Quero criar. Não quero ser um plágio, não quero passar a minha vida a limpo. E também acho um saco escrever nas últimas páginas do caderno. É quase... insuportável.
O que acontece com o último pedaço de folha de papel em um caderno é o que acontece com a vida. O final vem chegando e a vida e a folha vão ficando sem apoio. A morte é uma benção e não um castigo. Quem agüentaria viver na eternidade? Talvez vivamos eternamente, mas o esquecimento visita as vidas futuras, fazendo-as esquecer das vidas passadas. Talvez seja assim; nunca sei bem em quê acreditar. Morrer pode ser bom, para que finalmente saibamos o que existe do outro lado, para saber se a nossa vida era o lado bom ou o lado ruim.
Não quero me conter. Queria poder falar palavrão, xingar e bater. Caso contrário não seria livre, mas se eu não me contivesse, seria escrava das minhas ações impensadas. Queria poder rir a qualquer hora e dizer que não gostei da comida. Caso contrário não seria livre, mas se eu dissesse tudo a qualquer hora e pra qualquer pessoa, seria escrava da minha frescura e da indiscrição. E é exatamente aí que chego à conclusão de que não existe a verdadeira liberdade. Existem padrões por todos os lados e somos ilhas cercadas não por água, mas por um poder muito maior, mais antigo e mais experiente do que nós, simples mini-pessoas tentando ser grandes pessoas capazes de cuidar do próprio nariz: o costume.
“[...] tinha descoberto, como muitos antes dele, que só o primeiro palavrão soa realmente mal; depois não há nada tão capaz de dar vazão às sensações de uma pessoa.” – Trecho do 4º volume do romance “A Torre Negra” (Mago e Vidro), de Stephen King. E não há nada mais certo que isso.
O que eu escrevo não tem fim. Ao afirmarmos o correto, estaremos negando o errado. Negar algo é uma forma de descriminação e preconceito. O errado tem suas razões pra existir. Não o nego. Nem puno. Deixo que ele exista dentro de mim como a própria verdade. O erro gruda e eu aceito. Não me faz mal.
Amanda Miranda
Nenhum comentário:
Postar um comentário