sábado, 27 de dezembro de 2008
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Começo de ano.
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É sempre assim. Um ônibus, a cadeira ao lado cheia de um amontoado de nada, e os olhos na janela. Eu, disléxica. Passando mato, trovão, placa e cachaça. Eu, mais disléxica ainda.
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Como (quase) sempre.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Não.
Tudo o que disseram sobre o abraço (sobre qualquer abraço!), pra mim, não faz o menor sentido.
Não é o abraço. Não é esse abraço, que vem de um lugar que nunca foi visto, que pacifica. Não é! Nunca foi. Não é abraço gelado, desonesto. Não é esse, tampouco. Não é o abraço pequeno, não é o grande, não é o fraco. Não é o simples, modesto, rico, impulsivo. Não é. Não é esse o abraço que conforta. Não é!
Não, não é o abraço de parentes distantes, não é o abraço raro. Também não é esse.
Abraço é bom. Todos são, admito. Mas o que disseram sobre o abraço, aquele abraço qualquer, de qualquer um, que é capaz de confortar, é pura balela. Balela, mentira, falso-testemunho. Não é esse abraço que funciona pra mim. Não é o que vem da noite, não é o que vem de longe, não é o que vem puro. Não é o que vem da cabeça de quem oferece o abraço. Não é esse!
O que conforta é o que cabe em mim. E o que cabe em mim pode ser frio, comovente, molhado. O que cabe em mim pode ser seco, muito quente, suando. Pode ser aquele que segue depois de comer o úlitmo pedaço da pizza, pode ser aquele que vem logo antes do suco. O que cabe é aquele de todos os dias, mesmo diferente a cada toque. O que cabe é o abraço conhecido, presente, sempre do mesmo tamanho. O meu tamanho. O que serve é o abraço moreno. O abraço alto. O abraço macio. Pode ser de qualquer jeito, por vir a qualquer momento, mas tem que ser esse. O abraço que mede o ombro, a cintura, o pescoço. Que abrange tudo por dentro, a retina, as veias. O abraço que promete, o abraço que cumpre, o abraço que permanece. Sempre. Que está ali, mesmo sem abraçar. É o abraço que gruda e não quer sair, o abraço andando pela avenida paulista ou pelo baile de casamento. É aquele que enxe o saco pra vencer, aquele que insiste até virar puro amor. É esse, o abraço que acabo sentindo sem existir, o abraço que sinto antes de dormir. O abraço que pede retorno sem precisar abrir a boca. O abraço que retorna com o maior prazer. O abraço que me faz importante, que me tem com vontade. O abraço que vai voltando, que volta indo, que fica. Que continua, que nasce com lágrima, morre com o sorriso, que sorri quando acaba, que acaba quando cansa. O abraço que fica, que fica, fica... e fica mais um pouco porque não consegue parar de se enrolar, que não sabe como largar. Aquele que larga sem querer mas volta pra se acalmar.
Cabe em mim. E cabe tanto, tão rente e tão certo, tão fechado, que acaba se perdendo.
De tanto se perder, já virou eu. E o meu abraço já virou o outro. No fim, nunca houve abraço. Nunca houve resposta, nunca houve sofrimento, nunca houve nada. O que houve (e o que se ouve) foi a respiração calma, os olhos fechados, o quarto quieto, a mente funcionando apenas no inconsciente, a noite mergulhada bem fundo no silêncio...
Existe, sim.
E é meu.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
L.
É só o que sai de mim.
É só o que sai de mim.
E o tempo começa se descascando.
Aos poucos ficando cego.
E tudo são flores, quentes, murchas, marrons.
A mão coça pra percorrer o teclado rapidamente.
A cabeça pena nos pensamentos-esperança-vã.
Porque continuo a esperar, continuo a me decepcionar.
Dia após dia. Minuto após minuto. Palavra após sentença.
E a pele começa se desgastando.
Aos poucos ficando lerda.
E tudo são folhas, frias, duras, barulhão.
O pé chuta pra permanecer livre do que é dormente.
A barriga grita no bolo-alimentar-exagerado.
Porque continuo a agitar, continuo a rebocar.
Lágrima após lágrima. Fala após piscadela. Luz após fogo.
E a mente começa se debulhando.
Aos poucos ficando flácida.
E tudo são descasos, chatos, tolos, turbilhão.
O cotovelo fere a tábua pra provar que no corpo é existente.
As costas revelam sentidos fantásticos do que pode ser uma cosquinha de mosquito.
Porque continuo a levantar, continuo a aceitar.
Mentira após texto. Xingamento após carinho. Receita após comida.
E o rosto começa se achatando.
Aos poucos ficando inerte.
E tudo são ares, fantasmas, inexistências, desistências, convivência, paciência, penitência, pertinência, macilenta conveniência.
Amor.
Conversa Fiada
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– Fantástica mãe,
Fantástica sim. E amanda. Muito amada.
Escrevi esse texto num papelzinho azul na madrugada de segunda para terça, enquanto baixava alguns CD's na internet e depois de ler o seu texto sobre os flamboyants. Agora, gostaria que vc soubesse o que pensei enquanto ainda está longe.
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Fiquei te esperando [e ainda espero], mas você não chegou de madrugada. Às vezes me alivia pensar que você não enfrentou esse mundaréu de estrada à noite, mas a saudade começou a apertar forte.
Não dá pra andar pelas largas calçadas, de Brasília, cheias de flores sem pensar em você. Não dá pra ler os seus flamboyants sem derramar uma poça razoável de lágrimas. É tempo de flores...
Pode não parecer, mas a todo minuto penso em você. E no quanto gostaria de ver sua felicidade restaurada e firme. Para mim, é preciso que você diga o que pena, o que sente. Minhas adivinhações são falhas. Não sou como outras pessoas. Preciso dizer e ser ouvida, preciso escutar enquanto os outros falam. Preciso ouvir para entender. É que eu também virei meio pedra e minha percepção do mundo fora de mim começou a dar tilt. Também virei meio pedra, apesar de ainda me derreter por completo pelas pequenas amostras da sua alma extraordinária.
Para mim, é difícil te alcançar. E juro que não é falta de amor. Você sabe que não é. Às vezes acho que pode ser amor demais, mas o amor bom, puro, nunca é demais, nunca pode chegar a ser inadequado. Pra mim, todo amor é válido. Mas não é esse o caso. O caso é que tenho dificuldade em alcançar as ações das pessoas e o significado dessas atitudes. Tenho dificuldade em manter os laços no nível em que deve estar. Tenho dificuldade pra me relacionar profundamente. Porque virei meio pedra também. Meu amor é do tipo obscuro, escondido. Porque virei meio pedra também. Também fiquei em pedacinhos e ainda hoje vago à procura dos lugares por onde andei tentando reuni-los. Às vezes procuro as compensações, mesmo sabendo que compensações não funcionam, e acabo me quebrando mais um pouquinho outra vez.
Acho difícil pra caramba amar.
Mas é incrível a força que você me traz quando bota pra fora o seu fascínio, o seu dom, as suas obras, o seu jeito de levar a vida. Você me faz querer agarrar a minha própria vida e a de outras pessoas com unhas e dentes, até que essas vidas se convençam a se estabilizar. É fascinante ler o que sai de você. É também fantástico passar o olho linha após linha sem querer parar. E aos pouquinhos você vai me colando.
VOCÊ é uma mulher EXTRAORDINÁRIA. Nem por um segundo deixa de lutar, de acreditar, de amar.
Tento me guiar pela sua teimosia sempre correta. E eu sigo te rondando, esperando você me chamar pra dizer que me ama.
Fantástica mãe, mulher.
Fantástica.
Tenho muito orgulho de ser sua filha. Tenho muito orgulho em poder te amar de um jeito tão forte assim. E sempre será uma honra poder comentar seus trabalhos fantásticos. Seu jeito de escrever me tira o fôlego, me deixa sem o que dizer. Te disseram que tem lugar para todos, mas você não é só mais uma. Você não é medíocre, com trabalhos medíocres. Você é maravilhosa, com trabalhos emocionantes. Um ser humano completo.
O meu conselho de ex-adolescente-quase-adulta é que você siga o seu coração. E escreva. Até doer, até esvaziar, até murchar. Escreva, porque as lágrimas que eu derramo não caem por coisa pouca e você tem extrema facilidade em derrubá-las de mim. Você as derrama, lágrimas boas, lágrimas doces. Escreva. Até ser incapaz de produzir. Porque você tem toneladas de coisas lindas dentro de você. E eu quero vê-las escritas, dentro de um livro cheio de páginas cheirando a novas.
Porque vale a pena cada palavra que sai da sua cabeça, da sua mão, dos seus braços.
Vale a pena cada pedacinho perdido de coração pelas estradas da vida que passou como um tornado por nós.
E eu te amo até o chão em roda.
ATÉ O CHÃO EM RODA...
"Meu cálice transborda"- e continuo te esperando.
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– Tá vendo porque fico roxa de saudade? É por causa de que vc não é coisa pouca, coisa vã, coisa vazia. Tenho saudade desse universo infinito que se abre, expande, se espalha, avança, alcança. Tenho saudade porque tira o pó das dúvidas, arrasta o que está imóvel, arranha a divindade; eis porque tenho saudade. Você é a prova de que o ser humano pode sempre, eternamente, se superar...
Tô indo... com a garganta muda, o coração em desalinho e a cara marcada de choro... sem falar no soluço amarrotado... tô indo. e... obrigada. Obrigada por ser a minha redenção.
Mamãe
Daqui de Minas.
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– Eu te vejo vindo por cima das montanhas...
Esperando, esperando, esperando...
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Criar.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
O que você faria?
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Anouk
Gosto do curto e do solto, porque dizem tudo a quem precisa entender.
E o que vier de belo na criação, que fique. Que permaneça.
Que chova chá com mel, que deite resfriado, que fique nu sob a janela na madrugada ventania. Que se contraia num susto, que ouça no silêncio interno o barulho do lado de fora.
É o que nunca foi antes.
As fronhas macias cercam os cabelos soltos revoltos como as palavras que se jogam. O lençol combinado, antigo, e por isso melhor que qualquer novidade, escuta o deslize das lágrimas, sente o cheiro salgado de uma ponta de desespero. Testemunha as fungadas da enfermidade, a tosse da rouquidão. E silêncio.
A cadeira preta se esconde num canto, para não ver os olhos se fechando, ao mesmo tempo em que as lágrimas vão secando no caminho entre os olhos e o maxilar. E silêncio. Salgado, quente.
Entra sonho, sai sonho. Sonho bom, sonho pesadelo, sonho vazio. Os braços cruzados, unidos, juntos, jogados, dormentes, inquietos absorvem todo o macio do edredon violeta. Se são dois, se é um só, não há diferença.
A agonia se esvai como vapor d'água.
A pontada de desespero parece nunca ter existido.
O sono chega pesado, mas não consegue se impor.
Porque há o que é mais pesado que o sono.
E o que era lágrima vira roupa fora do corpo, sapato fora do pé.
Um resmungo, um movimento, dois movimentos, um resmungo mais forte e a fome. O cheiro marcante.
As meias ao lado da cama, os chinelos comportados, o quente, o frio, o contraste, preto, branco, os remédios gripais, o leite. O sono, pesando, se impondo, enxendo o quarto de escuro. O gosto, o doce, a boca seca, saliva perdida; líquido.
Abraço.
Dorme.
E quando tudo parece parar, o dia vara a cortina...
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Se...
Se alguém é fosco e não consegue olhar nos olhos de alguém pra dizer o que quer, problema de quem é fosco.
Se alguém é blindado e impede passagem de criancices saudáveis, problema de quem é blindado.
Sigo transparente, continuo olhando no olho, e, se não disser nada a quem deve saber das minhas palavras, nunca diria a mais ninguém. Porque esse é o único sentido da transparência. E o único defeito é que todo mundo acha que me conhece, sem saber que não sabe absolutamente nada.
Me divirto assim, acabei crescendo assim.
Transparente, honesta, sincera, mulher de verdade.
Carrego quilos de felicidade nos ombros.
Se minha infantilidade é sinal de que não cresci para os outros, deixo que pensem assim. Eles não fazem idéia de tudo o que fiz pra chegar aqui. Sofri, lutei, tive uma paciência infinita, agüentei até o último segundo. Abri mão de tanta coisa! Amores, amigos, outros sonhos. E tanto que tentei entrar dentro do meu próprio sonho maior, acabei conseguindo, e foi a partir daí que a sorte começou. A fé tinha vindo antes, a sorte (ou a consequência de que meu caminho é esse) começou a vir em ondas que não partem de todo, mas que cessam um instante apenas para se fortificarem. Parte do que vivi foi muita sorte. Mas ela se deriva da minha fé, a minha fé, que veio tarde e tranformou a minha vida em tudo o que eu queria para aquele momento. A minha fé, que se juntou à minha antiga e imútavel meta, e me concedeu tudo. Todos os meus bons pensamentos, todas as minhas esperanças. Tudo, porque não desisti. Continuei seguindo conforme o plano. Tive vontade de mudar, de correr, de sumir. Mas continuei me focando. Se cresci? Isso não faz a mínima diferença. Estão do meu lado pessoas que aturam os meus contratempos, as minhas chatices e que estão do meu lado apenas por gostarem de estar. Assim como estou do lado delas apenas por gostar de estar. Porque quando existe o verdadeiro carinho, as verdadeiras intenções, ninguém tem que cobrar nada de ninguém, porque já está tudo ali. O suficiente existe sem esforço. Se cresci? Isso realmente não importa. Sigo meu caminho, sigo transparente, sigo honesta, sigo correta. Sigo feliz, sigo atrapalhada, sigo do meu jeito. E se isso não agrada alguém, eu dizia quando era criança uma coisa completamente correta: os incomodados que se retirem. Se estou na minha própria vida, sem bagunçar a vida de ninguém, se estou no meu espaço sem prejudicar ninguém, estou no meu próprio mundo e nele só entra quem quiser entrar. Nele só ficam os fortes o suficiente pra entender todos os meus defeitos enormes que sempre tento melhorar e só ficam aqueles que me conhecem, ou se esforçam para conhecer. Se cresci? Prefiro mil vezes a descontração do que a preocupação. Se isso for sinal de infantilidade, não nego que sou infantil. Se cresci? Se mudei? Mudei a minha rota, entrei no sonho que construí quando era pequena, mas não me esforcei pra crescer. Me esforcei pra realizar o que tinha em mente. Não me esforcei pra mudar. Mudei apenas o que tinha que mudar, que é o modo de tratar as pessoas, o modo de como devo respeitar as pessoas, o modo como devo cuidar e amar de quem está sempre do meu lado. Mudei muitos defeitos que afetavam outras vidas que não fossem a minha e o que não consegui mudar já está a caminho da mudança. Se isso é infantilidade, que seja. Não vou crescer para começar a gritar com meu filho por um desastre qualquer. Não vou crescer para criar rugas de preocupações inventadas, porque as minhas preocupações já existem naturalmente. Não vou crescer para me tornar ranzinza, cansada. Não vou crescer para me invejar da felicidade dos que ainda são crianças. Porque eu posso crescer e continuar brincando, correndo, sorrindo. Que eu saiba, felicidade não foi restrita para os pequenos. E se ser feliz me torna uma criança, uma criança serei. Pelo resto dos meus dias.
Se alguém tem alguma objeção a fazer, que faça para mim.
Porque apesar de ser tão criança, tenho firmeza suficiente pra ter uma conversa franca.
Sou mulher suficiente sem me esforçar. Porque prefiro a espontaneidade.
Ser séria, forte, criança, mulher, homem, louca, avulsa, alheia, inerte, sozinha, companhia, amiga, irmã, mãe, pai, tia, avó, namorada, amante, esposa, filha, musicista, preocupada, atriz, pianista, fraca, franca, de verdade, alegre, chorona, durona, molenga, sortuda, fiel. Quando tiver que ser. Se o mundo quer que eu cresça, ao menos sei que sou livre do crescimento convencional. Cresço da forma que devo crescer, sigo a linha de um mundo diferente.
E se o mundo que não é meu quer que eu cresça... deixa ele querendo...
1,73m já é bastante para mim!
Fiquem em paz!
E cresçam em direção à felicidade, para não correr o risco de regredir.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Toda rotina tem sua beleza
A idéia é a rotina do papel
O céu é a rotina do edifício
O início é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho, é o oposto.
A rotina do jornal é o fato
A celebridade é a rotina do boato
A rotina da mão é o toque
A rotina da garganta, é o rock.
O coração é a rotina da batida
A rotina do equilíbrio é a medida
O vento é a rotina do assobio
A rotina da pele, é o arrepio.
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
Julieta é a rotina do queijo
A rotina da boca, é o desejo.
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza
Toda rotina, tem a sua beleza
Descubra a sua.
http://www.youtube.com/watch?v=j5-EsDQ1Luc
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Vodka
Deixaria o tudo se afastar do nada devagar... bem devagar.
E isso foi há pouco. Muito pouco.
A incrível mudança de um segundo pro outro me trouxe pesar, sonolência, dor. Me trouxe acima de tudo o cansaço interminável. Os correios estão de greve e, de greve, estão as correspondências. De greve, ficou a fome da criança.
De greve, ficou a minha paciência e toda a doçura, o carinho.
De greve ficou a minha sanidade. De greve ficou o respeito.
DE GREVE ficou a tolice, a tolerância e tudo o que ainda me mantinha equilibrada no meio da relação mais [des]equilibrada que podia ter. [Des]equilibrada, porque não sei se é certo assim, se é bom assim, se me satisfaz assim. De greve ficou meu entendimento, mas este já se tinha ido há muito. De greve estão os meus olhos, por não poderem enxergar beleza alguma. De greve está a compreensão, a sensibilidade, paixão, razão, encanto, sensualidade, livro aberto, pensamento. Luz, claridade, reflexão, paz. De greve ficou a minha paz sem o meu consentimento. Mas que de greve esteja. O meu caos interior [exterior] me espera na porta para perguntar se estou bem. Estaria, se o equilíbrio da surpresa se mantivesse. Não existe surpresa... não existe mais nada. Existiria por mim, mas nada cresce aqui dentro se não for regado. Cresceria, se a tolice não tivesse entrado de greve, mas ela também se foi. O que cresce só cresce se é permitido. Eu permito que cresça apenas o que é regado. E tudo porque não ouço, não adivinho, não entendo. Tudo porque não ouço, tudo porque não ouço. Tudo porque não ouço.
Tudo porque não falo. Não falo, mas permaneço.
Permaneço esperando ouvir.
Se não ouço, não há motivo para permanência alguma.
Se não há motivo, por que ficar?
Não enxergo.
Não ouço.
Repetindo, eu sei.
Mas não enxergo, não ouço!
Por que ficar?
Fiquei a procura de um motivo, mas ele nunca chegou.
Ele nunca chegou...
Ele nunca chegou...
Apenas relembrando o tudo e nada. Deixaria que fosse devagar, mas não ouvi motivo. Não enxerguei motivo. Apenas senti o motivo, mas o sentir só é inválido. Vai ser rápido, nem vai doer, prometo.
Não fico.
Não mais.
Amanda Miranda
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Sono.
Pronto, marquei.
.
Senta aqui do lado, pega a coberta e toma um chocolate quente. Espera o dia amanhecer, a água esquentar, o sol ficar alaranjado. Descobre um pensamento, desdobra o travesseiro, agarra o melhor momento. Enxuga o chão molhado, veste roupa seca, bebe suco de pêssego. Apóia o pé na cama, espreguiça em cima da almofada, abraça sem ter nem razão. Desliga esse carro, deixa a criança sorrir, ignora o chefe chato. Descansa sobre penas, esquece as meias aí deitadas no chão mesmo. Sente o cheiro do ventilador, da luz apagada, do sono chegando. Joga água no rosto, escova os dentes, descarrega as energias até sobrar nada. Um absoluto som de nada.
Pousa na comida, lambe os lábios, chama o frio.
Mas que o lado seja meu, que a coberta seja laranja, que o chocolate seja ao leite. Que o dia seja quente, a água gelada e o sol amarelo. Que o pensamento me cubra de silêncio, que o travesseiro seja perto do outro, que o melhor momento seja de olhos fechados. Que o chão molhado seja limpo, que a roupa seca seja antiga, que o suco de pêssego seja roxo. Que o pé seja achatado, a almofada lisa, o abraço puro. O carro lento, a criança pequena, o chefe azul. Que as penas sejam de pássaros, as meias grossas. O ventilador de teto, a luz pálida, o sono forte. Que o rosto acenda os olhos, que os desacelera.
E que o peso vá para o cérebro.
Amanda Miranda
terça-feira, 15 de julho de 2008
Empolgação, é o nome.
Prefiro branco.
A vista embaçou, não sei se foi pela fumaçacigarrocheirofogo, não importa. Uma folha de partitura perdida e afastada das outras partituras fica imóvel sobre a cama. A mochila ronca, a bolsa ressona. O mentos exala o cheiro doceazedo de bala palidamente colorida.
E entre o monitor e a cadeira esburacada pela brasa, fica me observando um casaco vermelho, morno, reconfortante. A noite vem... passa devagar, brigando com o dia claro de vento frio que vem logo em seguida. O anel prateado na mão direita relembra um passado distorcido de esperanças vãs. A esperança que se corrompe no verde ilusório dentro da minha retina. A impressão que tenho é que meus pensamentos estacionam todos nos meus olhos.
O tempo vai passando... o tempo passou. Faz tanto tempo agora.
Meu calendário marca dia 11 de julho, mas tenho a impressão de ser dia 15 hoje. Não que tenha passado rápido. Não que tenha passado realmente. Mas ficou na lembrança o que foi salgado, mesmo que ninguém tenha colocado sal, mesmo que tenham borrifado açúcar sempre. A volta é o que me mantém estranha.
A permanência e a insistência perante o nada é que me mantém calada.
O nada é o que existe atualmente. Não por mim. Não por mim!
Mas o nada é o que vai existir logo. E dessa vez, pelo menos essa vez, será por mim.
Não conto mais nos dedos das mãos e dos pés somados depois multiplicados por três o tempo que passou. O nada ficou no meio, nas laterais, nas saídas e entradas, nas portas do fundo, no branco, no preto, na vigília, no som da água corrente. O nada insistiu no outro nada e ficou assim, quieto no que poderia vir a ser importante, parado no que poderia vir a ser diferente. É diferente, querendo ou não. Mas sendo o que é, não é nada. Nada, absolutamente. Nada de nada estabelecido no nada de lugar nenhum. O nada que fica entre a viagem todash e que, pelo ka, continuaria sendo nada. O nada que eu não gostaria de continuar recebendo e no nada é que eu não gostaria de continuar vivendo, observando devagar o tempo passar indo do nada diretamente para um nada mais profundo, mais doído. O nada que é o que é por simplesmente não ser alguma coisa!
Descrever um nada tão forte assim chega a machucar. Porque de mim o que sai é tudo, o que sai é a repugnância diante de um nada com tanto poder de persuasão. O que transborda é tudo, sm contar com o meu silêncio medroso. Mas de dizer e contar me cansei, de esperar algum tipo de resposta falada perdi a noção da hora, de cantar sem ter imagem perdi a paciência.
O difícil é convencer o meu tudo a sair do nada... tão cheio de nada que o nada é.
De tão real que esse nada me parece deixo o tempo passar, aumentando o tudo, fazendo um rombo no que chamo de iniciativa, engrandecendo minha fé no futuro. Um futuro que vai vir do nada, como todo o vazio que apareceu me olhando nos olhos.
Prefiro deixar o tudo ir embora, se afastar do nada devagar, pra não doer tanto dessa vez.
Pra não doer de jeito nenhum dessa vez.
Amanda Miranda
Agonia [unspoken words]
Aconteceu o fenômeno mais inesperado da minha vida. Declarei com voz alta e clara que sinto falta de física. E pior, matemática. Me recusei a usar a calculadora hoje, quis fazer tudo de cabeça. Não quero dizer que tenho tido sucesso nos meus cálculos, mas estou a ponto de ficar louca com a preguiça e com a lentidão que venho pensando nas coisas. Cada vez mais devagar... Gaguejando cada vez mais, tendo que recomeçar as frases toda vez que abro a boca.
Os meus exercícios de lógica não têm funcionado, sudoku para que te quero?
Os dias de superprodução acabando, os textos regredindo, e vivo reclamando! E pensando na diminuição da inteligência, decidi deixar o ócio... Não quero nem trabalhar o que chamam de ócio criativo. Com toda a calma complexa do meu raciocínio, seria impossível tomar a iniciativa de alguma coisa que tenha a palavra ócio no meio. Eu QUERO estudar. Não aguento mais ler Stephen King. Por mais que seja interessante, novo, cheio de encanto, só me adiciona mais paranóia e, convenhamos, de paranóia já me fartei. E essa é a minha agonia mais ínfima.
A agonia intíma são as palavras não ditas. As minhas, as dos outros. E todas as frases que não fui capaz de completar por pura preguiça de ter que explicar tudo milhões de vezes. Porque SEI que explicar não vou conseguir. E, se conseguisse, não entenderiam. E o meu talento pra argumentos, onde foram parar? No meu Ensino Médio, largados junto com os papéis jogados no lixo, dos dias passados rasgados da minha agenda escolar. Faz tempo que não consigo discutir mais que cinco minutos com alguém. Perco, óbvio. Resignação, inxaço da massa cinzenta. E vêm as emoções tomando conta até dos meus olhos ardendo durante qualquer conversa [pseudo-conversa], e vem raiva e antes que jogue alguma coisa pela janela ou na parede, prefiro parar. Desistir, mesmo. De que adianta?
Os atos que "cometo" por mais burros que pareçam ser, têm um fundamento. E são fundamentos distantes, queridos, ininteligíveis pra quem não os viveu. Dou férias a minha voz, ela merece. Explicar pra quê? E se alguém vai entender, não me importo mais. Basta que eu os conheça e saiba como são. E se entender, vai aceitar? É uma dúvida que não tenho mais. Entendimento e aceitação passaram longe da alma humana. Da mini-cabeça humana. Não é querendo subestimar ninguém, nem querendo me colocar em qualquer tipo de patamar superior, mas... não consigo suportar frases feitas, lógicas e restritas. Pensamentos curtos, imediatos, prontos instantaneamente. Não fui feita para dar respostas "miojo". Um dia quis ser assim, mas vi que não vale a pena. E pensar num infinito de possibilidades, fantásticas, engraçadas, podres, é o que me diverte. O ruim é não poder compartilhar. E ficar quieta só pensando, pensando, pensando... E rindo, claro. Imagens como as que vêm na minha cabeça merecem ser bem aplaudidas.
E eu aqui arranjando uma desculpa pra minha burrice...
Vai me desculpar, mas a ignorância tomou conta de mim.
Por isso me calo.
E me deito.
E durmo.
Pelo menos sonhando não sinto aquela coceira na língua empurrando a vontade de falar.
Por isso não escrevo.
E reclamo.
E chamo a minha inteligência de volta.
Mesmo sabendo que ninguém vai confiar nela.
Se é que algum dia ela realmente existiu.
Talvez o que tenha existido foi só a vontade.
É de vontade que o mundo é feito, não é?
Me abstenho de qualquer comentário a mais.
Fiquei com preguiça, claro.
Amanda Miranda
quarta-feira, 9 de julho de 2008
17 de fevereiro de 2008
Sabe aqueles lápis verdes ligeiramente moles, que quando era criança ficava dobrando pra me gabar e dizer “oi, eu tenho um lápis mole”? Pois é, agora fico lembrando do tanto que ele era ruim e qual era exatamente a utilidade de ter um lápis flexível. Ouvi dizer que é para que o grafite não se quebrasse tão facilmente. Mas de que adianta, se o lápis é horrendamente terrível pra escrever?
As pessoas morreram.
Elas podem estar andando, comendo e dormindo com outras pessoas.
Mas não existe mais nada dentro delas que declare um estado de vida estável.
Elas morreram por dentro.
Amanda Miranda
Erro e Liberdade
Quero criar. Não quero ser um plágio, não quero passar a minha vida a limpo. E também acho um saco escrever nas últimas páginas do caderno. É quase... insuportável.
O que acontece com o último pedaço de folha de papel em um caderno é o que acontece com a vida. O final vem chegando e a vida e a folha vão ficando sem apoio. A morte é uma benção e não um castigo. Quem agüentaria viver na eternidade? Talvez vivamos eternamente, mas o esquecimento visita as vidas futuras, fazendo-as esquecer das vidas passadas. Talvez seja assim; nunca sei bem em quê acreditar. Morrer pode ser bom, para que finalmente saibamos o que existe do outro lado, para saber se a nossa vida era o lado bom ou o lado ruim.
Não quero me conter. Queria poder falar palavrão, xingar e bater. Caso contrário não seria livre, mas se eu não me contivesse, seria escrava das minhas ações impensadas. Queria poder rir a qualquer hora e dizer que não gostei da comida. Caso contrário não seria livre, mas se eu dissesse tudo a qualquer hora e pra qualquer pessoa, seria escrava da minha frescura e da indiscrição. E é exatamente aí que chego à conclusão de que não existe a verdadeira liberdade. Existem padrões por todos os lados e somos ilhas cercadas não por água, mas por um poder muito maior, mais antigo e mais experiente do que nós, simples mini-pessoas tentando ser grandes pessoas capazes de cuidar do próprio nariz: o costume.
“[...] tinha descoberto, como muitos antes dele, que só o primeiro palavrão soa realmente mal; depois não há nada tão capaz de dar vazão às sensações de uma pessoa.” – Trecho do 4º volume do romance “A Torre Negra” (Mago e Vidro), de Stephen King. E não há nada mais certo que isso.
O que eu escrevo não tem fim. Ao afirmarmos o correto, estaremos negando o errado. Negar algo é uma forma de descriminação e preconceito. O errado tem suas razões pra existir. Não o nego. Nem puno. Deixo que ele exista dentro de mim como a própria verdade. O erro gruda e eu aceito. Não me faz mal.
Amanda Miranda
Saltos a 17°C
Queria ser artista.
Daqueles naturais, de alma e com raça. O pensamento desce pros meus olhos, eu sinto o cheiro das palavras ditas. A arte quase me enforca e sufoca, mas continua seguindo pela minha clavícula, massageia o meu ombro, eriça os pêlos do meu braço direito (quem dera fosse o esquerdo!) pontua os meus dedos. A ponta do dedo que segura o lápis me faz delirar na imensidão do dicionário imaginário: aquele que está dentro de mim e que paira no ar de vez em quando.
Mas um caminho tão longo, olhos, boca, pescoço, ombro, braço, mão, faz com que o que eu penso não seja o mesmo que invento. E muita coisa se perde. No tempo, no vento e me descontento com o resto. Não me satisfaço. Não me agrada e não me compensa o café quente, doce, escuro como a cor do que se perdeu.
E o que se perde é um pedaço de espírito. Não me dou bem com o papel. Ele segura o lápis. Retarda ainda mais o caminho da arte, que carrega em si as palavras inaudíveis. Não me dou bem também com as pessoas. Não sei analisar movimento, pensamento, sentimento. MENTA!
Queria ser artista.
De todas as formas, jeitos, fatores: de todos os mundos, do frio, do quente, da morna agonia de estar vivo. Porque "para morrer basta estar vivo", mesmo! Morrer deve ser fácil, muitas vezes doloroso, ver a morte é raro e poderia ser chamado de privilégio. Mas privilégio mesmo é sentir a vida como ela é. E sofrer, porque ela não é bonita. Para mim, talvez seja, mas para os meus iguais, irmãos, almas gêmeas de mesma cor interior, não. Queria ser a dor. Assim, me mataria sem hesitar. Queria ser a morte. E todo mundo morreria como quisesse. Sem ânsia, sem medo, sem deserto.
Queria ser a palavra. E saberia sempre o que dizer. Queria ser a folha e, sozinha, me desenharia círculos de carinho, flores de perfume cítrico, cheiro de pão-de-queijo fresco. Queria ser a pele, delicada de dama, ou rasgada da seca, ou dura do trabalho. Queria ser a fome que atacou aqueles meninos cansados que certa vez tomaram o mesmo ônibus que eu. Mas, acima de tudo, queria ser o canto. Para fazer as notas notarem as bocas dos que querem gritar. E poderia ser tudo o que eu quisesse, se o mundo não tivesse se tornado um imenso destruidor de fantasias.
As minhas preocupações não são vãs. Vivemos num mundo doente, doença contagiosa. E é por isso que eu queria ser artista. Porque a arte é a cura. A arte é o início da beleza, a arte é o peito aberto, as unhas sujas, a plena liderança da vida. E sendo artista eu seria tudo. Sendo tudo, talvez pudesse fazer com que todos também fossem tudo. Todos fariam parte do meu mundo só, que deixaria de ser só se tivesse todo mundo. Cada mundo sozinho seria um mundo inteiro de histórias. Um fazendo companhia ao outro, o ímpar não existiria. Não existiria sobra ou falta.
Mas querer ser tudo é querer demais.
Quero ser só artista... quero ser só a sua solidão... porque aí você teria a mim. E eu teria a você. Ainda bem que tenho a sua dor, sinto a sua lágrima quente. Ainda bem que lhe vejo espernear, mesmo na sombra da sua divina comédia. Ainda bem que lhe vejo, porque a artista é você... Que faz a sua linha da vida ser o que você é. E eu sou como você. A nossa arte é fazer da solidão um livro inteiro. O nosso tudo é um abraço rápido, mas verdadeiro. O nosso mundo é cada um no seu canto, pensando, pensando, pensando no cheiro...
E de que vale ser coerente nas palavras?
A nossa arte é o nosso amor.
Os nossos problemas são gigantes, porque nossa vida não pode ser resumida num papel de valor calculável. A nossa carne é viva de força e gana.
Queria ser artista.
Para apagar a matrix que corrói o peito silenciosamente...
Queria ser artista.
Para ser capaz de não me conter.
Queria ser artista.
Para poder lhe mostrar em gestos, palavras, todas as formas de expressão que o nosso mundo é só nosso. A nossa aliança ultrapassa os estigmas, os sinais, a troposfera. E para dizer que esse tudo, tão enrolado em tantas palavras, se resume na sua grandeza sem medida. O tudo é seu. Você me dá. O tudo é nosso. E ninguém tasca. Queria ser artista...
Para estender a mão e dizer que nada disso faz sentido porque sou artista!
Tenho no coração a ausência do preconceito.
Tenho nas pernas a vontade de correr e continuar com pressa.
Tenho nos olhos o brilho...
E na garganta, a voz potente de um cantor lírico no auge da sua força.
Queria ser artista e só artista. O mundo seria todo meu, se fosse...
Amanda Miranda
A Casa Gelada
Um dia frio.
Mas está quente aqui dentro...
Quente nos olhos, quente nas mãos. A saliva caminha, quente, pelos caminhos da boca. O vento gélido uiva e briga com as janelas do meu quarto. A casa gelada, o chão gelado, as paredes quietas. Mas está quente aqui dentro. Quente no útero, nas vísceras, no fígado, nas orelhas. Quente no coração. Na porta cinza do andar debaixo, depois de descer as escadas de madeira, leio a frase num símbolo vermelho dos escoteiros: "Aqui vive um Sênior". Ainda não fazia idéia do que era um Sênior. Com tão pouca idade ainda não tinha nem a ruim noção de que acordava descabelada. Até gostava... era a minha marca dentro da casa gelada. Eu era gordinha, branquinha, dos cabelos castanho-escuro, inquieta, inquieta, inquieta e quente, para sempre quente.
Era o quarto dos meus irmãos inteiros; nunca ousei chamá-los de meio-irmãos. Eles eram grandes de espírito, altos, criativos, inteligentes, inteiros, meus e irmãos. Nunca meio, nunca medíocres. Sempre inteiros de sangue, de alma, de bondade. A parede branca rabiscada organizadamente (e como seria um rabisco organizado? Não sei, mas gostava), cheia de desenhos, cores, letras fortes de personalidade.
O dia continua frio... Continuo andando pela casa, encontro minha mãe e minha outra mãe, sentadas, como sempre sorridentes e com os olhos cheios de cumplicidade. As duas, lindas, heroínas da minha vida... Com algumas partes do corpo frias, mas com a essência quente. Vontade quente, suspiro quente, crença quente.
O meu apetite, ah... Era o mais quente de todos. Quente ansioso e bem trabalhado. Comida nunca faltou, muito pelo contrário. A mesa sempre farta de tudo o que é mais gostoso e melhor para o crescimento, para a saúde.
Eu era a última criança da casa. A última que ainda tinha vontade de brincar, de correr. Tinha espírito de garoto; as minhas bonecas se rasgavam, nunca soube como cuidá-las. Gostava dos carrinhos de controle remoto, dos desenhos animados de ação. E amava, acima de tudo, a minha família. Amo, acima de tudo, a minha família.
O dia continuava frio...
Eu sentia um vazio, que durante toda a minha vida me acompanhou. Mas era um vazio cheio, como o meu frio quente, como a minha dor latente, como o meu sonhar vago e certo. E aquele frio contínuo percorreu todo o dia sem me deixar sair para brincar. Vontade de me enfiar debaixo das cobertas ou das "asas" da minha mãe, como aquele dia em que a família inteira se aninhou no quarto dos meus pais. Eles ainda viviam juntos e felizes. Mas era um dia frio também.
E todos os meus dias são frios. Exceto aqueles em que tudo vai bem.
Raros.
Vantajosos.
Quentes...
Amanda Miranda
10 de junho de 2007
Você espera por mim.
Não correspondo a nenhuma das suas expectativas.
O que diabos está acontecendo?
Nada demais, apenas um muro sendo construído ao redor de um tipo de sentido que não foi numerado.
Ai, que vontade de chorar...
É sempre esse reboliço de sentimentos, passando e retornando, indo e vindo, saltando e rindo da minha cara?
Sempre escrevo.
Mas nunca mando.
É um clichê horroroso que faz a gente se desmanchar em lágrimas por saber que não pode dizer o que sente pra ninguém. E a vida é um pique-esconde de sentimentos, mas quem ganha é o pego. Ele é o único que pode ver a todos, mesmo quando estes passam por cima dele e alcançam o pique primeiro. Ser diferente... É ser igual. Hoje, diferente todo mundo é. Sou apenas eu mesma, porque todo mundo virou um poço de mentiras.
O domingo mais estranho que já tive.
Eu penso em inglês! Sabe quando todos os seus sonhos e pesadelos vêm pra você num só momento? Não tem como. Quer dizer, tem, porque é o que está acontecendo comigo agora. Borbulha, cresce, estoura e me mata. Que vontade de chorar...
Busco um amor na vida.
Amanda Miranda
17 de dezembro de 2007
As folhas traem. Não são capazes de guardar os segredos mais tenebrosos. Não quero dizer que o que escrevo são fatos consumados, mas é fato que escrevo o que imagino. E, nem sempre o que imagino pode ser dito ou lido. Ou imaginado. O que imagino é inadequado, antiquado, novo, velho, chato. É vivo demais para ser aceito.
Não escrevo.
A música diz que está caindo dentro da noite. É uma metáfora interessante para substituir a morte. Cair dentro da noite... Eufemismo ou metáfora? Dependendo do ponto de vista pode-se dizer que é até aquela figura de linguagem que eu esqueci o nome que caracteriza o que é exagerado ou dramático. Hipérbole, talvez. Faz tempo... muito tempo.
Não interessa. Cair dentro da noite, da escuridão, do mar de nuvens de algodão preto. Às vezes me pego imaginando o gosto de uma nuvem e a cor do céu do próprio céu. Me sinto desejando saber a textura do chão em que piso ou a temperatura da próxima atmosfera em que devo pairar.
O meu céu é o som da água correndo. Apenas águas limpas com margens de grama. Pedras brancas e negras se destacando ao fundo da planície de gelo transparente. O brilho do pólen das flores, ou das fadas. A lembrança do espirro morto. O cheiro da terra incapaz de sujar a pele macia e carente de marcas ou cicatrizes.
O meu céu é cheiro de mofo da biblioteca mais antiga abrigando todos os registros literários de todos os tempos. E ler o infinito da beleza maior. E ouvir o compasso das músicas mais belas, onde nem o compasso pode ser medido ou contado ou pulsado. Posso desejar a ausência eterna dos insetos?
A verdade é que me impeço de redigir o que penso. O que penso qualquer um é incapaz de imaginar. Prefiro misturar lembranças e criar uma felicidade imaginada. Não quero críticas. Quero ações. Mas quem é capaz de agir antes de criticar?
Meu destino não foi exatamente escrito. Foi marcado a fogo na minha alma para que eu não caísse. A marca pode virar uma dolorosa cicatriz psicológica, com direito a lágrimas de sangue e o diabo de quatro esperando uma chicotada gostosamente sado-masoquista da minha mão. Quero ser delicada, então vou dizer que amar é preciso. AMAR é preciso em todos os sentidos.
Boa noite, boa sorte.
Múltiplas personalidades. Meu objetivo não é manter linhas coerentes de pensamento. Meu objetivo é pura e simplesmente PENSAR. Pense!
Amanda Miranda
“Feliz é o destino da inocente vestal.
Esquecendo o mundo e por ele sendo esquecida
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança”
Alexander Pope
Prólogo
22h57
Muito tempo se passou desde que escrevi a última vez. É incrível como os pensamentos vão sendo deixados para trás. Se eu não os registrasse nunca teria sentido o cheiro deles outra vez. Aquele cheiro de madeira envelhecida misturada com laranja e bolinhas de chocolate ao leite. É o cheiro da lembrança, que sinto a necessidade de mostrar e jogar para fora de mim.
Os pensamentos lançam-se na minha mente como se eu fosse uma máquina de idéias loucas. Bom... Talvez seja. Mas a idéia dos fragmentos nasceu de uma vontade imensa de escrever sem ter que seguir uma linha de raciocínio suficientemente segura para se tornar um livro. Muitos dos fragmentos mentais escritos aqui vieram em ocasiões que seria embaraçoso citar. Mas foram pensamentos limpos, frescos, talvez cheios de preconceitos e “olha o jeito como eu fui criada para ter um pensamento desse tipo”, mas honestos e, acredito eu, úteis. Ou não. São apenas opiniões, casos, histórias, teorias certamente furadas e, acreditem, uma mente confusa de uma humana não-adolescente-quase-adulta.
Não quero julgamentos mesmo sabendo que eles existirão. Só quero compartilhar. São apenas pulos e palavras. Apenas formas abstratas de um casaco vermelho preferido que ganhei no meu primeiro natal dividido.
Duas famílias. Foi daí que começou toda a minha vontade por coisas erradas. Pensava que fazer coisas erradas fosse me tornar mais humana. Mas já sou humana demais e os erros acontecem sem ter que provocá-los. Então, erro, com orgulho e esperando os meus fragmentos confusos chegarem prontos para serem postos à prova.
Assim nasceu o meu jeito. Nenhuma linha, apenas a vaga programação de um futuro que ainda está por vir. Afinal, ainda não escrevi todos os fragmentos e não espero que eles acabem tão cedo.
Amanda Miranda
quinta-feira, 6 de março de 2008
Portanto, posso dizer: a vida é foda às vezes.
A minha vontade agora é de entrar em um profundo estado de depressão perpétua e de usar a palavra 'reverenciar' no imperativo.
Às vezes dá uma vontade de morrer.
Não é vontade de me matar não. É vontade de morrer mesmo. Chega alguém e 'pow' acaba com tudo tão simples e fácil. Querer morrer é sinal de fraqueza.
É por isso que eu venho tentando ser forte a cada dia, porque afinal a minha vida é um luxo!
HAHA
Cuidem-se, pessoas.
E ouçam The Kooks.
Amanda Miranda
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
"I'm broke but I'm happy
I'm poor but I'm kind
I'm short but I'm healthy
I'm high but I'm grounded
I'm sane but I'm overwhelmed
I'm lost but I'm hopeful
I feel drunk but I'm sober
I'm young and I'm underpaid
I'm tired but I'm working
I care but I'm restless
I'm here but I'm really gone
I'm wrong and I'm sorry
I'm free but I'm focused
I'm green but I'm wise
I'm hard but I'm friendly
I'm sad but I'm laughing
I'm brave but I'm chicken shit
I'm sick but I'm pretty
And what it all boils down to
Is that no one's really got it figured out just yet
I've got one hand in my pocket
And the other one is playing the piano"
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Blog!
É engraçado o que esse blog me faz sentir. Eu venho aqui com a intenção de escrever outras coisas. Coisas mais interessantes do que o meu doce cotidiano insuportável. Mas eu sempre tenho que comentar o que eu ando fazendo, lendo, ouvindo. Isso é uma das coisas que me irrita. Queria poder sentir algo mais do que essa simples idéia de 'hoje eu acordei, escovei os dentes e fui dormir de novo".
Sei lá.
Às vezes eu quero mais é que tudo exploda. Só que HOJE eu quero que dê certo. Quero sentir o peso de ver caras novas e de ser eu mesma em qualquer situação. Hoje eu mudei. Pra melhor. Pelo menos eu me sinto melhor assim.
Quero me sentir cada vez mais forte a cada dia que passar. E fazer do meu doce cotidiano insuportável um cotidiano intensamente doce e só doce.
Amanda Miranda
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Baby
Tentar expressar a minha viagem em três palavras antes de uma vírgula, sem alterar o sentido.
Pão de queijo, café com biscoito, er.. Ai. Não dou conta. Vai no de sempre mesmo! Cavalgada, laranja, manga, primaiada reunida, cerveja e música caipira, opa, caipirinhas, família, muito frango, lama, chuva, sol, secura, roça, boi. Ah... vai ser um sonho.
Sem ironias.
Afinal, eu vou deitar e ler muito.
Amanda Miranda
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
30 de Janeiro
Ainda estou cansada. É provável que eu fique cansada até dia 15 de fevereiro.
Não quero escrever nem pensar hoje. Quero curtir a visão do meu quarto, deitar na cama e ser a chuva que cai no terraço bem agora. Aproveitar o silêncio. Aproveitar o próprio cansaço. E que esse cansaço vire preguiça amanhã...
Por falar em amanhã, amanhã é dia de folga!
Amanda Miranda
sábado, 26 de janeiro de 2008
Tenho trabalhado. Trabalhado muito. De manhã, de tarde e de noite. Dormir tem sido raro e difícil. Eu não sou nenhuma guerreira vicking, mas eu chego lá. Não se alcança o objetivo se não houver esforço; não é isso que sempre dizem? Um clichê válido, até.
Mas além de trabalhar, tenho ficado com raiva. Raiva das pessoas que se dizem melhores do que são. Não digo no sentido de 'ah, eu escrevo fodonamente bem'. Não. Nada disso. Digo no sentido de pessoas para pessoas. Elas não são melhores com as outras, mas se dizem boas. E isso me irrita.
Tem bastante coisa que me irrita. Mas eu quero falar do que eu gosto.
Mas o legal é adivinhar o que os outros gostam...
Por enquanto eu fico sentada no azul, esperando.
"Foi... o amor se foi perdido. Foi tão distraído que nem me avisou. Foi... o amor se foi calado, tão desesperado que me machucou."
Eu não sabia amar.
Não conseguia.
Ainda não consigo, mas isso não significa que eu não consiga daqui a dois segundos.
E que amar não seja uma efemeridade, como sempre achei que fosse. Como sempre vi que era. Passou. Sentou-se e não se moveu mais.
Amanda Miranda
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
esculpindo o momento que marcou.
ladrilhando a estrada que passou ligeiro sem se despedir.
compensando as perdas dos erros, enfim.
afugentando cada lágrima, cada pesar.
alargando cada fenda da sinceridade.
abrindo todo e qualquer olhar.
sem nada dizer, além da saudade.
por vezes se passam caminhos longos e infindáveis.
daqueles que não têm saída.
daqueles que se percorre até o fim da vida.
descobrindo o pensar. afinando o dizer.
afirmando o dito anteriormente.
somando o que de mal veio para o bem.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Amanda Miranda