crocantes e surpreendentes memórias. Desde pequenas promessas furtivas aos choros em vão, com pitadas de sorrisos de lado. Troquei cartas, abracei sob o sereno em frente ao lago, fui perfeita para alguém em algum momento - em muitos momentos - e soube disso. Nunca traí a confiança de alguém, segui o caminho do bem. E muitos tapas levei por isso.

Só hoje, quando lembro das mil borboletas, do nervosismo diante de outra pessoa, da falta de ar e da euforia histérica é que dou valor a minha paz. A paz de agora, no sentido literal. É quando dou valor ao monótono, ao certo, ao latente. É quando o latejante e intenso se torna fútil, quase indesejável, quase infantil. O que sobra, ah, o que sobra... os defeitos e a rotina, deliciosos em sua fase mais imcompreendida. Porque os desejos de agora são preguiçosos... deitar sobre uma cama desarrumada, aproveitar o silêncio, ficar no escuro, ver um filme, e respirar sem ter nenhum objetivo, nem mesmo o de sobreviver. Só respirar.

Escrevo rápido para aproveitar esta hora de humor incomparável e paciência. Escrevo de uma vez para registrar e marcar o dia em que aprendi que lembranças são apenas lembranças... gostosas em suas diversas formas, mas sempre lembranças: nunca o desejo de voltar atrás. Estou bem agora, um pouco confusa por dentro, mas estou bem. A impaciência tem cedido às minhas investidas irresistíveis. Meu espírito se aquietou dentro do corpo satisfeito. A sede pelo intenso passou. A paixão, o fogo, o errado transformaram-se em força invencível. É, sou quase um super herói agora. O meu próprio herói, o meu próprio lar.

Não tenho como saber, há tanto a viver e sentir que não sei ao certo.
Mas acho que é amor.
Pela primeira vez, amor.


Estou segura em mim.
Não tenho limites.
E, mesmo segura, ainda jogo com todas as cartas que tenho.


Eu pulo.
Satisfeita em cair sempre de mim para mim.
Por mim.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Palavra.

O mais legal é que escrevo três páginas de desabafo e depois apago tudo.
Desabafo claramente. Mas prefiro que o que fique aberto ao público seja meu silêncio.










Assim ninguém fica sabendo como gosto de jogar. E quando.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Fala mais.

Ninguém vai ler mesmo.





HAHA.

Ar.

Muda, ela disse.
E mudando foi até não saber mais (o) que(m) era.


Mosaico, medley, pout-pourri.
De tanta cola, disfarce e junta artificial, morreu de tentar ser.
Acabou sendo mais nada, ao invés de parar de tentar e realmente ser alguma coisa.



Cala a boca, infeliz.
E aproveita o cheiro da madeira do caixão.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ninguém.

É um raio e vai tudo por água baixo.
Hoje, ninguém.
Amanhã, ninguém mesmo.









Acredite no que digo uma vez.
Uma vez, pela última vez.
Ninguém.
Hoje, ninguém.
Amanhã, ninguém mesmo.







Ps: Não é raiva não.
Não tenho direito de ter.
Não é repulsa não.
Não é ódio não.
Sou só eu, na verdade nua.
Crua e espumante.
E eu, assim...
assim... ninguém.

Não é que não mereço.
É que não sei o que fazer com o corpo vestido.
Com o sorriso difícil, com o que tem dentro.
Aquilo, o mais bonito.

Desvalorizo, esqueço.
Perco, descontrolo.
Cega, surda e definitivamente tagarela.
Gritante.
Pulsante.
Quebrando...


Se é pra quebrar, que seja ninguém.
Só eu.

domingo, 1 de novembro de 2009

Redenção

"I'm lost but I'm hopeful."





Tanto pra dizer.

Passando pelo corredor da casa vazia, passo por mim e num átimo de segundo acho que me achei.
Acho sim, hoje nada é certo pra mim. Nada no externo. É minha vez, a minha vez, segura na história dos meus. A história distorcida pelos olhos infantis e aflitos. Pelos gigantes da criatividade nata que cintilou de repente. Deixou de ser maracujá de gaveta para se transformar em flor.

Buscava amor, cheirinhos e sorrisos.
Hoje não busco mais. Não há o que buscar.
Tá tudo, tudo aqui.

E passa pela minha cabeça o que sou.
Não era o que buscava. Era o que precisava.
Não sei muito ainda, tudo passa rápido.
Mas posso sentir a brisa chegando, o vento fresco me rodeando e me tirando da cegueira de alta tensão.

Me liberto das amarras, agora.
Agora, não busco mais.
Luto; sem método, sem listas.

Passo do nada ao pingo.
Do escuro ao transparente.
Não precisava construir.
Bastava enxergar.

Perdi e quebrei tudo.
Morri sem perceber.
E precisava, para aprender a construir.

E nada, eu sei, nada pode ser o que era.
Perdoei o passado, perdoei a mim, perdoei aos meus.




O domingo é tão importante quanto os outros dias.
Me apresso para fazer uma coisa de cada vez.
Sou só uma, afinal.
E, afinal, já sei um pouquinho de mim.



Agora sim, posso começar de onde parei.
Não parei muito longe.
Falta pouco para alcançar.


Coragem!



Adoro quando o coração parece explodir.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Acorda!

sai da redoma, sai do ócio, sai do prólogo.
sai do morno e vai se queimar.
sai do líquido e se põe no vapor
sai do sólido e deixa derreter
sai do recitativo e deixa arear


sai daí
sai da toalha e vem pro nu
sai do início e vai. vai!

vem pro tapa, vem pro meio, vem pra onde as luzes se acendem e dançam pelo salão
sai do escuro, mas fica se for com companhia
sai daí!
sai do nada, sai do estorvo, sai do carvão
sai do preto e vai pra tinta, sai do louco e vai pra fita
e enrole-se, enrole-se, enrole-se
até se achar!

sai daí e vem pra cá.
porque aqui tá chato e aí também tá.
eu sei, eu vi.


mas... vou ficando por aqui.
e me apagando, e esquecendo.
e deixando ir - minha escolha já foi feita.







não se pode ter tudo no mundo.
mas posso ter só um pouquinho mais?
e ser só um pouquinho mais?
sentir só aquele brilhinho a mais?
tá bom, tá bom, já entendi.
vou ficando por aqui...

Descobrir-se-á

Já desabafei tanto escrevendo que apaguei tudo.
Ninguém precisa ficar sabendo.
Existem algumas coisas que devem ficar soltas, se perdendo.
No ócio líquido inerte cheio de preguiça.


Descobri muita coisa.
Ao invés de dizer, quero sentir.
E firmar, porque to morrendo de medo.

Morrendo!





Ah, esperança, não apaga dessa vez não.
Seja luz, seja minha luz, seja o que me move.
Seja o que me guia, seja o que me transforma.
Seja o que sou, seja a mim e aos meus.
Seja a minha cela, a minha liberdade, a minha memória.
Seja as minhas lembranças, o meu passado carnívoro.
Seja minha idéia, meu foco, meu universo incompleto.
Seja minha.








Preciso de muita força, porque os dias estão demorando a passar.
E tá doendo.


Muito.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Não sei.

Não.
Sei.
Não sei.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Kindashitty

Disfarça, ser, todo o seu asco raso.
Toda essa sua superficialidade, todo o seu conhecimento inventado.
Disfarça, escória, toda a sua vontade mista com maldade e chateação.
Palpita, mas disfarça!
Toda a sua linda imagem está em jogo agora.
Disfarça, grita o seu oco, mas disfarça.
Limpa seu troco, mas disfarça.
Esnoba outro corpo, mas disfarça.




Sê bom e omisso.
Forte e sarnento.
Louco e gosmento.

E disfarça pelo amor.
Disfarça, por favor.





Disfarço e largo minhas paredes de lado.
Nem tenho mais unha pra cravar na tinta descascada.
Nem imundície pra casar com o carvão desenhado.


Vou ali jogar água nessa sujeira.
E renovar a muntueira de criação.
Haja disfonia, maravilha.



Minhas fantasias foram parar em outras mãos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O que não mata, engorda.

Da borda do sussurro surge o caos
Por que sussurra?
É de lá que nasce o segredo
É no segredo que se omite
Por que sussurra?
Não é nada mais do que um sítio aberto para visitação

É o bicho cor de vinho que altera
a feição, a silhueta.
Que transforma todo o topo interior em escuridão
O sussurro tem de alvo a mente clara
e logo tudo se esvazia. Nem ar fica.



O sussurro mentia.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Mea culpa


Porque do sólido que não posso ter, me satisfaço com o cheiro.
E não estava falando dos cigarros.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Saudade

Pra que esquecer o que já não existe em lugar algum? É redundância, simples assim.

Enfiada na calcinha mais confortável que pude encontrar, me esquento debaixo do computador pelando. A garganta queimando, o peito ardendo, o catarro tossindo e a febre subindo. A saudade cabendo cada vez mais dentro do que chamo de coração. No ouvido, o que posso chamar de silêncio gritante. Ouço meu próprio grito tantas vezes que me calo diante de vozes estupendas. E, claro, é só a marca de um novo erro.

É fácil o descontrole. Sou bicho, tão bicho, tão miserável e de egoísmo tão inesgotável que apelo fácil ao menor sinal de incoveniência. Preciso de alguém pra culpar porque estou cheia até a tampa. Transbordando. Quando transbordo, liquido. Ao liquidar, provoco. Ao provocar, me perco na fúria. E pra onde foi tão rápido minha idéia perfeita da doçura? Foi cavada na caixa do esquecimento que mantenho nos dias mais tensos.

A verdade é que eu to morrendo de saudade, de ciúme, de ódio. Saudade da pessoa que eu mais amo, ciúme da pessoa que eu mais amo e ódio da pessoa que eu mais deveria amar. Por isso. É um ciclo vicioso. E tanta a minha indisciplina que não consigo manter um diário! Escrevo no fulgor, no desespero de tudo, tentando remediar a mim. Cavucar o erro, entender o que é que me embaralha. E de tensão, bicos de papagaio e histórias sem pé ou cabeça estou farta. Não sei a quem culpar. Todos são tão perfeitos pra mim, que caem logo na inocência. Eu os inocento, sem pestanejar. Prefiro levar a culpa que fazer sofrer quem amo.

É fácil falar. Fácil demais.
Você tem toda a razão.

Mas é que agora é tarde demais. Já não sou mais alguém que realmente faça alguma diferença. São brigas, beijos e abraços sem sentido. Ironias sem eficácia. Concordâncias falsas. E nada mais. É por isso que me recolho no que gosto de ver como... eu mesma. É que aqui fico segura das falsidades. Sei exatamente quando minto ou quando sou verdadeira. Sei exatamente quando não gosto e quando adoro. Sei exatamente a hora de estourar e sei quando vou sair correndo. Sou previsível a mim e isso me faz bem. Sei quando me esperar, sei quanto vou demorar. Sei do que sou capaz e sei que ninguém seria capaz de me fazer desonesta. Sei de mim e sei que não sei me controlar. Sei que ninguém poderia fazê-lo por mim.

Sei que errei tanto e que me redimi tanto que o laço elástico ficou frouxo.
E nada é feito com frouxidão.



Minha firmeza idealista foi pro ralo.
Minha delicadeza inventada foi pro esgoto.
Minha esperança se perdeu no mar.


A vontade agora é de largar tudo. Toda essa cidade barulhenta e mentirosa pra trás e seguir num caminho de ipês amarelos. Onde a natureza, sem nãometoques pode me acolher na sua fúria simples, na sua chuva doída, na sua respiração restauradora. Salvadora. E me enfiar no mato, me embrenhar no pasto, montar num cavalo e sumir. Fugir pra onde provavelmente me encontrariam se quisessem realmente me achar. Abriria meus braços, claro. Mas não voltaria. E pra que? Enfrentar essas ruas bêbadas de carros sem direção? A sala montoada de gente uns querendo aprender e outros, desaparecer? Virar vaqueira, amazona. Por que não? Posso ser o que eu quiser. Andar de camisa larga, calças jeans e botinas. Deixar o cabelo crescer e aparar só quando a lua mudar pela trigésima vez. A verdade é que não sou forte. Quero acalmar. Ser brava no que sei ser brava. Enfrentar cobra, enxente, braquiarão. Isso eu sei fazer.

Não sei enfrentar ciúme, não sei interpretar sorrisos nem rostos sérios. Não sei enfrentar amor, gente ou caminhos indefinidos. Quero, agora, apartar as vacas dos bezerros, dormir e acordar cedo pra tirar o leite da vaca, cheirar as flores do jardim que a minha mãe plantou, ser uma vencedora dos campos verdejantes. E estar em cima de uma montanha azul.

Não quero dinheiro! Quero duas camisas largas, um par de calças e uma botina marrom. E, claro, um cabelo descabelado. Talvez as minhas maquiagens pra eu usar como hobby, mas nada mais que isso. Quero vida mansa, nada dessas coisas de ser madame. Madames são malucas, eu acho.


Mas.
São só sonhos fogo de palha.
Minha escolha foi feita.
Tenho que ir até o fim não importa o quanto machuque.













"A dance of death
out of a mystery tale..."

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Take your time.

"Whatever tomorrow brings I'll be there,
with open arms and open eyes."


Kindness.

Tenho aprendido. A ser doce, a calcular a passagem do pensamento pro vento, a ponto de proferir apenas o que dê contento. Ao próximo, lascivo, vivo ou doce também. A respeitar o olhar irônico, a comparação péssima e o tempo necessário à respiração. De mim, agora, só sai a pura honestidade. Simples, mas sempre doce.

Não sou ferro, sou brasa que queima. Às vezes e só às vezes, porque sou humana completa, errada de todas as formas possíveis, certa em plenitude, como deve ser. E cada vez melhor. Não quero provar nada pra ninguém, nem mostrar que mudei, nem dar show do que plantei, muito menos ouvir que tropecei. Quero ser o que brota, o que planta, o que colhe e não o que destrói. Sim, o que transforma. O que produz e sente e o que deixa passar, o que deixa suspirar e respirar.

Doçura. Delicadeza.

Sou carinho a cada passo e cada passo provoca um pensamento apenas. E de cada um deles, vem o início da ação. Ação pensada, cinco, dez, trinta, mil vezes. Pra trazer o bem e apenas o bem. Não sou mais pregos grudados na cerca, poderia ser talvez a tinta que ameniza a visibilidade dos buracos, tão profundos e tantos.

E o que fazer quando não posso mais nada a não ser esperar? Não esgotei o carinho, nem o outro sentimento maior. Estou dando espaço. Espaço em mim, pra encaixar tudo e todos que me fazem dar um sorriso, fazer um jogo de palavras, ou ser alguém que nunca fui. Comer um crepe com a companhia diferente, receber uma mensagem brava carinhosa ciumenta e me sentir bem por ter importância. Causar sorrisos e só sorrisos, em mim, em quem me paga um lanche. E ser, deixar passar, deixar ir, aceitar, sem programar, sem se preocupar.

Trabalhar, me esforçar, viver uma vida que nunca conheci. Cometer erros gostosos, mas cometidos com a melhor intenção, com suavidade.

E passar suavemente. Andar suavemente, respirar suavemente, responder suavemente, silenciar a palavra ardente. Quietar num canto só meu, quietar num canto onde outros abraços são possíveis e outras vozes audíveis. Quietar num canto acolhedor e observar os gestos, o tipo de cabelo, tantos pares de sapato diferentes.

E independente das minhas escolhas ou ações, dos meus mundos, de todas as minhas vidas separadas, cada eu em alguém diferente, estarei aqui com as minhas portas abertas pro vento entrar. O vento mais querido, mais colorido, mas desejado. Aquele que passa com o perfume peculiar, único. Aquele que se senta e que adormece no colchão ao chão. E que observo simples, receando um movimento brusco. Aquele que faz o pulso, a marca, a reação. Aquele que traz a vida mais intensa e poderosa. Aquele que é meu espelho e meu oposto, meu alimento de força e avidez.


Aquele, que, se não vier de um jeito, será bem vindo de qualquer outro. Porque um amor que nasce é amor que se mantém vivo das maneiras que a gente desejar que viva. E quero que viva, construído e aberto da forma que precisar ser. Mas sempre, sempre suave. E eu sempre, sempre aqui. Sem esperar, sem desejar, sem impulsionar ou questionar. Aqui, pra receber, aqui pra colher, aqui pra simplesmente ser.



Suave, tênue.
Laço inquebrantável.
Sem nada mais pra querer ou exigir.




"Would you choose water over wine?
Just hold the wheel and drive."

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Eu costumava governar o mundo.

O mundo que girava ao meu redor. Pessoas, passos, pastos, postes, portas, porcas, patas e pastéis. Ah, os pastéis. Principalmente os pastéis, dos quais fazia questão de rebaixá-los à classe miserável do meu reino. Colocava as porcas prontas para perfurar paredes, muros, pneumáticos carecas, cercas. Ah, as cercas. Principalmente as cercas alheias, das quais fazia questão de mentir para mim mesma, ao pensar que dominava só por fazer uns furos aqui e outros ali. As patas, as mantinha presas ao chão de madeira corrida. As portas, sempre fechadas, deixavam as dobradiças cada vez mais depressivas, tão inúteis se tornaram.

Os postes iluminados, antes da classe alta, a classe Branca, estavam agora apagados. Mas isso era quando eu costumava governar o mundo. Os pastos eram lindos, amarelos assim. Diferentes, era o que eram. Diferentes, mirrados, inabitados. Nem os porcos das porcas se interessavam.

As pessoas, elite da minha sociedade, cada vez mais abençoadas, brilhantes e altivas faziam parte da minha corte solitária. Eram pessoas sim, fantasmagoricamente lindas, inacreditavelmente perfeitas.

Então a coisa, os esquema, a cadeia era assim: a música profana, também conhecida como Rock'n'Roll, blues e jazz faziam companhia aos pastéis. O metal também ficava bem quando se juntava às barulhentas porcas perfuradoras, que, por mais úteis que fossem, ainda eram meras operárias. Brutalidade não fica bem na corte. Não havia guerras, meu país era sufientemente pequeno e inofensivo para que houvesse nunca tivesse havido importação de ataques. O país era completamente autosuficiente em bombas. Também não eram exportadas. Explodiam ali mesmo, a formar crateras de terra vermelha infértil. O purê de batata era indigente, junto com os grupos que tricotavam durante três estações do ano para se aconchegar ao calor das lãs no inverno. Pobres tricoteiros, vida breve, perderam-se em algum ponto-meia dos fios e das bolas de lã. Os livros, tão misteriosos livros, guardados bem a sete chaves nos baús da minha realeza. A música, cada vez mais sacrosanta, me tornava uma rainha mórbida, não importava quanto fossem os esforços dos bobos da corte. Muitos bobos. Eu os escolhia a dedo, por aparência, inteligência, dinamismo e maldade. Eram tantos, mal cabiam. Pão de mel? Mel amarelo, racismo na veia. Era colocado no último lugar de todo o esquema. Era desdenhado, torturado e destruído. Reduzido a pó. As surpresas, ah, as surpresas, assustadoras e distantes. Sempre ao lado do purê de batata. Não existiam patas. Nem sabia o que eram patas.

Foi quando caí do trono. Foi um tombo lento e dolorido que me deixou cicatrizes e lições. Tantas cicatrizes que quase poderia me amargar pelo resto da longa existência solitária. Caí, reto e certeiro nos braços de um caixeiro viajante, nada desejoso de virar rei. Ele não queria governar, não queria apontar, acusar ou julgar. Não queria encarar, nem retroceder. Queria erguer-se diante de suas provisões necessárias para o resto da viagem. E o segui sem aviso prévio, sem saber aonde iria parar. Não havia cavalos a frente dele, não havia carruagem abaixo. Nada de príncipe encantado. Só haviam seus pés, ávidos, sedentos de novidades, terras novas, lendas e retratos frescos.

Parei de governar meu mundo. Deixei para trás o barulho. Foi quando conheci as patas. Negras e sujas de poeira esvoaçante. Patas grandes e pesadas, que, da inexistência, passaram a ser parte de um coração que começava a bater. A viagem não me levou a lugar nenhum além do meu próprio reino, só me tirou dos olhos a venda que me cegava. O preto branco vermelho com escalas de cinza deram lugar a negritude absoluta do animal que me carregava. Animal enorme, que aprendeu a caminhar ao lado do caixeiro viajante tocador de cítara. Na visão de humana, apaguei o desejo real de colocar ordem as coisas e deixei o caos tomar conta da terra. A minha terra. Tirei os chapéus dos bobos. Estes tornaram-se as pessoas que me acompanharam durante todo o meu reinado e que continuaram comigo na minha viagem ao redor do mundo. Meus amigos, minhas famílias, agora na elite do meu coração. Não havia mais nada a dar, não havia riquezas - tinham sido esparramadas aos produtores das bombas catastróficas. Sobraram os livros e os distribuí às pessoas, que agora, tão normais quanto eu, pararam de ofuscar umas os caminhos das outras. Éramos todos falhos, agora, anárquicos e falhos. Brilhantes, sim, sem comparações, cada um com sua cor.

O purê de batata, também comi. É inútil preservar o que nasceu para desaparecer.
Descobri que purê de batata, além de alimentar magestosamente, também faz muito bem ao paladar. Assim como os pastéis, que comi até explodir. Até quase explodir, porque as bombas já tinham ido havia muito. Os postes, apagados, começaram a iluminar o caminho e, a minha frente, foram se descobrindo campos verdes, dobras macias de terra, cantos fofos de gramínias e rosas mescladas. Perdi minhas porcas. Propositalmente. Soltei-as para produzir porquinhos inofensivos. Sempre soube que porcas foram feitas apoiar, mas não para continuar perfurando. Eram buracos demais a essa altura. Aprovei a música profana e foi a melhor coisa que fiz na vida, sem esquecer da música vinda dos céus - sem dissonâncias, sem imperfeições. Derrubei todas as cercas. Os buracos remanescem na memória distante, mas é ofuscada pelo irradiação dos habitantes de um mundo tão colorido agora, que quem chega de longe tem que estreitar os olhos para se acostumar. De todos os cantos, de cada banco e calçada parecem emanar feixes de qualquer coisa no ar, como um sopro de cores ou um raio de sol. E tudo parece se encaixar tão perfeitamente que até o pão de mel, de acordo com o chocolate, encontraram um lugar para ficar: meu estômago saciado e agradecido. Sei que o pão de mel também estaria se sentindo o máximo.

Minhas terras, agora não eram mais minhas e eu não governaria nada mais. Nem meu próprio nariz. Meu coração era dono de mim e companheiro das pernas andantes. O caixeiro e as patas continuam pesando nas minhas costas. Mas, como se disse, eu carrego um peso leve, delícia de carregar. Vira e mexe, me ajoelho e me curvo, diante d'O Maior. Para agradecer, não para largar ao chão o fardo. Fardo gracioso, encantador. Alivia a pressão e descarrega o corpo da adrenalina excessiva.

Daquelas riquezas, além dos livros, só guardei a cadeira de balanço com as lãs, que pendiam esquecidas dentro do estofado.
A cadeira de balanço, para sentar e compor lembranças sensacionais.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sensibilidade

Sei que é à flor da pele quando atravesso a calçada e vejo meu interior intangível indo embora com o barulho do carro velho. Não sabia se mandava flores, se gritava versos, se soprava um olhar sem expressão, daqueles demorados de doer a espinha. Sei que ia embora junto com o motor que sempre demora a dar partida e que morre nos lugares mais inapropriados.

Passei pela cozinha em silêncio depois de ter trancado a porta, enquanto via através do vidro embaçado o carro escuro sair devagar, roncando lento até desaparecer. Não me demorei, não fiquei a ver o carro ir embora de propósito. Só queria trancar a porta antes de me enterrar de vez na zona de perigo, tão bagunçado o quarto. Fui colocando as coisas no lugar enquanto a fome vinha, enquanto as agulhas abandonadas num canto da escrivaninha me olhavam atenciosas. Era hora de tricotar.

Sei que é forte e intensa quando a boca estoura em bolhas de água. Estressando e esticando meus músculos, marcando a testa, roendo a unha dos dedos, soltando deliberadamente ácido gástrico quando meu cérebro não recebeu nenhuma mensagem da minha boca. Nenhuma mastigação, apenas a boca aberta de cansaço. Catei as agulhas, antes enfiadas na gola de lã a formar um x, agora finas nas minhas mãos, desejosas de uma agulha um pouco mais firme. A de plástico traz o tipo de lembrança que não quero acender. Mas é só o que me vem. Lembranças e lembranças. Arrepender-me do que fiz é exatamente arrepender-me do que não fiz. Briguei e me arrependi por não ter compreendido. Falhei e me arrependi por não ter me esforçado ainda mais. Perdi e me arrependi por não ter acertado o caminho. Me arrependo apenas do que não fiz, que é o mesmo que me arrepender do que fiz.

Sei que é suave, a sensibilidade, quando não sobra nenhuma imagem. É quando fica o formigamento, é quando o corpo sente a ausência como se estivesse agarrada à matéria firme, viva. No entanto, longe.

Incrível. Vemos nosso mundo ao redor e nos esquecemos de olhar nos olhos.
Esqueci de ver o que estava do meu lado, ou no meu colo, ou me segurando nos braços, pra ver o que tinha ao meu redor. A bolha de intimidade faz exatamente isso: me intimida. Acabo em pensamentos avulsos, esquecendo de olhar os olhos. Às vezes, já nem se lembram da cor dos meus.

E mais um dia. Mais uma madrugada. Mais um nada aqui dentro.
Meu quarto é puro papel e cama. Falta o recheio, a cobertura.
Falta pouco, espero.


Sensibilidade. É quando o sol nasce na gente antes de despontar no horizonte, é quando o inverno cresce, a frieza assoma, o escuro absorve antes de sobrar solidão. É o anterior ao acontecimento, é angústia e ânsia.

Sensibilidade é uma praga imunda porque eu odeio ser sensível.
Mas amo, e brigo e... fazer o que?
Me recolher. Entre amar e brigar, escolho viver.


E seja o que Deus quiser.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Amor

É tosco demais falar de amor.
Coisa mais demodê.
Prefiro fazer.

É tosco demais falar de amor.
Prefiro me empenhar em manter.
Prefiro agir, discernir, rugir
Prefiro crescer, mudar, transformar
Prefiro acionar amor.
E cuidar muito bem dele enquanto tiver forças.



O resto da minha vida.
Lustrar, dar brilho, botar lenha na fogueira
Encher de sorrisos e carinhos
Encher de bolhas de sabão, corridas pelo parque
Mergulhos no mar, na cachoeira, no ribeirão

Prefiro viver a ter que definir o que não tem explicação


O resto da minha vida.
Lutar, seguir em frente, cabeça erguida, tronco erguido, coração arriado...
Por amor.
E de amor... coisa mais antiga.
Força mais sutil.
Estranha paradinha indefinida.



É tosco demais falar de amor.
Amo pronto e cabô.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sono...

É quando o espelho diante de ti passa a significar o quadro da mulher desconhecida.
É quando a mão estendida diante de ti não tivesse significado absolutamente.
É quando os dedos aparecem comidos, é quando o medo da escuridão se desfaz em gotas de cristal líquido.
É quando o mundo se descobre para mostrar os detalhes a olho nu não vistos.
É quando tudo cresce e explode diante dos teus olhos redimidos. Ou não.

O pecado, necessidade básica, seio pronto, mamas inxadas.
A sina, descoberta mútua, amor lascado, dança ritmada em pulsações cardíacas.
O bumbo, o batimento visceral do que foi feito para gerar.
A sensibilidade, vermelha, visível, dolorida.
A força regada ao respeito inacreditavelmente presente.
A vitalidade da nudez ao som do escolhido.
O som, gutural, interno, rude e espontâneo.
Curva aberta e cascalhenta sem aviso de segurança.
E o aro se lança em direção ao mundo oco.

É quando não reconheces a própria pele, o próprio cheiro.
É quando não inalas o suor exaurido.
É quando o rumo parece desvanecer.
Um desvio de olhar e tudo se foi.
A compreensão do fundamento humano, a próprio índole.
Sem ver, cega de mundo, cega de mãos e bocas, cega de carne, músculos e gordura
Me acho no afastamento.
Meu mundo termina quando o do outro termina.
Meu mundo termina quando vou dormir.

Adormeço como se fosse a última.
Adormeço até doer.
E dói, como dói tudo o mais.
O gelo, o fogo, o perdão.
A foice, a faca, o cordão.
A cara, a vista, a cera, o pão.

Acordo como se fosse a última.
Acordo até doer.
E dói, dói como tudo o mais.
O pedido, a escolha, a desculpa.
O meio, a flor, a culpa.
O selo, a correspondência, a luva.

Visto-me como se fosse a última.
Visto-me até doer.
E dói, dói como tudo o mais.
O recolhimento, a ordem, a fava.
O movimento, a articulação, a lava.
O assunto, a expressão, a forte clava.

Vivo como se fosse a última.
Vivo até doer.
E dói, dói como nada mais.

Reconhecimento

Ferro, cálcio, falta cor.
Na janela brisante uma força pulsa, inerte ao movimento da alma.
A unha fraca se quebra entre os dentes, sem a menor resistência.
A mente oscila em busca do que sobrou, em busca de uma autêntica rouquidão.

Todos os sentidos falham ao tentarem reeguer-se diante da limitação léxica.
Todos os sentidos falham ao tentarem erguer o abstrato, o intocável e ilimitável.
Dislexia, dor , frescor, lenta agonia.

Os limites inalam a trapaça, a ultrapassagem, o passo. Lenta agonia.
Como estaca deixo-me estar no início de tudo. No fim de tudo.
O que me consome não mata, acaricia.
O que me consome não mata, tortura.
Tortura mentirosa de rostos audaciosos, maliciosos, anti-ociosos.

Deixo-me estar no interior amplo e exato do nada.
Onde posso me abrir em chamas, em garras, em folhas, em pedaços.
Onde posso berrar o nome de quem clama por verde. O verde em folhas, que paga a comida.
Deixo-me estar no fundo do que ninguém pode entender como produção.
Deixo-me estar em mim.

Mim. Pronome irreconhecível.
Cada hora, um mim incrivelmente solto, incrivelmente plausível e incrivelmente lascivo.
Cada hora, um mim novo, alguém renascido das trevas. Lenta agonia.

Deixo-me estar no consciente dos meus sentidos cinco.
Como rosa redonda ave de rapina.
Como prosa em verso, como verso do papel.
Deixo-me estar em mim.
Na preguiça finita mergulhada no infinito monte de mim.

É quando acordo devagar, cedo, com cheiro de sono no ar pesado.
Meu ócio me corrói, me consome, mas não mata.
Meu ócio me quebra, me parte e me reconstrói.
Meu ócio produtivo, minha redoma de vidro.
Alguém alcança. Um dia.
Lenta agonia.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Versatilidade

De cantor a ator
de dançarino a poeta
Quem adivinharia pelos olhos tanta modificação

Olhos que calam
Bocas que olham
Calos que falam
Pra mim.

Há quem diga que há no inferno
um Deus vermelho com chifres
Eu digo que lá faz frio
Eu digo que há ninguém

Ninguém
Ninguém

Só eco, oco, eco, oco

Senhor! Ecoa suor
Senhor! Ecoa óleo
É tudo luz
As trevas só ilusão
Lá é tudo luz e alta tensão

Esqueceram-se das trevas.

Esqueceram-se das trevas.
Hoje é tudo prosa.
Hoje é tudo rosa.
Esqueceram-se das trevas.
Trevas espessas figuradas pairadas
Manadas pesadas de pura marca.
Marcas sem lamento
Rimas sem contento
Vento...

Esqueceram-se das trevas
Que fazem tudo rodar
Esqueceram-se das trevas
que a todos dá lugar.

Ah, sangrento pulso
sangrenta sorte
sangrento amor.
Amor banhado em ódio intenso
Sangrento grito
sangrento argumento

Mamãe, mamãe
Dê um lugar a mim na sua treva pessoal.

Me curvo diante da vida,
brilhante vida
pra da hipocrisia longe passar
E passo, na sombra tremida
de árvore. Ventania

Me encontro, ausência de luz
Me perco presença brilhante
Brilhante leigo, brilhante satisfação

Fingimento cansa
Treva repousa e nela descanso.
A treva de mim
A sombra de mim



Meu lugar, enfim.



Esqueceram-se das trevas.
De mim ela não se esquece.

Repetição.

Não me sai.
Rádio soprando, mesma canção.
Não me sai.
Ácaro grudado, pó de diamante.

Falo com os olhos
como se inventasse o que dizer
E prego, rogo em pensamento
Por não ter o que dizer

E magro, largo sangue
Poro suado, excremento de pele
Largo dor, e mestro
Sem possuir coisa.

Aos dedos me fogem
a cera que compõe pensamentos.
Aos dedos, fissurados, largo sangue de raspagem cerebral

Tento.
Não penso.
Vago.
Imerso.

Imenso mar de ar.

quinta-feira, 5 de março de 2009

As coisas.

as coisas mudaram de rumo, as pessoas de estação
tem hora que perco o prumo em pensar no resto
é feto, é asco, é elemento perdido, é chama do chão

é algum tipo de bala dumdum que se abre em pólvora quando bate no obstáculo
é escuridão, assombro, carvão

e, cega, cegamente linda, segue a minha vida
sem saber se vai ou se fica no redemoinho de dentro
é sentimento vai e volta, problemas com o trovão: ilumina e machuca os ouvidos

o que me dói é o ritmo descompassado que os meus dias seguem
ritmo que, sempre acelerado, mas nunca certo, me toma as rédeas
o controle fica nos meus olhos, cegos,
que se perderam em algum lugar do meu eterno sono.

as rédeas tomadas da cegueira faz do chicote um ricochete
as rédeas tomadas da minha vida fazem do breu puro chocolate
as rédeas tomadas do meu mundo fazem do choro uma chantagem
as rédeas, não as tenho, deixo-as pro meu destino incerto e certo, chato e roto
as rédeas tomadas da minha alma fazem de mim alguém infinitamente melhor


a mim me sobra o descontrole
e que seja muitíssimo bem vindo.

Sumido, hein?

Eu sumo às vezes. É normal sumir. Não fujo de ninguém, isso não é de mim. E se eu sumir, às vezes foi porque me esforcei mais do que devia e não obtive retorno. Não é que eu faça tudo querendo algo em troca. É que uma hora a gente cansa de inexistir. Posso sumir também por pura falta de tempo. Aí quem não retribui atenção sou eu. Mas isso também é normal. Sei que é normal, por isso não me estresso, apenas sumo. Sumo e, se eu der alguma desculpa pra você quando você me ligou, acredite: ou eu to mentindo porque to na fossa e não quero ver NINGUÉM, ou eu estou falando a verdade, por mais mentira que ela possa parecer. Porque eu só minto em casos de extrema necessidade espiritual.
Eu minto às vezes. Porque omitir é mentir. E omito meu estado, omito meus pesares, omito um monte de coisa. E, por mais que omitir seja mentir, todo mundo tem seus segredos. Logo, todo mundo mente. Sou sincera. Sincera até demais. Eu vou dizer pra você não cortar o cabelo se achar que vai ficar feio e, se você cortou e ficou realmente feio, eu não vou falar que ficou bonito só pra você não se sentir mal. Eu vou ser verdadeira, porque é isso que as pessoas devem fazer. Segurar a onda, dizer a verdade sem grosseria. Tenho o costume de amenizar notícias e pedidos, de fazer pequenos rodeios, mas falo exatamente o que precisa ser dito. Quase não existe na minha vida o que não pode ser dito. Todo mundo sabe como sou, todo mundo vê. Tá estampado em mim: eu não consigo mentir. No máximo, omitir. Se minto, gaguejo, tropeço nas palavras, esqueço coisa. Mas faço isso também quando falo a verdade, por isso nunca se deve levar em consideração as minhas dislexias na hora de analisar se to mentindo ou não. Se eu to mentindo, você vai saber sem esses recursos e logo não vai ser mais mentira. Só omito.
Eu sumo às vezes, pelo simples fato de não aguentar mais caminhar nesse labirinto de imagens desfocadas que as pessoas se tornam pra mim. Não sei como lidar com elas, não sei decifrar os códigos, não sei a diferença entre mentira e verdade que contam dia após dia. Não sou tão esperta assim, não sei analisar almas. Não sei o que as pessoas querem. Mas sei o que eu posso ser pra elas. Sei que posso ser como costumo ser, transparente, sem falsos sorrisos. Tenho muita preguiça das pessoas, mas não é culpa delas. É culpa minha, eu sei. Porque não sei ver embaixo das peles de várias cores. Não sei enxergar as mudanças de humor e não sei o que elas precisam. Sei como eu posso ser, apenas. E sei que gosto muito de ter pessoas do meu lado. Gosto de me sentir segura ao lado de alguém que sorri comigo. Gosto de ter a segurança de um abraço. Porque abraços não mentem.
Eu sumo às vezes, sumo porque não sei mais onde procurar, não sei nem o que procurar.
Não sei das pessoas.
Não sei o que elas são.
Só sei ser.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

When you believe...

"Many nights we've prayed with no proof anyone could hear
In our hearts a hopeful song we barely understood
Now we are not afraid although we know there's much to fear
We were moving mountains long before we ever knew we could

In this time of fear, when prayer so often proved in vain
Hope seemed like the summer birds... too swiftly flown away
Yet now I'm standing here with heart so full I can't explain
Seeking faith and speaking words I never thought I'd say

There can be miracles when you believe
Though hope is frail It's hard to kill
Who knows what miracles you can achieve?
When you believe somehow you will
You will when you believe..."

When you believe - Prince Of Egypt
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Existe, dentro de mim, um tipo de força pulsante. Como se cada pulso fosse um jato de luz, que percorresse toda a extensão do meu corpo e se instalasse na minha cabeça, iluminando a pele que cobre minha existência. Quando, em determinado momento, o pulso inconstante deixa de se movimentar, é como se minha carne secasse e só sobrasse a pele vazia pelo chão. E perco lar, perco sinal, perco a mim.

Tentando achar algum sentido para o que pulsa, essa força é como se sintetizasse o que eu sou. E o que se passa é o ir e vir da luz. Que não me acompanha sempre, mas que, quando vem, vem com a intensidade total e me toma por completo.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Crocante.

Os últimos dias têm sido crocantes.
E só.
A vontade de escrever, a montanha de idéias, a desorganização me impedem de qualquer tipo de articulação manual, mas, como perfeita humana adoradora dos teclados madrugadeiros, tento aprontar e seguir as minhas linhas tortas de raciocínio falho. O que me vem são os sonhos, a vontade de reunir um amontoado gigante de idéias novas, cheias de sabedoria e experiência. Mas ainda sou uma criança, que ri ao fazer arte, que chora quando cai. Que espera, sentada ao balcão de mármore da cozinha, por uma carta. Que se desmancha ao ouvir uma música simples, mas delicada.
Alguns momentos da minha vida passam tão sutis por mim, que os sinto como um sopro de ar, daqueles de fazer bico, que faz resfriar a nuca quente. A irregularidade dos horários tendem a desregular qualquer tipo de sensação que posso ter. E tudo fica crocante, quando não pode mais ser definido. Um mau humor crocante, uma felicidade crocante. E, por pior que seja ou por melhor que seja qualquer coisa, acaba sendo muito gostoso definir o que for como crocante. Penso no barulho que faz quando mordo, no gosto que tem quando passeio com a língua pelo meu alimento recém permitido: o chocolate. E me delicio ao pensar que meus dias, apesar de não poderem continuar a ter o gosto literal do chocolate amargo ou da trufa alcoólica com tanta freqüencia, continuarão sendo crocantes e doces.
Mas às vezes, os dias são pesados e escuros. Como um pântano sem cor, como veia sem sangue. Meu corpo se deita e fica por horas a olhar o teto branco, sem expressão. Como se não houvesse mais pulso, como se toda fibra, toda célula e toda massa tivessem desistido de desatar os nós que imponho a mim dia após dia. E essa é a minha grande luta. A minha maior luta. A luta contra mim mesma. Contra minha indisciplina, contra a minha ingratidão, contra o meu ódio interno, contra o meu grito instalado na minha canela. É lá que ficam meus gritos; nas canelas. São esses os dias em que é difícil acordar. É como se não tivesse meu recheio, minha essência. É como se eu tivesse emitido algum ruído estridente ao dormir e, ao acordar, tivesse visto que minha alma morreu de susto e ficou flutuando, pairando acima da minha cabeça. São os dias em que as alegrias se tornam ínfimas e é exatamente quando tudo começa a desmoronar. Motivação, disciplina, força. É quando tudo se esvai num simples embalar de uma música.
Poderia ficar horas meditando e monologando sobre a arte de combater comigo mesma. Mas os combates são simples torneios amistosos. Ninguém ganha e eu continuo a mesma forte fraca patética de sempre.
E me perguntarão: onde fica o 'definitivamente feliz'?
E quem disse que eu não sou feliz?
Pesar os dias, espremê-los e fazer suco deles não significa que não gosto deles.
É que eu prefiro temperar, beber com gelo. Senão vira puro tédio.
O tédio que agora me assola dos pés a cabeça.
E não há absolutamente nada que eu possa fazer além de escolher o dia que eu quero para amanhã. Amanhã, eu quero todo o pântano e a ausência da minha essência. E, como todos os dias, vou passar despercebida, distraída, como qualquer um, sem me envolver, sem abrir um sorriso franco, sem me abrir.
Porque é tempo de elevar o que de pior há em mim.
E isso acontece da seguinte forma: amanhã eu vou acordar, me vestir, comer, como todos os outros dias. Vou desejar bom dia, cumprimentar, reclamar, me movimentar freneticamente. Mas não mexerei um músculo da alma. Deixa ela quieta, porque eu quero que meu dia seja assim. Essa é a minha escolha.
Entre o bom e o ruim, amanhã eu escolho o mais fácil.