terça-feira, 15 de julho de 2008

Agonia [unspoken words]

14 de Julho de 2008

Aconteceu o fenômeno mais inesperado da minha vida. Declarei com voz alta e clara que sinto falta de física. E pior, matemática. Me recusei a usar a calculadora hoje, quis fazer tudo de cabeça. Não quero dizer que tenho tido sucesso nos meus cálculos, mas estou a ponto de ficar louca com a preguiça e com a lentidão que venho pensando nas coisas. Cada vez mais devagar... Gaguejando cada vez mais, tendo que recomeçar as frases toda vez que abro a boca.

Os meus exercícios de lógica não têm funcionado, sudoku para que te quero?

Os dias de superprodução acabando, os textos regredindo, e vivo reclamando! E pensando na diminuição da inteligência, decidi deixar o ócio... Não quero nem trabalhar o que chamam de ócio criativo. Com toda a calma complexa do meu raciocínio, seria impossível tomar a iniciativa de alguma coisa que tenha a palavra ócio no meio. Eu QUERO estudar. Não aguento mais ler Stephen King. Por mais que seja interessante, novo, cheio de encanto, só me adiciona mais paranóia e, convenhamos, de paranóia já me fartei. E essa é a minha agonia mais ínfima.

A agonia intíma são as palavras não ditas. As minhas, as dos outros. E todas as frases que não fui capaz de completar por pura preguiça de ter que explicar tudo milhões de vezes. Porque SEI que explicar não vou conseguir. E, se conseguisse, não entenderiam. E o meu talento pra argumentos, onde foram parar? No meu Ensino Médio, largados junto com os papéis jogados no lixo, dos dias passados rasgados da minha agenda escolar. Faz tempo que não consigo discutir mais que cinco minutos com alguém. Perco, óbvio. Resignação, inxaço da massa cinzenta. E vêm as emoções tomando conta até dos meus olhos ardendo durante qualquer conversa [pseudo-conversa], e vem raiva e antes que jogue alguma coisa pela janela ou na parede, prefiro parar. Desistir, mesmo. De que adianta?

Os atos que "cometo" por mais burros que pareçam ser, têm um fundamento. E são fundamentos distantes, queridos, ininteligíveis pra quem não os viveu. Dou férias a minha voz, ela merece. Explicar pra quê? E se alguém vai entender, não me importo mais. Basta que eu os conheça e saiba como são. E se entender, vai aceitar? É uma dúvida que não tenho mais. Entendimento e aceitação passaram longe da alma humana. Da mini-cabeça humana. Não é querendo subestimar ninguém, nem querendo me colocar em qualquer tipo de patamar superior, mas... não consigo suportar frases feitas, lógicas e restritas. Pensamentos curtos, imediatos, prontos instantaneamente. Não fui feita para dar respostas "miojo". Um dia quis ser assim, mas vi que não vale a pena. E pensar num infinito de possibilidades, fantásticas, engraçadas, podres, é o que me diverte. O ruim é não poder compartilhar. E ficar quieta só pensando, pensando, pensando... E rindo, claro. Imagens como as que vêm na minha cabeça merecem ser bem aplaudidas.

E eu aqui arranjando uma desculpa pra minha burrice...
Vai me desculpar, mas a ignorância tomou conta de mim.

Por isso me calo.
E me deito.
E durmo.

Pelo menos sonhando não sinto aquela coceira na língua empurrando a vontade de falar.

Por isso não escrevo.
E reclamo.
E chamo a minha inteligência de volta.
Mesmo sabendo que ninguém vai confiar nela.
Se é que algum dia ela realmente existiu.

Talvez o que tenha existido foi só a vontade.
É de vontade que o mundo é feito, não é?

Me abstenho de qualquer comentário a mais.
Fiquei com preguiça, claro.



Amanda Miranda

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